Existem coisas maravilhosas na vida, como ter cachorros peludos, viajar sem destino e comer doces que sujam os dedos, mas, honestamente, não acredito que exista nada melhor e mais acolhedor do que dormir com a consciência tranquila. Dormir na posição maluca que você costuma dormir, seja ela qual for, e acordar sentindo que teve uma ótima noite de sono é uma sensação impagável! Não há dinheiro, noites de sexo com pessoas que já transitaram em capas de revistas ou jatinhos adesivados com o seu nome que supram a alegria que é dormir com paz. (Sim, existem pessoas que adesivam jatinhos com o próprio nome.)
Tenho muitas conquistas silenciosas. Na verdade, as minhas maiores conquistas só eu sei. Elas são grandes para mim, mas pequenas para o mundo externo. É uma horta que fiz lá em casa; um sentimento que eu tinha pavor que reaparecesse com o qual, finalmente, aprendi a lidar; um mimo que consegui dar para a minha mãe de aniversário; um impulso que controlei em um momento importante da minha vida; uma parte do livro que demorei muito para terminar, mas consegui deixar do jeito que eu gostaria… Essas são algumas das pequenas grandes conquistas que guardo comigo e das quais me orgulho.
Acontece que tenho um apreço enorme por paz e equilíbrio, por gestos simples e espontâneos, por coisas que meu dinheiro pode comprar – sem me endividar até o pescoço – , por mais simples que sejam. Gostar de coisas verdadeiras e suas é um grande passo para o amor próprio. Às vezes, sentado na varanda da minha casa e ouvindo o barulho único da chuva, fico pensando como é bom ter saúde. Logo após filosofar sobre a dádiva da saúde, penso como é bom ter um animal de estimação, como é bom tomar sorvete de casquinha no calor; caminhar pela cidade ouvindo música; tomar um café da manhã cedinho, com direito a pão com manteiga, ovos e um café quente, feito na hora; dar um beijo escondido no estacionamento do trabalho em quem você está gostando… A felicidade genuína é fruto das coisas simples.
Observo tantas pessoas presas ao material, ao estético, à vaidade, preocupadas com a bandeira do cartão de crédito e com a logomarca dos sapatos, com os seguidores nas redes sociais e com o tamanho da televisão da sala de estar. Não que gastar o nosso dinheiro como bem entendemos ou desejar tudo isso seja repreensível – não é! – mas talvez seja interessante questionar se, no fundo, queremos isso realmente por nós ou por mera aprovação alheia. E, um dia, toda essa energia gasta em suprir as expectativas dos outros pode não te dar como retorno a autoestima e a companhia sincera que você acha que garantiu.
Compre o que você quiser, mas não sacrifique a sua saúde mental e financeira como se isso fosse um passo necessário para o seu bem-estar. Faça o procedimento estético que desejar, mas nunca deixe de compreender e admirar a beleza que já é sua. Coloque na internet as fotos que quiser, mas não deixe de viver o presente, com a entrega e a verdade que aquele momento pede. Faça o que te der vontade, mas não deixe de refletir sobre quem você é de verdade. E saiba que sacrificar a paz para alimentar o ego costuma ser um péssimo negócio. Vai por mim.