26 de junho de 2022

Cadê a Lívia?

Lembra daquela conversa que tivemos antes de você partir? Eu me recordo como se fosse ontem que você disse, com um choro breve e contido, que nunca me esqueceria. Mesmo se eu voltasse a usar aquela minha camisa xadrez vermelha e preta que você odiava (e eu que me achava tão bonito com ela…). Esse dia foi triste, um martírio, mas nos prometemos que não iríamos nos esquecer. E promessas feitas com os dedos mindinhos entrelaçados são sempre coisa séria. Muito séria.

Na época, tivemos que nos separar, éramos diferentes, vivíamos momentos diferentes, pelo menos era o que dizíamos. O tempo passou e muita coisa mudou, emagreci um pouquinho, minha mãe está mais doente, e meus avós já partiram para outro lugar sobre o qual ainda não tenho opinião como deve ser, mas espero que seja especial. Eles gostavam muito de você. Estava pensando agora que, depois de você, namorei outras mulheres, e imagino que você também. Não necessariamente com mulheres, claro (e se for, qual o problema?).

Acabei lembrando que minha avó, nos últimos anos em que passamos cuidando dela, sempre achava que todas as namoradas que estavam comigo eram sempre você. “Cadê a Lívia?”, perguntava ela. E eu, sadicamente, adorava, mesmo que por uma obviedade tivesse que responder: “Vó, essa é a Fulana!”. Eu ficava sem reação, pedia desculpas para a Fulana, ríamos um pouco da situação e, minutos depois, no silêncio dos meus pensamentos, quem me perguntava era eu: Cadê a Lívia?. Nunca soube responder.

Tenho tantas lembranças de você, dos seus brincos delicados, das suas roupas quando íamos ao cinema, do seu vestido quando foi àquela formatura comigo, e da vergonha que senti quando perguntei se você gostaria de se arrumar aqui em casa. Da maneira como você corria, charmosa de tão desengonçada, quando íamos juntos ao parque, das fotos de comidas aleatórias que me enviava durante a tarde, e da maneira linda com que você falava dos seus sonhos. Era tudo tão seu, e tão nosso! Dos seus tênis de sola baixa, e de como eu adorava quando você os calçava, dos seus óculos que só eram usados quando necessário, do seu riso nervoso quando era elogiada, dos seus beijos de emergência quando as palavras brincavam de sumir, da sua vontade eterna de se aninhar no meu peito enquanto o tempo voava quando estávamos em frente à sua casa, dentro do carro, nos despedindo.

Você se lembra quando busquei você na aula de inglês pela primeira vez? E quando, aqui em casa, tentei fazer a melhor caipirinha do mundo só para tentar impressionar e, obviamente, não consegui? E quando dividi todo o meu mundo, o meu coração e a minha família com você? Espero que se lembre… eu me lembro tanto! Dos seus sonhos, das suas pequenas doçuras, que para você eram simples, mas que para mim eram um novo mundo. Acredite: dos seus detalhes eu fiz várias coleções, e isso a gente não compra por aí, nem troca por alguns beijos e abraços na esquina.

E eu ainda escrevo meus textos de domingo, ando pela casa de samba-canção e sem camisa, e tenho várias meias coloridas que guardei ao longo do tempo. Ainda tenho as cartinhas que você me enviou e todos aqueles brinquedinhos que você insistia em pegar no McDonald’s quando íamos nas madrugadas em que você acordava, repentinamente, com fome, mas nunca sabia do quê.

Não tenho mais seu número, não acho você nas redes sociais – você nunca gostou –, e quando passei na sua casa, mentindo para mim que era o melhor caminho para chegar ao trabalho, disseram que você não morava mais lá. Não sei muito bem o que fazer, nem se haverá reciprocidade no que estou escrevendo, mas como eu poderia dizer adeus ao que sinto? Não seria justo com nossa promessa. Estou com saudades e não sei como achar você. Espero que leia meu blog, porque se você tivesse um eu leria. Juro. Difícil seria só não se perguntar: Cadê a Lívia?

12 de junho de 2022

Quem realmente irá te entender?

