22 de agosto de 2021

A magia do toque

Vou contar um segredo: sempre achei que existem pessoas que têm poderes nas mãos. Eu sei que pode parecer louco, mas o que nesta vida não é? Tive sorte de esbarrar, e até amar, algumas pessoas que tinham um toque diferente, especial, um poder nas mãos, que mexia com o corpo e arrepiava a alma. Talvez elas transmitissem uma energia especial, que transcende as coisas terrenas.

O toque para mim é uma das coisas mais importantes tanto no sexo quanto no amor. As mãos têm uma magia linda que consegue criar sensações únicas e inexplicáveis. Com elas contamos histórias e conseguimos transportar a pessoa que tocamos para dentro do nosso universo, nem que seja por um breve instante, para mostrar o que há em nosso íntimo. O toque é como uma conversa divertida e sincera, que flutua entre risos, e faz com que possamos narrar o que já vivemos e o que ainda gostaríamos de viver. Ele nos faz querer que o tempo não passe, e ele quase para mesmo, já que entramos em um momento que tem a duração do infinito.

Brincar de tocar no corpo de alguém, descobrindo e desvendando suas curvas, em uma oportunidade única de encontro, é uma das experiências mais gostosas que se pode viver. O toque atrai, conecta, traz proximidade e informações sem palavras. É a energia da intimidade pura fluindo entre duas pessoas.

Uma vez, recebi uma massagem que eu chamaria mesmo de transcendental, feita por uma pessoa com quem me relacionei. Era a primeira vez que saíamos. Estávamos deitados e ela começou a me massagear as costas. Eu não havia pedido ou dito que gostava, e nem ela anunciou o que iria fazer, tampouco pediu o mesmo em troca. Somente sentou-se sobre minhas costas, me colocando de bruços, e começou a flertar com minha pele. Foi a coisa mais mágica que já senti, muito além de todas as loucuras sexuais que já experimentei. E não pela massagem em si, mas pelo que emanava das mãos dela.

Quando tocamos em alguém, ou quando tocam em nosso corpo, transferimos nossa energia para aquela pessoa, deixando nela vibrações boas ou ruins. Deveríamos prestar mais atenção nas pessoas com quem trocamos energia, valorizando mais o toque, o beijo, os abraços, sentindo-os com verdade, com profundidade, e não apenas de maneira superficial. Não só na pele.

Não quero dizer com isso que não podemos nos entregar às aventuras da vida sem ter maiores compromissos, ou que a intimidade exija amor. A magia do toque não implica em estar amando necessariamente, mas está ligada aos relacionamentos, às relações – sexuais, afetivas, amorosas e até de amizade – que façam sentido, que tenham verdade e uma energia mútua entre duas pessoas.

É como se elas precisassem viver juntas aquele momento, sem se preocupar com o tempo de entrega, apenas com o que há em um toque, tendo ele demorado um breve instante ou esteja perdurando por anos. Porque quando estamos nessa energia mágica, não precisamos nos preocupar com o tempo, já que o toque faz tudo parar.

15 de agosto de 2021

Talvez seja hora de evitar pessoas sem sensibilidade

Chega um dia em nossas vidas que a gente cansa de beijar bocas que conversam somente com a nossa boca. Queremos uma boca, um beijo, que palavreie com o nosso corpo inteiro, com o nosso interior, mas, principalmente, com a nossa maneira de observar a vida. Queremos beijos que transcendam boas energias e pessoas em que o convívio tenha leveza o suficiente para dividirmos as notícias do mundo e do coração, sem antever um olhar crivo e cheio de ressentimentos. Queremos conviver com alguém alegre por perto, que reclame menos e elogie mais, que flerte com os traumas e com a vida, e que, por favor, distribua mais amor e menos opiniões.

A verdade é que hoje não consigo mais me relacionar com quem não me transmite boas e, sobretudo, sinceras energias. Nem por uma noite, nem por um encontro. Muitas vezes ao deitar a minha cabeça no travesseiro e brincar de reler as histórias em que morri ao final, me questionei como consegui deixar almas tão pesadas deitarem na minha cama. E não que seja culpa delas, até porque, provavelmente, elas nem devem sentir o peso que carregam. Mas quando nos falta sensibilidade ou paciência para ouvi-la, costumamos nos abrir, e nos entregar, a pessoas que depois nos perguntamos o porquê dessa escolha tão desconexa.

