Existem tristezas, dúvidas e desafetos que somente nós conseguimos mensurar; o quanto ainda nos ferem e o quão internamente vastos são só a gente sabe. Dividir com os outros o que realmente sentimos é de suma importância para democratizar as nossas inquietações, mas nem sempre é o melhor caminho para quem busca se sentir seguro com as próprias (turbulentas) decisões. A gente pode compartilhar as insistentes angústias que nos habitam, porém, mais importante do que dividir os nossos sentimentos com os outros é saber quem de fato irá ouvi-los com a calmaria do coração e não com a ansiedade dos julgamentos morais.
Quando estou presente em algum evento e me disponho a ouvir algumas histórias das pessoas que ali estão, sei que sou somente um receptor e não um emissor de opiniões, por mais que elas acreditem que não, que realmente precisam ouvir a minha opinião sobre aquela determinada situação. A verdade é que quando essas pessoas me contam as suas histórias, elas não querem ouvir uma resposta minha ou um conselho com o propósito de alívio imediato – que, honestamente, muitas vezes nem existe –, elas só querem ser ouvidas. Elas querem dizer o que sentem e que alguém as compreenda – e compreensão nem sempre é seguida de palavras. Enquanto elas contam seus relatos, deixo as suas palavras fluírem e ganharem força na boca delas. Permito-me ser inundado de carinho pela história e, na magia do silêncio, me expresso somente com os olhos: “pode falar, pode continuar, não se julgue, aqui você pode ser quem você quiser…”
Quando o assunto é uma dor guardada na gaveta do coração, a gente precisa manusear com cuidado, pois nem todos saberão lidar com as nossas intimidades com o respeito que elas merecem. Eles podem até ouvir, mas irão analisá-las pelas próprias experiências, e não pelo contexto original da história. E colocar a sua realidade como parâmetro é sempre uma enorme injustiça. O que os outros têm a dizer sobre os nossos sentimentos pode ser único e especial, mas necessita de muita consciência compreensão. Talvez seja isso que muitos chamam de empatia.
Precisamos dizer o que sentimos e, quando necessário, nos emocionar com isso, mas definitivamente não precisamos dividir as nossas melancolias com quem não é capaz de enxergar a profundidade das nossas emoções e reverenciá-las. Isso seria um pecado. Porque quando damos o nosso voto de confiança para quem não o merece, corremos o risco de perder a fé nas pessoas como um todo. Portanto, fale! Nunca deixe de falar e de se abrir! Mas saiba bem com quem dividir as tuas verdades, pois nem todos têm o interesse sincero e as condições necessárias para escutar as histórias que teu coração anseia em contar.