16 de maio de 2021

Cada um sente da sua maneira

Quando a saudade te atropela, você chora entre soluços silenciosos e enxuga as lágrimas como se não devesse sentir o que está sentindo, ou, sem pensar nas consequências, liga correndo para dizer que ama loucamente e que está morrendo de saudade da pessoa? Quando, pela fresta do coração, a carência dá as caras, você prefere dormir coladinho, dividir as cobertas e trocar carinhos na cabeça e nas mãos antes de dormir ou prefere preservar o seu espaço e a sua própria coberta – quem mandou o parceiro puxá-la enquanto dorme? Você diz o que verdadeiramente sente ou guarda somente para si? Você deixa o outro saber quão amado é ou se sente vulnerável ao dividir seus mais puros e honestos sentimentos?

Existem pessoas que tratam o amor como se ele fosse um jogo. Com fases, objetivos e territórios a serem conquistados e, caso as fases não sejam seguidas à risca, passo a passo, a vitória não será sincera. “Se a pessoa me ama, tem que dizê-lo todos os dias pela manhã.” “Se me quer em sua vida, tem que dizer e ainda me trazer presentes toda semana.” “Se quer me conquistar, tem que demonstrar repetidamente que me deseja.” O fato é que verdades absolutas no amor sempre são injustas. Cada um demonstra os sentimentos de uma forma, então tentar definir uma maneira que você acha certa é injusto com quem aprendeu a demonstrar o amor de outra forma.

Acontece que não é possível deixar de levar em consideração como os traumas e a diferença de criação impactam na maneira como demonstramos os sentimentos. Alguns falam, gritam e só não fretam um carro de som pois seria cafona demais para os dias atuais. Outros demonstram o amor na paciência, na calma, no olhar sereno e distante. Outros amam com intensidade e transportam esse amor em breves momentos de beijos e toques que fazem arrepiar. Eu, por exemplo, mergulho de cabeça e, na maioria dos casos, demoro para achar a saída das profundezas. Gosto da intensidade com a qual nasci, mesmo que muitas vezes ela me leve para o fundo do poço.

A verdade é que a parte mais bonita do amor está em situações as quais só a sensibilidade pode notar. Perceber nos detalhes o amor que o outro sente por você é uma das sensações mais delicadas e sublimes da vida. Às vezes, pode ser um toque sutil na perna do outro por baixo da mesa de jantar, ou um sorriso quando vai ao banheiro que diz “já volto, me espera…” ou um “te amo” inesperadamente dito durante o sexo. Observar nos detalhes, nas particularidades, quando o outro declara o seu amor é uma das descobertas mais gostosas ao amar.

Não existe uma maneira correta de demonstrar o amor; o importante é dizer, demonstrar, seja como for.

10 de maio de 2021

5 dicas para melhorar seus relacionamentos

Sartre teria dito que “o inferno são os outros” – e quem sou eu para discordar do filósofo? Mas não podemos negar que a pandemia nos mostrou o quão essencial são esses outros para nosso bem-estar. Sem os amigos, parentes, colegas de trabalho, afetos - e até os desafetos - a vida ficou menos colorida e menor, mais limitada. Todos nós, até os mais introspectivos, estamos com muita saudade das pessoas.

Por outro lado, as pessoas são complexas e, muitas vezes, relacionar-se acaba sendo fonte de atrito, estresse ou angústia. Andei pensando sobre isso e me ocorreram alguns princípios básicos e universais que, ao servirem de estrela guia, podem nos guiar relacionamentos melhores em qualquer esfera. São eles:

1. Escute mais e melhor.

Todo mundo quer ser tratado com dignidade e reconhecido em sua singularidade.  Em outras palavras, todo mundo quer ser visto e ouvido de verdade. Por isso, sempre que possível, dê espaço para o outro se expressar, escutando-o a fim de compreender sua visão e não de contestá-la.

