Durante boa parte da minha vida, um dos meus maiores medos – não vou entrar em detalhes sobre os outros, isso pode ser constrangedor – foi dizer “não” para outras pessoas. Por causa de uma insistente necessidade de ser aceito, benquisto e querido, eu jogava minhas prioridades para escanteio e fazia malabares com os ponteiros do relógio para atender às necessidades de quem – depois eu descobriria – pouco se importava comigo. Para piorar, nas poucas vezes em que conseguia dizer “não” a situações que certamente não me fariam bem, eu acabava tomado por questionamentos retóricos, até um certo peso na consciência, como se eu não tivesse feito a coisa certa. Foi uma época triste, de grande desperdício de energia, mental e física.
Até o dia em que, depois de acudir, amparar e sorrir para pessoas que nunca me sorriam de volta, resolvi me escolher como porto seguro para mim mesmo.
Aprendi a pensar no que de fato é importante para mim, me colocar em primeiro lugar. O que significa não dizer “sim” quando quero dizer “não” apenas para agradar aos outros, respeitar o meu limite e não fazer nada que me fira.
Não que eu ache que devemos deixar de estender a nossa mão para quem nos pede algo, até porque isso não seria uma atitude honesta com quem somos; só precisamos aprender a nos proteger de quem tem múltiplos interesses mas poucas intenções sinceras. Entender a quais situações devemos nos entregar é um demorado aprendizado.
Hoje estou melhor, observo mais os olhos do que as palavras de quem me pede algo, mas admito que continuo tendo dificuldades em recusar panfletos na rua.