Existem tristezas, dúvidas e desafetos que somente nós conseguimos mensurar; o quanto ainda nos ferem e o quão internamente vastos são só a gente sabe. Dividir com os outros o que realmente sentimos é de suma importância para democratizar as nossas inquietações, mas nem sempre é o melhor caminho para quem busca se sentir seguro com as próprias (turbulentas) decisões. A gente pode compartilhar as insistentes angústias que nos habitam, porém, mais importante do que dividir os nossos sentimentos com os outros é saber quem de fato irá ouvi-los com a calmaria do coração e não com a ansiedade dos julgamentos morais.

Quando estou presente em algum evento e me disponho a ouvir algumas histórias das pessoas que ali estão, sei que sou somente um receptor e não um emissor de opiniões, por mais que elas acreditem que não, que realmente precisam ouvir a minha opinião sobre aquela determinada situação. A verdade é que quando essas pessoas me contam as suas histórias, elas não querem ouvir uma resposta minha ou um conselho com o propósito de alívio imediato – que, honestamente, muitas vezes nem existe –, elas só querem ser ouvidas. Elas querem dizer o que sentem e que alguém as compreenda – e compreensão nem sempre é seguida de palavras. Enquanto elas contam seus relatos, deixo as suas palavras fluírem e ganharem força na boca delas. Permito-me ser inundado de carinho pela história e, na magia do silêncio, me expresso somente com os olhos: “pode falar, pode continuar, não se julgue, aqui você pode ser quem você quiser…”

Quando o assunto é uma dor guardada na gaveta do coração, a gente precisa manusear com cuidado, pois nem todos saberão lidar com as nossas intimidades com o respeito que elas merecem. Eles podem até ouvir, mas irão analisá-las pelas próprias experiências, e não pelo contexto original da história. E colocar a sua realidade como parâmetro é sempre uma enorme injustiça. O que os outros têm a dizer sobre os nossos sentimentos pode ser único e especial, mas necessita de muita consciência compreensão. Talvez seja isso que muitos chamam de empatia.

Precisamos dizer o que sentimos e, quando necessário, nos emocionar com isso, mas definitivamente não precisamos dividir as nossas melancolias com quem não é capaz de enxergar a profundidade das nossas emoções e reverenciá-las. Isso seria um pecado. Porque quando damos o nosso voto de confiança para quem não o merece, corremos o risco de perder a fé nas pessoas como um todo. Portanto, fale! Nunca deixe de falar e de se abrir! Mas saiba bem com quem dividir as tuas verdades, pois nem todos têm o interesse sincero e as condições necessárias para escutar as histórias que teu coração anseia em contar.

5 de junho de 2022

Eu não sacrificaria a minha paz para alimentar o meu ego

Existem coisas maravilhosas na vida, como ter cachorros peludos, viajar sem destino e comer doces que sujam os dedos, mas, honestamente, não acredito que exista nada melhor e mais acolhedor do que dormir com a consciência tranquila. Dormir na posição maluca que você costuma dormir, seja ela qual for, e acordar sentindo que teve uma ótima noite de sono é uma sensação impagável! Não há dinheiro, noites de sexo com pessoas que já transitaram em capas de revistas ou jatinhos adesivados com o seu nome que supram a alegria que é dormir com paz. (Sim, existem pessoas que adesivam jatinhos com o próprio nome.)

Tenho muitas conquistas silenciosas. Na verdade, as minhas maiores conquistas só eu sei. Elas são grandes para mim, mas pequenas para o mundo externo. É uma horta que fiz lá em casa; um sentimento que eu tinha pavor que reaparecesse com o qual, finalmente, aprendi a lidar; um mimo que consegui dar para a minha mãe de aniversário; um impulso que controlei em um momento importante da minha vida; uma parte do livro que demorei muito para terminar, mas consegui deixar do jeito que eu gostaria… Essas são algumas das pequenas grandes conquistas que guardo comigo e das quais me orgulho.

