Esses dias me perguntaram se eu não tinha medo de morrer sozinho. E por mais que ame a minha própria companhia, obviamente tenho pavor de morrer e não ter ninguém para dizer que sentirá minha falta. Gosto de me sentir importante para alguém. E quem dera fosse somente este o medo que carrego comigo. Aliás, converso diariamente com todos os meus medos. E como eles falam...

Cada um dos meus medos carrega consigo um interrogatório diferente. Um deles, o mais agitado, não dorme sem perguntar a si, repetidamente, se um dia conquistará o que tanto sonha. Outro, mais pessimista e ansioso, de não ser tudo o que esperam dele. E o mais inseguro deles, de não conseguir tomar grandes decisões antes da vida terminar.

Acontece que por mais que o amor pela nossa própria companhia seja uma dádiva que conquistamos com o tempo, existem lugares que somente o afeto do outro pode nos levar. Lugares de calmaria, de compreensão, de carinho e pertencimento. Devemos nos amar por inteiro, nos adoçar com a gentileza de um beija-flor, mas sem perder a capacidade de deixar-se ser amado.

A existência compartilhada é sempre mais encantadora, mas não podemos depender da sua chegada para aprender a saboreá-la. A vida vista como uma possibilidade de encontro me conforta, pois sei que um dia a companhia chegará. Mas até lá, em tom de amor sem medo, precisaremos aprender a sambar mesmo quando a música tocar somente em um dos lados do fone de ouvido.

Eu não inventei a solidão, mas diariamente descubro maneiras divertidas de lidar com ela. Acredito que faça parte da experiência de viver; lidar com o que nos pertence e ter esperança do porvir. Por isso, respeito minhas metades; metade alma aberta, outra metade esconderijo. Pois, como uma amiga minha me disse esses dias: somos pessoas que desejamos falar sobre a vida, cantar, amar, mas também amamos nos esconder. Muitas vezes até de nós mesmos. Me senti compreendido com a fala dela. E poucas coisas nesta vida são tão boas como sentir-se compreendido. Sem dúvidas, o meu tipo preferido de companhia.