Para escutar mais e melhor, é interessante aprender a cultivar o silêncio – tanto externo, para que o outro fale, quanto interno, para que sua mente não preencha os silêncios com pensamentos, julgamentos e respostas enquanto o outro estiver falando.

2. Não tente mudar o outro.

É tão comum pensar: “ah, mas se fulano fosse mais x ou menos y, tudo seria resolvido!” Aí, ao invés de olharmos para nossas expectativas ou nossa contribuição para tal comportamento, tentamos com todas as forças moldar a pessoa para que ela seja mais como nós gostaríamos. Às vezes agimos como um escultor com um cinzel na mão, tentando moldar o outro conforme a nossa visão, mas isso é um tanto arrogante, não é mesmo? Você gostaria de estar no lugar do mármore esculpido ou sequer de ser visto como tal?

Uma boa dose de humildade pode ser o ingrediente secreto para fazer aquele relacionamento azedo ficar mais palatável.

3. Seja radicalmente honesto.

Que mentiras e manipulações minam qualquer relação a gente já sabe. Mas o não dito – as mágoas engolidas, as expectativas frustradas, os desejos ocultos – também podem corroer os relacionamentos, até que fiquem tão frágeis e desgastados que só trazem tristeza ou desgosto.

Por isso, aposte na honestidade, mesmo quando isso aparentemente lhe colocará numa posição frágil. É claro que o tato e a delicadeza são essenciais para a boa comunicação, mas é igualmente importante ser verdadeiro e honesto. Lembre-se: a vulnerabilidade é essencial para a conexão.

4. Demonstre apreço e afeto.

De nada adianta escutar, aceitar e se comunicar com o outro sem que haja um sentimento caloroso por trás. Sem o afeto, sem a ternura que emana do coração, seríamos apenas máquinas utilitárias, agindo de forma programada para extrair os melhores resultados. Que visão pobre e limitada da humanidade!

Em tempos tão sombrios e assustadores, é preciso lembrar que nem o mais racional dos seres humanos é feito 100% de razão (e os que não tem amor são psicopatas). Lembre-se: o afeto é revolucionário. 

5. Estabeleça e comunique limites.

Por fim, para muitos de nós – sobretudo os sensíveis, os que querem muito agradar, os que não sabem dizer não – é fundamental estabelecer limites nos relacionamentos. Dar sem receber, doar-se para os outros, amar incondicionalmente é muito bonito e louvável, mas sem reciprocidade é destrutivo.

Acima de tudo, é preciso amar e respeitar a nós mesmos. O autoconhecimento, o amor próprio e o respeito por si são o tripé que sustenta qualquer relacionamento saudável.

Espero que essas dicas sejam o ponto de partida para reflexões e conversas transformadoras para você, embora eu tenha certeza de que deixei muita coisa importante de fora. Quais são as suas dicas de ouro para relacionamentos melhores?

9 de maio de 2021

Aceitar o passado é também aceitar o presente

Na ansiedade de viver o novo e partir para o inexplorável os nossos olhos avistam felicidade em momentos regidos pelas distrações. Estar presente é estar com o coração distraído; e estar distraído é estar feliz com o que está se vivenciando. E se estamos com medo cobrimos os nossos algozes companheiros com panos quentes e os colocamos em gavetas rentes ao chão por preguiça de dobrar os joelhos. Pois, convenhamos, somos reis na arte de desejarmos soluções fáceis para momentos difíceis.

Tirando o passado de protagonismo e deixando-o orquestrar outros sentimentos conseguimos seguir rumo ao desconhecido. Aceitamos que o resgate dos toques não arrepia mais, as risadas vão, pouco a pouco, perdendo o som agudo e as lembranças que tanto insistem em serem atuais se tornam notícias de jornais de outro século. Dia após dia, aquele passado que tanto sustentou a felicidade do presente, se torna um beijo que ninguém mais faz questão de receber.