Acontece que tenho um apreço enorme por paz e equilíbrio, por gestos simples e espontâneos, por coisas que meu dinheiro pode comprar – sem me endividar até o pescoço – , por mais simples que sejam. Gostar de coisas verdadeiras e suas é um grande passo para o amor próprio. Às vezes, sentado na varanda da minha casa e ouvindo o barulho único da chuva, fico pensando como é bom ter saúde. Logo após filosofar sobre a dádiva da saúde, penso como é bom ter um animal de estimação, como é bom tomar sorvete de casquinha no calor; caminhar pela cidade ouvindo música; tomar um café da manhã cedinho, com direito a pão com manteiga, ovos e um café quente, feito na hora; dar um beijo escondido no estacionamento do trabalho em quem você está gostando… A felicidade genuína é fruto das coisas simples.

Observo tantas pessoas presas ao material, ao estético, à vaidade, preocupadas com a bandeira do cartão de crédito e com a logomarca dos sapatos, com os seguidores nas redes sociais e com o tamanho da televisão da sala de estar. Não que gastar o nosso dinheiro como bem entendemos ou desejar tudo isso seja repreensível – não é! – mas talvez seja interessante questionar se, no fundo, queremos isso realmente por nós ou por mera aprovação alheia. E, um dia, toda essa energia gasta em suprir as expectativas dos outros pode não te dar como retorno a autoestima e a companhia sincera que você acha que garantiu.

Compre o que você quiser, mas não sacrifique a sua saúde mental e financeira como se isso fosse um passo necessário para o seu bem-estar. Faça o procedimento estético que desejar, mas nunca deixe de compreender e admirar a beleza que já é sua. Coloque na internet as fotos que quiser, mas não deixe de viver o presente, com a entrega e a verdade que aquele momento pede. Faça o que te der vontade, mas não deixe de refletir sobre quem você é de verdade. E saiba que sacrificar a paz para alimentar o ego costuma ser um péssimo negócio. Vai por mim.

22 de maio de 2022

Preciso aprender a morrer por mim

Sem saber o que o amanhã me reserva, o agora me atropela. Caminho pelas ruas da cidade com todas as emoções dentro de mim, batalhando por um lugar ao sol. E com um aperto descomunal no peito, suplico por alívio. Por que o sofrimento insiste em me habitar se já pedi tanto para ele sair e encontrar uma nova morada?

Não conheço todas as torturas medievais, mas esta me parece a mais sádica. Não há remédio que a alivia.

Mantenho meus olhos abertos sempre que possível, pois não quero cair na fatalidade de fechá-los e, acidentalmente, sonhar com o que já passou. Muitas vezes sinto que vivi este amor sozinho. E mesmo não encontrando explicações, sigo questionando. Por que estou sendo obrigado a me distanciar da coisa mais bonita que me aconteceu?

De todos os silêncios que já ouvi, este é o mais ensurdecedor. Ninguém responde.

A verdade que é a saudade brinca de doer e, injustamente, tira para dançar quem nunca ensaiou o adeus. Ela é uma lembrança forte de que houve amor e, rodopiando sem trégua, transporta a alma para um passado bonito, mas cada vez mais distante.

Sentir saudade é perceber que alguém deixou em nós mais de si do que poderíamos suportar.

O amor que sinto por você se instalou carinhosamente em algum lugar do peito, e por infelicidade, não consigo achá-lo para arrancá-lo de mim. E toda vez que, com medo do que irei encontrar, me aproximo, lembro de todas histórias que contei para te fazer feliz.

Era uma vez. Felizes para sempre. Eu e você. Você e eu. E agora, como vai ser?

Se confiei tanto no amor do outro, por qual motivo não confiarei na minha força de me amar? Morro de saudade como morri de amor.

Mas, desta vez, vou aprender a morrer por mim e não pelo outro.

15 de maio de 2022

É mais que amor, é cumplicidade

Sempre considerei que um bom relacionamento é aquele em que as duas pessoas se completam ao máximo. Namoro tem que ser grudado, coisa de pele, de toque, de cheiro, dois em um, mas, acima de tudo, tem que ter cumplicidade e confiança.

