Lembra daquela conversa que tivemos antes de você partir? Eu me recordo como se fosse ontem que você disse, com um choro breve e contido, que nunca me esqueceria. Mesmo se eu voltasse a usar aquela minha camisa xadrez vermelha e preta que você odiava (e eu que me achava tão bonito com ela…). Esse dia foi triste, um martírio, mas nos prometemos que não iríamos nos esquecer. E promessas feitas com os dedos mindinhos entrelaçados são sempre coisa séria. Muito séria.

Na época, tivemos que nos separar, éramos diferentes, vivíamos momentos diferentes, pelo menos era o que dizíamos. O tempo passou e muita coisa mudou, emagreci um pouquinho, minha mãe está mais doente, e meus avós já partiram para outro lugar sobre o qual ainda não tenho opinião como deve ser, mas espero que seja especial. Eles gostavam muito de você. Estava pensando agora que, depois de você, namorei outras mulheres, e imagino que você também. Não necessariamente com mulheres, claro (e se for, qual o problema?).

Acabei lembrando que minha avó, nos últimos anos em que passamos cuidando dela, sempre achava que todas as namoradas que estavam comigo eram sempre você. “Cadê a Lívia?”, perguntava ela. E eu, sadicamente, adorava, mesmo que por uma obviedade tivesse que responder: “Vó, essa é a Fulana!”. Eu ficava sem reação, pedia desculpas para a Fulana, ríamos um pouco da situação e, minutos depois, no silêncio dos meus pensamentos, quem me perguntava era eu: Cadê a Lívia?. Nunca soube responder.

Tenho tantas lembranças de você, dos seus brincos delicados, das suas roupas quando íamos ao cinema, do seu vestido quando foi àquela formatura comigo, e da vergonha que senti quando perguntei se você gostaria de se arrumar aqui em casa. Da maneira como você corria, charmosa de tão desengonçada, quando íamos juntos ao parque, das fotos de comidas aleatórias que me enviava durante a tarde, e da maneira linda com que você falava dos seus sonhos. Era tudo tão seu, e tão nosso! Dos seus tênis de sola baixa, e de como eu adorava quando você os calçava, dos seus óculos que só eram usados quando necessário, do seu riso nervoso quando era elogiada, dos seus beijos de emergência quando as palavras brincavam de sumir, da sua vontade eterna de se aninhar no meu peito enquanto o tempo voava quando estávamos em frente à sua casa, dentro do carro, nos despedindo.

Você se lembra quando busquei você na aula de inglês pela primeira vez? E quando, aqui em casa, tentei fazer a melhor caipirinha do mundo só para tentar impressionar e, obviamente, não consegui? E quando dividi todo o meu mundo, o meu coração e a minha família com você? Espero que se lembre… eu me lembro tanto! Dos seus sonhos, das suas pequenas doçuras, que para você eram simples, mas que para mim eram um novo mundo. Acredite: dos seus detalhes eu fiz várias coleções, e isso a gente não compra por aí, nem troca por alguns beijos e abraços na esquina.

E eu ainda escrevo meus textos de domingo, ando pela casa de samba-canção e sem camisa, e tenho várias meias coloridas que guardei ao longo do tempo. Ainda tenho as cartinhas que você me enviou e todos aqueles brinquedinhos que você insistia em pegar no McDonald’s quando íamos nas madrugadas em que você acordava, repentinamente, com fome, mas nunca sabia do quê.

Não tenho mais seu número, não acho você nas redes sociais – você nunca gostou –, e quando passei na sua casa, mentindo para mim que era o melhor caminho para chegar ao trabalho, disseram que você não morava mais lá. Não sei muito bem o que fazer, nem se haverá reciprocidade no que estou escrevendo, mas como eu poderia dizer adeus ao que sinto? Não seria justo com nossa promessa. Estou com saudades e não sei como achar você. Espero que leia meu blog, porque se você tivesse um eu leria. Juro. Difícil seria só não se perguntar: Cadê a Lívia?