Sendo criador dos nossos maiores martírios ele nos possibilita amadurecer e muitas vezes nos faz crer cegamente que a felicidade é uma aptidão infantil. Acontece que o passado somente se torna translúcido e essencial para quem o aceita com o coração. Não há como receber as novidades do presente sem aceitar a existência do passado. Ele é o brotar dos aprendizados, a raiz das novas escolhas, mas não precisa ser revivido diariamente. Um passado mal resolvido perturba e faz o presente sempre surrar seu constante término: “Tenha medo, eu posso acabar a qualquer momento”. E tristemente, se não aceitarmos o passado como nosso, perderemos as belezas silenciosas que o presente poderá nos distribuir.

3 de maio de 2021

10 livros de autoconhecimento que você precisa ler

Todo livro é uma oportunidade para se conhecer melhor, seja através de reflexões diretas ou de peregrinações imaginativas. No entanto, alguns livros me tocaram de forma especial e, através de cada um deles, aprendi uma lição que levarei para toda a vida. Aqui vão dez livros (de quatro continentes) que tiveram esse efeito em mim:

1. A coragem de ser imperfeito, Brené Brown

Essa carismática pesquisadora texana colocou em palavras ensinamentos sobre vulnerabilidade e conexão que eu já havia experimentado na pele e me deu as ferramentas para escrever o livro Coragem é agir com o coração. (Se quiser, faça como eu e comece pelo seu TED Talk, “O poder da vulnerabilidade”.)

2. Silêncio: na era do ruído, Erling Kagge

Quando voltei da minha viagem a Svalbard, uma amiga me recomendou esse livro lindo de um erudito explorador norueguês que consegue expressar como ninguém a beleza e a solidão do gelo. Com ele, aprendi a valorizar e cultivar ainda mais os momentos de quietude e introspecção.

3. O perigo de uma história única, Chimamanda Ngozi Adichie

Curtinho, porém poderoso, esse ensaio da premiada escritora nigeriana é um manifesto para sermos donos da nossa própria história e nunca desistir de contar a nossa verdade para o mundo. (Vale lembrar que o livro nasceu de um TED Talk.)

4. Amar e ser livre, Sri Prem Baba

Apesar do nome, Prem Baba é brasileiro, fato que só descobri quando terminei de ler esse livro, que me fez refletir profundamente sobre amor, expectativas e a importância de sermos radicalmente honestos não só com os outros, mas com nós mesmos.

5. Talvez você deva conversar com alguém, Lori Gottlieb

Nada traz tanto autoconhecimento quanto uma boa terapia. As histórias contadas por essa ex-roteirista – hoje psicóloga – norte-americana conseguem traduzir a beleza e a profundidade dessa relação/ experiência que é a psicoterapia, e ainda nos proporcionam lindos vislumbres da árdua tarefa de ressignificar experiências difíceis.

6. Sapiens, Yuval Noah Harari

Não, não é um livro de autoajuda, mas é uma obra sobre a humanidade e como chegamos até aqui. As fascinantes histórias e ácidas provocações do historiador israelense nos convidam a pensar: o que realmente importa e será que estamos caminhando em direção a nossos verdadeiros desejos?

7. 12 regras para a vida, Jordan Peterson

Enquanto alguns livros são carícias que aquecem o coração, outros são bofetadas que nos abrem os olhos para algumas verdades nuas e cruas, e o livro do psicólogo canadense se encaixa nessa segunda categoria. Eu gosto, em especial, das reflexões que ele faz sobre nossos aspectos sombrios.

8. O caminho do artista, Julia Cameron

Muito mais do que palavras para ler, este clássico, publicado originalmente em 1992, traz um programa de 12 semanas para destravar a criatividade, que inclui confrontar o crítico interior, fantasmas do passado e muitos outros exercícios elucidativos.

9. Aprenda a viver o agora, Monja Coen

Todo mundo sabe que sou fã dessa monja brasileira; ela tem uma capacidade incrível de revelar o que é simples e essencial. Neste livro, aprendi que nada exige nem desperta maior autoconhecimento do que a arte de viver no presente.