As relações duradouras dependem de cumplicidade, e cumplicidade é algo que se conquista, um estado de entrega e devoção. Ela acontece quando dois seres caminham juntos e misturados em busca de algo que dê à vida um pouco mais de sentido. Parceiros de algo incompreensível para quem está de fora. Esse talvez seja o grande diferencial de viver em cumplicidade. É um viver dois em um, dois que se somam para se tornar quase imbatíveis nas questões cotidianas e que nem sempre são entendidos por quem os cerca. É quase um isolamento no qual um se recarrega com a energia do outro. É um mais um que resulta em mais do que dois. Porque existe a vida de cada um e existe uma terceira vida que nasce da soma das duas, muito maior, muito mais abrangente, muito mais bonita e invejável.

Sim, esse tipo de relação gera inveja, mau agouro. Muita gente almeja e não alcança uma relação assim, e aí começam as críticas, as falsidades, tudo para tentar romper o vínculo tão raro e desejado que é a cumplicidade entre dois seres.

Existe cumplicidade também nas amizades. Aliás, não é difícil encontrar relações de amizade assim. São relações entre pessoas que são confidentes, que guardam segredos íntimos, que dividem sentimentos profundos – algo que beira o inexplicável. É mais que amor, é cumplicidade.

A cumplicidade é, enfim, uma teia que une pontos obscuros da alma de um com pontos brilhantes da alma do outro. Ela cresce quando há um ambiente propício; a sinceridade é o oxigênio que ela precisa para respirar e se propagar. A cumplicidade torna seus hospedeiros pessoas mais fortes e felizes, pois têm na outra parte algo rico e digno de orgulho.

Se você é capaz de ser cúmplice de alguém, parabéns! Se não, exercite a cumplicidade. Permita que ela se entremeie na sua alma e nas suas atitudes e, principalmente, reconheça quem ao seu redor merece receber tal dádiva.

1 de maio de 2022

O dia que aprendi a dizer “não”

Durante boa parte da minha vida, um dos meus maiores medos – não vou entrar em detalhes sobre os outros, isso pode ser constrangedor – foi dizer “não” para outras pessoas. Por causa de uma insistente necessidade de ser aceito, benquisto e querido, eu jogava minhas prioridades para escanteio e fazia malabares com os ponteiros do relógio para atender às necessidades de quem – depois eu descobriria – pouco se importava comigo. Para piorar, nas poucas vezes em que conseguia dizer “não” a situações que certamente não me fariam bem, eu acabava tomado por questionamentos retóricos, até um certo peso na consciência, como se eu não tivesse feito a coisa certa. Foi uma época triste, de grande desperdício de energia, mental e física.

Até o dia em que, depois de acudir, amparar e sorrir para pessoas que nunca me sorriam de volta, resolvi me escolher como porto seguro para mim mesmo.

Aprendi a pensar no que de fato é importante para mim, me colocar em primeiro lugar. O que significa não dizer “sim” quando quero dizer “não” apenas para agradar aos outros, respeitar o meu limite e não fazer nada que me fira.

Não que eu ache que devemos deixar de estender a nossa mão para quem nos pede algo, até porque isso não seria uma atitude honesta com quem somos; só precisamos aprender a nos proteger de quem tem múltiplos interesses mas poucas intenções sinceras. Entender a quais situações devemos nos entregar é um demorado aprendizado.

Hoje estou melhor, observo mais os olhos do que as palavras de quem me pede algo, mas admito que continuo tendo dificuldades em recusar panfletos na rua.

24 de abril de 2022

Por favor, um amor que saiba responder a vida sorrindo

Desde que eu era criança, minha mãe sempre me dizia para me relacionar com alguém que me fizesse sorrir. Não somente sorrir, mas rir também. Rir no semáforo enquanto colocamos alguma música brega para tocar; rir no dentista pois morro de medo dos barulhos que aquelas bugigangas fazem; rir no cinema de qualquer coisa, seja Woody Allen, seja Debi & Loide; rir no restaurante quando a gente não sabe como comer algo chique, e aí, logo após, rir porque a gente pediu um prato caro e não tem dinheiro para pagar, mas depois a gente pensa nisso... Dá para pagar com risos? Ver alguém gargalhar é uma sobremesa que a gente economiza para comer aos pouquinhos. É muita alegria para acabar tão rápido. E se for quem a gente ama então...

