Sartre teria dito que “o inferno são os outros” – e quem sou eu para discordar do filósofo? Mas não podemos negar que a pandemia nos mostrou o quão essencial são esses outros para nosso bem-estar. Sem os amigos, parentes, colegas de trabalho, afetos - e até os desafetos - a vida ficou menos colorida e menor, mais limitada. Todos nós, até os mais introspectivos, estamos com muita saudade das pessoas.
Por outro lado, as pessoas são complexas e, muitas vezes, relacionar-se acaba sendo fonte de atrito, estresse ou angústia. Andei pensando sobre isso e me ocorreram alguns princípios básicos e universais que, ao servirem de estrela guia, podem nos guiar relacionamentos melhores em qualquer esfera. São eles:
1. Escute mais e melhor.
Todo mundo quer ser tratado com dignidade e reconhecido em sua singularidade. Em outras palavras, todo mundo quer ser visto e ouvido de verdade. Por isso, sempre que possível, dê espaço para o outro se expressar, escutando-o a fim de compreender sua visão e não de contestá-la.
Para escutar mais e melhor, é interessante aprender a cultivar o silêncio – tanto externo, para que o outro fale, quanto interno, para que sua mente não preencha os silêncios com pensamentos, julgamentos e respostas enquanto o outro estiver falando.
2. Não tente mudar o outro.
É tão comum pensar: “ah, mas se fulano fosse mais x ou menos y, tudo seria resolvido!” Aí, ao invés de olharmos para nossas expectativas ou nossa contribuição para tal comportamento, tentamos com todas as forças moldar a pessoa para que ela seja mais como nós gostaríamos. Às vezes agimos como um escultor com um cinzel na mão, tentando moldar o outro conforme a nossa visão, mas isso é um tanto arrogante, não é mesmo? Você gostaria de estar no lugar do mármore esculpido ou sequer de ser visto como tal?
Uma boa dose de humildade pode ser o ingrediente secreto para fazer aquele relacionamento azedo ficar mais palatável.
3. Seja radicalmente honesto.
Que mentiras e manipulações minam qualquer relação a gente já sabe. Mas o não dito – as mágoas engolidas, as expectativas frustradas, os desejos ocultos – também podem corroer os relacionamentos, até que fiquem tão frágeis e desgastados que só trazem tristeza ou desgosto.
Por isso, aposte na honestidade, mesmo quando isso aparentemente lhe colocará numa posição frágil. É claro que o tato e a delicadeza são essenciais para a boa comunicação, mas é igualmente importante ser verdadeiro e honesto. Lembre-se: a vulnerabilidade é essencial para a conexão.
4. Demonstre apreço e afeto.
De nada adianta escutar, aceitar e se comunicar com o outro sem que haja um sentimento caloroso por trás. Sem o afeto, sem a ternura que emana do coração, seríamos apenas máquinas utilitárias, agindo de forma programada para extrair os melhores resultados. Que visão pobre e limitada da humanidade!
Em tempos tão sombrios e assustadores, é preciso lembrar que nem o mais racional dos seres humanos é feito 100% de razão (e os que não tem amor são psicopatas). Lembre-se: o afeto é revolucionário.
5. Estabeleça e comunique limites.
Por fim, para muitos de nós – sobretudo os sensíveis, os que querem muito agradar, os que não sabem dizer não – é fundamental estabelecer limites nos relacionamentos. Dar sem receber, doar-se para os outros, amar incondicionalmente é muito bonito e louvável, mas sem reciprocidade é destrutivo.
Acima de tudo, é preciso amar e respeitar a nós mesmos. O autoconhecimento, o amor próprio e o respeito por si são o tripé que sustenta qualquer relacionamento saudável.
Espero que essas dicas sejam o ponto de partida para reflexões e conversas transformadoras para você, embora eu tenha certeza de que deixei muita coisa importante de fora. Quais são as suas dicas de ouro para relacionamentos melhores?