10. As coisas que você só vê quando desacelera, Haemin Sunim

Assinado por outro monge (dessa vez, coreano), esse livro não é como nenhum outro que já li. Versos singelos e imagens líricas parecem nos transportar a um lugar mágico em que sentir e pensar se mesclam, gerando insights inesquecíveis.

Qual desses livros você já leu? Quais outros você acrescentaria a esta lista?

2 de maio de 2021

Saudade é prova da capacidade de amar

Eu adoro ouvir músicas calmas, pois elas têm o poder de me transportar para acontecimentos do passado, amores antigos, histórias que gostei de viver. Quando estou com minhas músicas prediletas, deixo a saudade fluir por meus poros, como se ela pudesse resgatar e trazer de volta para o presente tudo de que estou sentindo falta. Meio masoquista, eu? É, também acho, mas o que fazer se convivo com tantos sentimentos confusos e espinhosos dentro de mim?

Honestamente, a saudade desperta em mim uma grande imaturidade. Eu me sinto perdido, não sei muito bem o que fazer e, no impulso, tomo atitudes das quais me envergonharia em meus momentos de sensatez. Mesmo sabendo que vou me entristecer, procuro mensagens antigas que trocava com pessoas amadas e as leio vagarosamente, relembrando como éramos carinhosos. Faço ligações em noites em que a caixa postal é uma visitante inconveniente entre as chamadas não atendidas. Deleto fotos (todas elas), com a segurança de quem sabe que amanhã, caso eu me arrependa, elas ainda estarão na lixeira. Assim, furto os sinais e os sintomas, e brinco de manter esperanças tolas.

Mas, e quando a saudade aperta demais, o que a gente faz? Chora, grita, se esconde, corre atrás do tempo perdido, divide as angústias com alguém que finge nos compreender, vai ao parque sozinho, vai ao cinema sozinho ou simplesmente dorme e torce para o tempo ser uma boa amizade. Podemos fazer qualquer coisa com a saudade, até saná-la com doces cobertos de chocolate, mas nunca fingir que nada está acontecendo, já que isso seria um desrespeito com nossa capacidade de amar.

A saudade brinca de doer e, injustamente, tira para dançar quem nunca ensaiou o adeus. Ela é uma lembrança de que houve amor, seguida de dores que transportam a alma para um passado bonito, mas distante. Sentir saudade é perceber que alguém deixou em nós mais de si do que poderíamos suportar. Por outro lado, quem nunca morreu de saudade nunca morreu de amor. E tem coisa mais gostosa do que dizer a você mesmo que já morreu de amor?

Amar de verdade é um encontro lindo com a vida. É como se, mesmo que com um pouco de tristeza, você soubesse que viveu seus momentos com entrega. Definir a saudade em palavras é fácil e até bonito. Difícil é conviver com a dor que ela traz. Mas aí a gente sempre tem as músicas calmas para ajudar.

26 de abril de 2021

5 passos para ter mais autoaceitação

Na semana passada escrevi um pouco sobre o dilema entre mudar e se aceitar, mas como somos estimulados a mudar muito mais do que a nos aceitar, hoje quero focar na autoaceitação. Vivemos numa sociedade altamente competitiva e aprendemos a medir o nosso valor em comparação aos outros. Estamos sempre “devendo”: não somos suficientemente bem-sucedidos, atraentes, ricos, inteligentes, cultos, evoluídos etc. etc.  Não é de se espantar, então, que a tal autoaceitação pareça tão inatingível!

Mas, para quem deseja estar mais em paz consigo mesmo, aqui vão algumas dicas:

1. Conheça-se de verdade.

O autoconhecimento é o ponto de partida porque não podemos nos aceitar sem antes nos conhecer. Isso requer honestidade, introspecção, coragem e tempo. Pode ser impulsionado por terapia (especialmente aquelas que exigem esforço e nos convocam a ver nossas sombras), por relacionamentos significativos, por mudanças inesperadas e pela escrita, entre outras coisas.