Convenhamos: namorar, casar, dividir o leito ou só dar uns beijos com gosto de bala de hortelã – pois, você quis vê-la rapidinho no intervalo da aula da faculdade, mas está com mau hálito porque passou o dia inteiro na correria e não come faz horas – com quem te faz rir é um passatempo que não se repete. Todo riso é novo, todo beijo tem alegria, toda risada tem beijo.

Beijar rindo é muito bom. É gostosinho, é simples, é grande de tão pequeno.

Lembrando agora das relações que tive, fico pensando como consegui ficar com tantas pessoas que não me faziam rir... E a gente fica insistindo, achando que podemos ceder um pouco mais, ver outras qualidades, ajeitar aqui ou acolá. Mas, infelizmente, não é assim que as coisas funcionam. Rir é indispensável! É uma qualidade que vem com contrato vitalício. Pessoas enjoadas, que reclamam do sol e da sombra, do beijo e da falta do beijo, da maneira como os outros riem ou não riem, são fardos pesados demais para se carregar nos frágeis ombros da vida.

Diferente de muitos, eu quero um amor para rir de doer a barriga! Rir sem vergonha da altura da risada, do local ou de alguém achar que a gente é idiota, até porque a gente é! Quando se ama e se consegue rir com o outro, a vida fica leve, fácil, vira pluma, flui, flutua... Ter ao lado alguém que nos faça rir é ter um remédio diário para nos curar da crise no amor, na economia, no coração, e na confusão que há dentro de nós.

Desconfio de pessoas que pensam demais para rir. Para rir não precisa de pudor, de escolha, de saber o que “merece” a sua risada ou não. Deixa de ser besta, ri aí! Se solta, relaxa, dança, passa vergonha, vem com a gente! A gente sabe viver, amar e responder a vida sorrindo! Então, só ri, que o resto a gente decide amanhã...

PS: Tudo bem, também não precisa acordar rindo. Seria demais. Pessoas que acordam rindo, sem dúvida têm algum pacto demoníaco evidente. Pessoas normais acordam sofrendo, mal, não querendo levantar, ficando em posição quando se abrem as janelas. Temos limites.

10 de abril de 2022

Ainda precisamos sambar sozinhos

Esses dias me perguntaram se eu não tinha medo de morrer sozinho. E por mais que ame a minha própria companhia, obviamente tenho pavor de morrer e não ter ninguém para dizer que sentirá minha falta. Gosto de me sentir importante para alguém. E quem dera fosse somente este o medo que carrego comigo. Aliás, converso diariamente com todos os meus medos. E como eles falam...

Cada um dos meus medos carrega consigo um interrogatório diferente. Um deles, o mais agitado, não dorme sem perguntar a si, repetidamente, se um dia conquistará o que tanto sonha. Outro, mais pessimista e ansioso, de não ser tudo o que esperam dele. E o mais inseguro deles, de não conseguir tomar grandes decisões antes da vida terminar.

Acontece que por mais que o amor pela nossa própria companhia seja uma dádiva que conquistamos com o tempo, existem lugares que somente o afeto do outro pode nos levar. Lugares de calmaria, de compreensão, de carinho e pertencimento. Devemos nos amar por inteiro, nos adoçar com a gentileza de um beija-flor, mas sem perder a capacidade de deixar-se ser amado.

A existência compartilhada é sempre mais encantadora, mas não podemos depender da sua chegada para aprender a saboreá-la. A vida vista como uma possibilidade de encontro me conforta, pois sei que um dia a companhia chegará. Mas até lá, em tom de amor sem medo, precisaremos aprender a sambar mesmo quando a música tocar somente em um dos lados do fone de ouvido.

Eu não inventei a solidão, mas diariamente descubro maneiras divertidas de lidar com ela. Acredito que faça parte da experiência de viver; lidar com o que nos pertence e ter esperança do porvir. Por isso, respeito minhas metades; metade alma aberta, outra metade esconderijo. Pois, como uma amiga minha me disse esses dias: somos pessoas que desejamos falar sobre a vida, cantar, amar, mas também amamos nos esconder. Muitas vezes até de nós mesmos. Me senti compreendido com a fala dela. E poucas coisas nesta vida são tão boas como sentir-se compreendido. Sem dúvidas, o meu tipo preferido de companhia.