Acontece que uma pessoa sensível, não é necessariamente uma pessoa sentimental. Uma pessoa sensível carrega em suas qualidades um reino de compreensão, paciência e silêncio. No geral, são pessoas que valorizam seus momentos sozinhos, que tem consigo empatia e não acreditam em verdades absolutas; na verdade, morrem de medo delas. São pessoas, quando seguras de si, que não dividem suas intimidades com o mundo, guardam para si. A sensibilidade quando apurada antevê situações, seleciona melhor os amores, as entregas e não cobra perfeição de ninguém. Ela valoriza os momentos e as pessoas, tem consigo beijo na testa quando necessário, mas também está cheia de putaria na escada de incêndio do prédio. Ela é como um anjo da guarda, um sexto sentido, que nos faz crer em um mundo menos egoísta; no amor e no sexo.

Então, no profundo mar da idade, a gente aprende – nem todos, infelizmente – a querer pessoas mais sensíveis ao nosso lado, seja por uma noite ou por uma esperança de eternidade. E não se preocupem, com o tempo as trocas ficam cada vez mais raras mesmo. A gente se questiona mais, fica mais plural e aumenta os pré-requisitos para dividir o que somos. Mas não podemos nos nivelar por baixo e aceitar situações, amores, relações, amorosas ou não, que não exalam mais a sensibilidade que a gente precisa, até porque ela é única exigência de quem quer amar com paz e sinceridade.

1 de agosto de 2021

História de amor interrompida

A sensação de ter uma história de amor interrompida é dolorosa demais para ser absorvida rapidamente, sobretudo quando tomamos consciência de que o tempo passado juntos não irá se repetir e as lembranças dos momentos felizes parecem abrir buracos em nosso coração.

Um amor que sofre uma inesperada intervenção do destino nos corrói justamente porque nunca saberemos o seu fim. A gente sofre e, na nossa cabeça, dá continuidade à história. A gente fantasia e alonga os anos, sempre trilhando o caminho da perfeição. Essa narrativa nunca desanda, nem tem rotas espinhosas, já que no mundo dos amores eternos podemos ser deuses e decidir o nosso destino.

Ter uma história de amor interrompida é se despedir de uma pessoa querida que parte para o desconhecido. É dar adeus a nosso lar – onde nos sentimos aconchegados e protegidos –, que tinha tudo para continuar sendo o nosso recanto.

O fato é que dizer adeus é dolorido demais para que saibamos lidar com isso com maturidade; o sofrimento da partida é sempre inédito – e necessário. Precisamos nos preparar para a hora de nos despedir e aprender a guardar os bons momentos na memória, mas sem achar que tudo o que não aconteceu seria lindo.

18 de julho de 2021

O que te faz querer ir embora?!

O que te faz querer ir embora?! Onde, em qual curva, nosso amor desandou?! De ti eu sabia as cicatrizes, as marcas de nascença, os medos e os livros preferidos. De ti escondi minhas esperanças e desejos para não te assustar, pois sei que te demoras ao amar. De ti eu ri, gargalhei, te amando e cuidando dos teus excessos, te contando meus rasgos internos e te protegendo do ressurgir dos meus traumas, pois sei que de nada eles adiantariam nessa relação.

Das tristezas que nunca me fizeram sentido, esta é a que está mais me doendo. Gostaria de mudar de afeição, de deixar de te amar e de largar minhas coisas na tua casa sem me preocupar, ou de fingir que preciso delas só para ir te ver. Mas, infelizmente, ainda gosto muito do nosso desarrumado. Portador de uma cabeça avoada, se sempre esqueci minhas coisas por aí, o que seriam algumas peças de roupa na casa de quem tanto amo!?

Não tenho poderes para não te deixar partir, voar como sempre quiseste, mas posso te pedir algumas coisas? Não me deixe sozinho quando a vida me pedir grandes decisões. Tenho tanto medo delas! E não me diz que esse adeus é definitivo, porque sei muito bem cuidar de ti, mas nunca soube como cuidar de mim mesmo. Ah, e, por favor, antes de se despedir, só me conta: tem algo que te faz feliz e que eu ainda não sei?!

4 de julho de 2021

Você não precisa ser forte o tempo todo

Um dia, em um livro, escrevi que chorar é preparar a alma para coisas novas. E cada vez mais acredito que isso seja verdade. Eu, por exemplo, costumo chorar com certa frequência, na maioria das vezes sozinho e sob pouca luz. Não que haja regras para chorar, mas é como se o meu choro só conseguisse ir ao banheiro de casa… Conforme as lágrimas caem, gosto de repensar e pesar cada uma delas, como se cada uma carregasse um motivo a ser compreendido, uma importância a ser dada, uma conversa a ser proposta, um adeus a ser aceito.