2. Pratique a autocompaixão.

Não adianta se conhecer e ficar se autoflagelando com exigências, culpas, remorsos e outras coisas que aumentam o sofrimento e a sensação de que você precisa ser diferente para ser alguém digno de amor e respeito. A autocompaixão não é o equivalente a passar a mão na cabeça dos erros cometidos ou das áreas em que você quer e pode melhorar; pelo contrário, é um antídoto contra emoções negativas fortes (ódio, vergonha etc.), que acabam sugando nossa energia e não nos permitindo avançar nos nossos projetos.

3. Leia bons livros, veja bons filmes.

Histórias nos inspiram a encontrar novos caminhos e novas compreensões. Por isso, não são uma “perda de tempo”, sobretudo quando são capazes de nos levar para lugares, sentidos e sentimentos que não costumamos experimentar. Estou falando do tipo de arte que não representa uma fuga, mas um potencial (re)encontro com partes esquecidas ou dormentes de nossa imaginação. Recentemente, um filme que me tocou muito – e que tem tudo a ver com a autoaceitação – é O som do silêncio (Amazon Prime), sobre um baterista de heavy metal que perde a audição.

4. Abrace suas paixões.

O que faz o seu coração cantar? O que lhe move sem que você precise se esforçar muito? O que lhe traz alegria, propósito, conexão? Estar envolvido com nossas paixões proporciona uma sensação de entusiasmo que tem tudo a ver com o estado de viver no presente que é um dos pilares da autoaceitação. Passar tempo com algo que o coloque nesse estado é essencial.

5. Seja paciente (e persistente).

Assim como não aprendemos a nos criticar da noite para o dia, não vamos nos aceitar como num passe de mágica. O caminho até a autoaceitação é longo, árduo e parece não avançar muito rápido no início. É que nem aprender a surfar depois de adulto. Primeiro temos que entrar na água fria, aprender a nos equilibrar, pegar a onda e tentar não cair (e vamos cair muitas vezes). É um processo demorado e difícil, porém bonito demais, mesmo quando uma onda vem e nos derruba. Faz parte, é só subir na prancha de novo e esperar a nova onda.

25 de abril de 2021

Dúvidas não são problemas

Por mais que eu não transpareça, carrego comigo todas as dúvidas do mundo. Não minto sobre as dúvidas que habitam em mim, mas evito demonstrá-las a quem tanto precisa do meu olhar firme. Você pode estar se perguntando: mas, então, a quem você demonstra as suas dúvidas? Compartilho-as com quem se dispõe a também ser a minha certeza; sempre temos alguém com quem podemos ser dúvida e alguém com quem precisamos ser certeza.

Percebo as minhas dúvidas como fontes coloridas, dançantes, por isso sinto alegria em tê-las, pois, para mim, são reflexos de amplidão e não de confusão. Elas flutuam em mim e mostram a pluralidade do mundo. Elas não precisam ser tristes, muito menos pairarem sobre um ar contraproducente. Elas podem ser um jardim de possibilidades, uma enorme vontade de florescer, não necessariamente um eterno receio de desabrochar. Por que alimentar nossas dúvidas de pensamentos ruins se podemos alimentá-las de sentimentos acolhedores?

Por um lado, as dúvidas podem ser um carrossel de indecisões; por outro, um mar de possibilidades. As dúvidas existem em mim, mas não me definem nem me paralizam. Eu as tenho comigo, no meu interno, pois talvez elas se sintam confortáveis em estar por aqui, porém não é porque carrego dúvidas no meu pensar que também preciso carregar dúvidas no meu agir.

Podemos ter dúvidas, mas elas não precisam ser um freio motor das nossas ações, mas um olhar desafogado da situação. Quando digo que amo, não tenho certeza da reciprocidade, mas sim do que sinto. As dúvidas sobre a resposta que terei me invadem, me torturam, mas a certeza do meu movimento faz as dúvidas serem paisagem de todo aquele sentir.

