Sem saber o que o amanhã me reserva, o agora me atropela. Caminho pelas ruas da cidade com todas as emoções dentro de mim, batalhando por um lugar ao sol. E com um aperto descomunal no peito, suplico por alívio. Por que o sofrimento insiste em me habitar se já pedi tanto para ele sair e encontrar uma nova morada?
Não conheço todas as torturas medievais, mas esta me parece a mais sádica. Não há remédio que a alivia.
Mantenho meus olhos abertos sempre que possível, pois não quero cair na fatalidade de fechá-los e, acidentalmente, sonhar com o que já passou. Muitas vezes sinto que vivi este amor sozinho. E mesmo não encontrando explicações, sigo questionando. Por que estou sendo obrigado a me distanciar da coisa mais bonita que me aconteceu?
De todos os silêncios que já ouvi, este é o mais ensurdecedor. Ninguém responde.
A verdade que é a saudade brinca de doer e, injustamente, tira para dançar quem nunca ensaiou o adeus. Ela é uma lembrança forte de que houve amor e, rodopiando sem trégua, transporta a alma para um passado bonito, mas cada vez mais distante.
Sentir saudade é perceber que alguém deixou em nós mais de si do que poderíamos suportar.
O amor que sinto por você se instalou carinhosamente em algum lugar do peito, e por infelicidade, não consigo achá-lo para arrancá-lo de mim. E toda vez que, com medo do que irei encontrar, me aproximo, lembro de todas histórias que contei para te fazer feliz.
Era uma vez. Felizes para sempre. Eu e você. Você e eu. E agora, como vai ser?
Se confiei tanto no amor do outro, por qual motivo não confiarei na minha força de me amar? Morro de saudade como morri de amor.
Mas, desta vez, vou aprender a morrer por mim e não pelo outro.