As pessoas que choram não são pessoas fracas, como muita gente pode pensar. Elas são fortes o suficiente para assumir suas fragilidades e chorar quando o corpo pede. Elas são fortes justamente por saberem respeitar seus limites. A gente desaba – é inevitável –, e não é justo ter que lidar com a pressão social de não poder desabar. Já basta o peso das tristezas acumuladas.

Muita gente diz não poder demonstrar suas fragilidades para não colocar para baixo quem está perto. Mas essa luta interna acaba criando, mesmo sem querer, uma imagem de que somos inabaláveis, e, caso um dia as lágrimas insistam em cair, as pessoas à nossa volta serão surpreendidas negativamente, afinal não esperavam isso de nós.

A verdade é que um dia a gente não aguenta e chora sem perceber. Acontece. E tudo bem. Pode chorar, chore muito, deixe as mágoas escorrerem pelo seu rosto; elas precisam ir embora por algum lugar. Ser forte não é saber conter certas emoções, mas sim saber quando soltá-las ao mundo.

27 de junho de 2021

Fomos um momento e continuamos sendo

Deitados na areia, conversávamos e, como se o amanhã fosse hipotético, divagávamos sobre os nossos sonhos. Brincávamos com a junção dos nossos sobrenomes sem medo de ser precipitados. Nos beijávamos lentamente, sem nos importar com o olhar crítico dos outros. Era tão acolhedor ser feliz ao teu lado, e, olhando de longe, torcíamos para que todos sentissem a alegria que a gente sentia. Gente feliz não se incomoda com a felicidade do outro, sabe como é...

Voltando para casa e ouvindo as mesmas músicas de sempre, eu me lembrava dela, apesar de tanto tentar evitar. E, flutuando em meio ao trânsito, achava difícil ser verdade tudo o que estávamos vivendo. Um amor assim, tão fluido, chega a ser surreal. Há tempos eu não me lembrava de como era gostoso lembrar de alguém com tanto carinho.

Chegava em casa alegre, vivo, querendo fazê-la dançar. Ligava a televisão para dar um tom familiar à nossa casa. Éramos isso, na verdade: uma família. Eu só a tinha, e ela só tinha a mim. A solidão nos ensinou tanta coisa... A ser mais responsáveis com a felicidade dos outros. A respeitar nossas vontades, mas, acima de tudo, compreender que toda relação é feita de concessões. Um pouco de ti, um pouco de mim, mas sempre bastante de nós.

Quando nos deitávamos, eu sempre acarinhava as costas dela, brincava com aquele nariz que pedia beijo na ponta e dizia, entre risadas de bobice, que o olhar dela brilhava mais comigo. Por favor, some comigo sem questionar o porvir. Me deixa te fotografar. Diz que o amanhã é todo nosso. Mas, por favor, me jura que a nossa alegria vai ser sempre assim...

Pensando nela, eu sorria para quem quer que fosse. Me sentia sereno e completo. Pois, ao lado dela, aprendi que felicidade é querer que um momento seja infinito. E com ela eu queria tanto que fosse... Pena que as coisas nem sempre são como planejamos. O tempo passa, as vontades mudam, os destinos tomam outro rumo. E a gente fica ali, como um sonho que passou. Diante disso, mesmo sabendo da alegria e da dor que trago no coração, confio na competência da vida em saber distribuir seus momentos. Até porque não tenho outra opção.

Hoje, digo aos céus como queria que ela voltasse. Mas voltasse devagar. Sem pressa. Consciente da calmaria gostosa que vivíamos. Pois, na certeza de que o nosso relacionamento era pluma, vivo sem muita euforia, esperando ela voltar, para entregar o meu amor, que ainda é todo dela.

20 de junho de 2021

Quem não diz o que sente se afoga em emoções

As certezas que eu carregava em meu coração não estão sendo mais tão certezas assim. Tudo o que eu achava certo, imutável, hoje não julgo mais, considero uma possibilidade e não mais uma certeza cheia de convicções. Por alguns momentos acreditamos piamente saber de tudo; o que é o amor; quem somos; quem os outros são; para onde estamos indo; mas será que realmente sabemos ou só fingimos saber para sentir que temos controle de algo? 