Elas nunca deixarão de vir, mas posso fazer com que sejam minhas livres companheiras. São insistentes, mas doces, caso observadas com carinho e paciência. E, nessa insistente companhia, deixarão pouco a pouco de serem dúvidas escandalosas para se tornaram certezas silenciosas.

19 de abril de 2021

Fazer de tudo para melhorar ou buscar a autoaceitação?

Às vezes parece que estamos num cabo de guerra com nós mesmos, não é? De um lado, uma voz que diz: isso não é o bastante, alcance a meta (depois dobre-a), dedique-se a melhorar e evoluir.  Do outro lado, um sussurro: você é bom do jeito que é, aceite-se, pare de se autoflagelar e viva no presente.

A primeira voz é alta e incansável: quer nos ver agindo, fazendo, conquistando. Ganha volume com o coro de mensagens que recebemos por todos os lados e sintoniza com nossas inseguranças mais profundas. A segunda é mais suave, talvez por estar exausta de não ser ouvida e de estar batendo na mesma tecla. Mas é também onde o medo encontra eco; é dela que a covardia se apropria quando não quer que a gente saia do lugar do conforto.

Qual voz devemos ouvir, então?

Ambas são importantes e merecem ser ouvidas. Alguns de nós respondem melhor à busca pelo crescimento e outros sintonizam com mais naturalidade na frequência da autoaceitação. Cada pessoa e cada momento escolherá uma das duas para seguir.

O problema é quando achamos que uma é sempre boa e a outra sempre ruim; quando uma é exaltada e a outra desprezada. Viver nos extremos é sempre arriscado, pois perigamos cair na ingenuidade, no julgamento e na pequenez.

Criar metas, fazer mudanças e crescer é maravilhoso. Mas não é tão bacana quando vira obrigação ou pré-requisito para o amor próprio. Aceitar as condições do presente, especialmente quando fogem do ideal, é louvável. Mas não pode servir de desculpa para uma vida diminuída, amedrontada.

Em vez de uma ou outra, podemos escutar ambas. Não são excludentes. A autoaceitação do presente tira o peso da obrigatoriedade do sucesso e, paradoxalmente, facilita mudanças positivas por meio de motivações intrínsecas. Já a ação orientada para o futuro traz experiências novas, com o potencial de aumentar nosso autoconhecimento e amor próprio.

Portanto, esquece a pergunta acima sobre "qual escolher". Escute ambas. De verdade. Abra sua mente e veja o campo das possibilidades se expandir e lhe surpreender. A verdade é que você não precisa estar em movimento para ser alguém e também não precisa estar parado para se aceitar. Você já é alguém digno de amor e respeito, assim como também é digno de sonhos e projetos que requerem esforço e determinação.

18 de abril de 2021

Amadurecer

Amadurecer é aprender a dizer adeus, mesmo quando ainda há amor. É parar de dar corda para algo claramente sem futuro. É dar alvará para o coração sentir medo e, nem de longe, ter vergonha de admitir isso. Amadurecer é dizer o que sente sem se justificar, principalmente quando as justificativas existem somente para nos proteger dos julgamentos alheios.

Amadurecer é procurar paz, e, caso venha acompanhada de um amor, tiramos a sorte grande! É procurar calma na maneira de amar, reciprocidade nas atitudes e sensibilidade nas palavras. Ser maduro no ato de amar é conservar a liberdade do outro sem pedir nada em troca, é poder, sim, sentir um pouco de ciúmes, mas controlar a impulsividade. É, muitas vezes, durante uma discussão, ficar irritado com o outro, mas, em vez disso, pegar sua mão e, com a ponta dos dedos, desenhar um carinho. Convenhamos, ser feliz é muito mais gostoso do que ter razão.

Amadurecer é sofrer com propriedade e por muitos momentos sentir-se perdido em um mundo que cobra tanto que sejamos outras pessoas. E entender, ou fingir que entende, que a solidão é um contato diário com a coisa mais bela que carregamos conosco: a nossa desorganização interior.