13 de março de 2022

Só será feliz quem souber esperar

Volta e meia, quando sozinho, me coloco a pensar no que sinto. E como sinto... A saudade, o medo de nunca ser aquilo tudo, de continuar amando quem nunca mais se fez presente. Ainda não sei se sentir tanto como sinto é algo que me faz bem. Por um lado, vejo alegria nos detalhes e nos abraços que já dei, por outro, é grande a tristeza que vem por amar tanto, só por amar.

Acontece que, ultimamente, mesmo com a minha eterna pressa de ser feliz, estou aprendendo a esperar. Não a esperar que as coisas caiam do céu, que pessoas que nunca mais deram o ar da graça me liguem dizendo que estão com saudade, muito menos que, na esquina de casa, o meu coração volte a se abrir para o mundo. Mas a esperar que os meus sonhos e os meus amores sejam distribuídos e recebidos no tempo certo.

Algumas pessoas, ansiosas para ser felizes, não conseguem entender a virtude da espera. Esperar não é triste ou vergonhoso. Triste é não ter paciência para deixar que as alegrias cheguem naturalmente e descartar a possibilidade de permitir que o tempo traga as mais lindas e eternas coisas da vida. Fugindo da obviedade da palavra, esperar não é manter-se na inércia, mas, na tranquilidade, confiar que a sua falta de inércia, um dia, lhe trará resultados.

Então, sem saber o que ainda virá, a gente aguarda. Aguarda amar e ser amado, a morte, a felicidade que imaginamos existir, a prova de que podemos mudar... E, de espera em espera, chegamos a achar que um novo amanhecer tem como obrigação renovar as nossas esperanças. De vez em quando é isso que, de fato, acontece. Mas, às vezes, a gente só lembra um pouco mais da dor de ontem. Perde a razão. Não quer sair da cama. Deseja sumir para um mundo onde há amor demais – ou nenhum amor.

Nessas horas, só nos resta ficar em silêncio e seguir em frente. Esperar. Continuar acreditando que o amor existe, que a vida saberá distribuir momentos de alegria para cada um de nós e que o mundo há de ser lindo e realizador, como a gente sonha. Esperar é acreditar no porvir. É entender que contra o tempo a gente não pode lutar, então sejamos amigos dele.

Agora, tomando um café já altas horas da noite, continuarei aqui, quietinho, fazendo o que posso; esperando o meu amor, os meus sonhos, as minhas alegrias e doando sorrisos às bocas que ainda me fazem companhia.

E para o meu amor que está por vir: saiba que, sem esperar, eu só te espero.

6 de março de 2022

Fale que ama antes que só reste saudade

Você já parou para observar quantas pessoas não conseguem dizer para os próprios pais que os amam? Que não conseguem proferir uma palavra de carinho, dar um beijo ou um abraço regado de emoção nas pessoas mais próximas? Ainda que as amem! Oras, se amam, por que não dizem? Quando penso nos motivos para conter as palavras e as demonstrações de carinho, não chego a grandes respostas – um receio de parecer frágil aqui, um passado difícil acolá, mas nada que mereça distanciar as emoções das cordas vocais.

Por que não mudar? Por que não dizer imediatamente o que o coração sente, antes que seja tarde demais e tudo o que reste desse amor seja saudade? As pessoas precisam ouvir que são amadas, quando o sentimento é verdadeiro. Sim, mesmo que a resposta não venha da maneira que você gostaria. Quando se trata de amar, não podemos ser mimados, pois as emoções são das poucas coisas que, quando guardadas, se perdem.

Para amar, a gente precisa aprender a ser vulnerável. Então, diga àquela pessoa que você a ama, que ela te faz bem, que você vai morrer de saudade dela, enfim, abrace-a forte e diga o que vier à sua mente, mesmo que dê um pouquinho de vergonha. A vida é breve demais para ter medo de dizer as coisas bonitas que transbordam da gente.

Está com dificuldade de seguir em frente depois de uma relação que havia muito sentimento?

Quer dar a volta por cima e resgatar o seu bem-estar emocional?

Fred Elboni 2022 — Todos os direitos reservados

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