Não me cobrar querer ter controle ou estar sempre munido de certezas cada vez mais se torna um mantra silencioso. Pois me tira do pedestal da sublimidade e me faz aceitar ter comigo um carrossel de dúvidas. Me sinto feliz por conseguir quebrar as expectativas que tinha de mim mesmo. E se tenho comigo tantos porquês, o que me resta é ser sincero com o que sinto, mesmo sem carregar comigo todas as certezas deste mundo.

Agradeço por saber mudar. Me sinto amadurecendo, trocando de pele em pleno inverno. Quem não aceita o pedido interno de mudança, não é porque é verdadeiro consigo, mas porque não se tornam adaptável ao que a vida pede. A vida pede mudanças de olhar, de opiniões, de carinho e palavras. Mudar é rir das suas próprias certezas antigas, como quem diz: como eu te amei tanto? E está tudo bem; nunca devemos desprezar o que já amamos, mas conservar o que esse amor nos ensinou.

É preciso ser muito humilde para viver de forma honesta com os seus próprios sentimentos. Quem não diz o que sente se afoga em emoções e morre de sede frente ao mar. Por isso escrevo; para abrir meu coração, não para obter respostas. Para me sentir livre ao falar das minhas asperezas e das alegrias valseiam em mim. Todo coração verdadeiramente aberto é aberto porque precisa falar o que sente, não porque busca repostas.

Não abrimos o coração buscando essas respostas, pois elas são passos que não podemos dar. Muito menos mudamos os nossos pensamentos para sermos aceitos pelos outros, mas para aprendermos a nos tornar mais conscientes de nós. A gente fala o que sente para aprender a lidar com as nossas emoções. A gente muda para aprender a lidar com a nossa ignorância. 

Seja a mudança ou o contar das emoções, fato é que um coração aberto à vida é um coração que está com o terreno fértil para receber amor... mesmo que não receba da maneira que se espera.

13 de junho de 2021

Confio em você

Naquele dia, me vi no teu jeito sereno de lidar com os problemas e agradeci por ter alguém assim ao meu lado. Com medo, contei as minhas maiores tragédias, aguardando olhares de julgamento que nunca chegaram. Nos teus olhos contei as palavras de amor que dançavam na tua retina, e sorri sozinho, pois me senti amando, e mais que isso, senti que estava confiando em quem eu estava amando… e não há nada mais doce do que amar alguém em que confiamos.

Quando sinto que a confiança senta ao lado dos nossos melhores beijos, sei que estamos vivendo um amor saudável. Bem acompanhados, o nosso encontro se tornou uma possibilidade de contar segredos dos quais poucos entenderiam. Daqueles que contamos envergonhados e imploramos para o outro não rir. A nossa confiança brotou de sentimentos tão felizes que me apavoro só de pensar em ouvir ela dizendo adeus e eu estar sozinho para fechar a porta.

Não sei se te amo pois confio em você ou confio em você porque te amo. Mas espero que a confiança nunca deixe de sentar ao nosso lado, mesmo quando os beijos caminharem para lugares mais obscenos. E que se a gente se magoar, nunca seja um motivo para desacreditar nas pessoas. Somos um presente com ansiedade de futuro; um beijo cheio de esperança; uma intimidade que conta histórias; somos risadas intermináveis e tristezas que hoje são alegrias.

6 de junho de 2021

Sou grossa, mas um amorzinho

“Por que você nunca me dá carinho?”, perguntei esses dias ao Pedro.

“Pelo que eu lembre, desde que te conheci, você nunca foi muito disso...”

“Mas todo mundo gosta de carinho, sabia?” Pasmem, até eu.

“Claro que eu sei, mas sempre que faço um carinho parece que você entra em modo de alerta, como se não gostasse, ou fosse algo invasivo, e para mim é difícil lidar com isso.”

“Como assim ‘modo de alerta’?” Eu sei, não sou a mulher mais carinhosa do mundo, mas, sei lá, naquele dia eu estava diferente.

“Você fica estática, sem reação, parece que não sabe se entregar para o carinho que estou te dando.”

“É, talvez eu não saiba.” “É, você não sabe.”

“Mas hoje eu quero, como faz?”

“Tudo bem, o difícil é eu saber quando você quer ou não.” “Você tem que sentir, ué...”

“Não é tão fácil assim...”

“Você acha que sou muito grossa?!”