Amadurecer é, por muitas vezes, pedir um suco de laranja em vez de uma cerveja, por saber que amanhã o despertador vai nos infernizar às seis da manhã. É lembrar de telefonar para algum parente para quem não ligamos faz tempo, só para, sei lá, aliviar a consciência. É pagar as contas e, antes de dormir, fazer cálculos e nos questionar até quando a falta de dinheiro será uma constante. É cansar das pessoas e muitas vezes querer sumir por aí. Amadurecer é aprender a dizer “não” sem se sentir culpado por dar prioridade a si.

Amadurecer é abrir a cabeça em momentos que pedem empatia, é pensar antes de falar e não dizer tudo o que lhe vem à mente. Amadurecer é compreender que estar com a autoestima em dia é ter a segurança de falar sobre as suas inseguranças. É ser triste, feliz e maluco, tudo no mesmo dia, e não se culpar por isso. É também não julgar os nossos desejos sexuais – até porque quanto mais desvairados, melhor –, nem nos sentir estranhos por carregar conosco encantadoras imperfeições.

Ninguém amadurece sem sofrer, sem sentir o apertar do bolso e do coração, sem chorar logo pela manhã ou ao final do expediente, sem admitir para si mesmo a solidão que carrega no peito, os fracassos e as belas gordurinhas que envolvem o seu corpo. Amadurecer é um estado lindo de consciência, calmaria e igualdade entre as pessoas.

12 de abril de 2021

Por que você deve escrever todos os dias

Muito já se falou sobre os benefícios de ler todos os dias, tanto em nível pessoal quanto social. Inclusive, há campanhas em prol da leitura quase todo ano. De fato, os benefícios são múltiplos. Ler aumenta o conhecimento, o vocabulário, a cultura e o senso crítico, só para citar algumas das vantagens mais conhecidas.  Mas há até indícios de que a leitura também confere proteção contra doenças com Alzheimer, diminui os níveis de estresse e ansiedade e tem uma correlação com mais dinheiro e sucesso profissional. Em suma: ler é maravilhoso e deve ser feito todos os dias, sem contraindicações.

Mas e escrever? Pouco se fala sobre os benefícios da escrita. No entanto, há de se reconhecer que, embora a leitura seja muito estimulante, é evidente que a escrita é ainda mais benéfica para o cérebro. Além da imaginação e do senso crítico, que são também acionadas na leitura, escrever é um processo criativo. Nesse sentido, é mais ativo e requer um esforço maior. Escrever nos obriga a pensar mais, melhor e com maior profundidade.

Sendo um processo inerentemente introspectivo, escrever promove um outro nível de autoconhecimento. Arrisco dizer que a leitura pode nos inspirar e nos tocar, mas só a escrita nos leva às profundezas, revelando nossas sombras e desejos mais íntimos. Jung disse: “Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”. Escrever é – entre outras coisas – dar espaço a esse olhar.

Por fim, vale a pena lembrar o óbvio: para ler é preciso que alguém antes escreva. Para aprender com muita gente e conhecer mundos novos, é preciso que mais gente escreva. Cadê o incentivo para a escrita? Quantas reflexões importantes, histórias fascinantes e experiências inspiradoras estamos deixando de conhecer porque falta às pessoas o hábito e a habilidade de escrever?

Portanto, vamos escrever mais. Todos os dias. Para pensar e nos comunicar melhor. Como ferramenta de autoconhecimento e modulação emocional Mas, sobretudo, para contar nossas histórias, que são únicas e merecem ser compartilhadas.

Se você gostou deste artigo, te convido a conhecer meu curso online de Autoconhecimento através da Escrita. O curso é para quem quer se autoconhecer, se comunicar de forma mais autêntica, desenvolver o hábito de escrever e aprender a lidar melhor com as suas emoções.

Está com dificuldade de seguir em frente depois de uma relação que havia muito sentimento?

Quer dar a volta por cima e resgatar o seu bem-estar emocional?

Fred Elboni 2022 — Todos os direitos reservados