“Não sei, você é carinhosa em certos momentos, tem uma visão bonita sobre o amor, mas ao mesmo tempo tem algumas reações difíceis de interpretar, nunca sei se são brincadeiras ou grosserias de verdade. Fora que você até hoje se entregou muito pouco aos mimos que já tentei te fazer, digamos que você seja meiga como um tijolo...

Foi nesse dia que achei a minha definição no mundo: meiga como um tijolo. É, de fato, eu sou um tijolinho! Sou um pouco grossa, mesmo não querendo ser. Também sou meio estabanada e desligada. Mas isso não quer dizer que não haja amor em mim e na maneira como vejo o mundo, longe disso! Eu gosto de amar, de me apaixonar, gosto de ajudar quem precisa, fazer caridades genuínas e abraçar quem me transmite boa energia. A única questão é que não sei reagir muito bem em algumas situações amorosas, alguns carinhos que pedem muita entrega. Sou um pouco avessa a grude. Acontece que sou sensível,,mas não melosa quando o assunto é relacionamento.

Sou apaixonada, vivo os momentos com intensidade, mas não sou uma romântica nata. Acredito no amor, mas não sou muito afeita a cafuné ou carinhos nas mãos. E isso não quer dizer que eu não goste da pessoa, mas, sim, que não consigo demonstrar os meus sentimentos nas relações como demonstro nas outras áreas da vida haha! Sério, morro de medo – pavor! – de namorar alguém que me leve flores e chocolates no trabalho ou (uma ideia completamente estranha, puts!) pare com um carro de som na porta da minha casa e me faça uma declaração. Na verdade, acho que nunca namoraria alguém assim. Até porque não gosto de chocolate nem de coisas espalhafatosas. E não tenho lá muita paciência com fofuras, mas isso não significa que eu não goste de carinho também... A questão é: como fazer o Pedro entender esses meus limites, tão tênues, que nem eu entendo?

Algo muito peculiar acontece comigo quando sou fofa ou romântica em alguma situação – sim, esses momentos existem. Quando estou sendo fofa ou romântica, não gosto que me deixem sabendo que estou sendo fofa e romântica. Digo, não gosto que joguem na minha cara que estou sendo romântica; parece que me sinto vulnerável, mesmo isso sendo uma enorme besteira. Deu para entender?! Pode chegar de mansinho, fingindo que não sabe de nada, ir curtindo os meus momentos de romantismo, mas, caso me olhe nos olhos e diga “ah, você sendo romântica, o que aconteceu?”, eu me fecho na hora. É automático. Coisa minha. E, diferente do que muitos pensam, eu digo que amo, que sinto saudade. Mas, claro, sempre seguido de um adjetivo lindo, ou não seria eu. Então, sempre que me refiro sentimentalmente a ele, digo: “Eu te amo, seu idiota” ou “Eu te adoro, seu besta”. E mudar isso seria como perder o meu jeitinho meigo de ser. Digamos que eu não seja a pessoa mais delicada e fina do mundo.

É... O Pedro sempre disse que eu parecia a Fiona! Nunca sei se deveria achar isso meigo ou um insulto. Mas, como a gente se zoava muito, sempre levei na brincadeira. Na verdade, toda a nossa relação era na base da brincadeira, com respeito, claro, mas cheia de brincadeiras. E quando você descobre alguém com quem, além de namorar, fazer sexo e construir uma casa de madeira perto da praia, você pode zoar, A VIDA FICA SENSACIONAL!

Sinceramente, não conseguiria namorar alguém com quem eu não pudesse tirar com a cara. Parece que a maioria das pessoas gostaria de casar com alguém com quem vai construir uma vida linda, com filhos, cachorros e um grande jardim – e não é que eu não queira viver um grande amor, e não que isso (uma casa, filhos e cachorros) seja parâmetro para ser um grande amor, mas ok –, mas, antes de qualquer coisa, eu quero me casar com alguém que eu possa irritar pro resto da vida! Pentelhar, fazer brincadeiras idiotas, rir de coisas bestas, empurrar na piscina, contar as piadas infantis e sem graça que me vêm à mente sem ter que ficar mensurando previamente dentro de mim se a pessoa ficará chateada ou não... Santa paciência!

Agora, pensando no diálogo que tive com Pedro, preciso admitir que ele tem razão. Eu não sei receber carinho, por mais que eu goste. Na verdade, eu não sei demonstrar que gosto de carinho. Às vezes gosto, às vezes não gosto. Caramba, se nem eu me entendo, por que ele deveria me entender? É, eu sempre fui essa mescla de sensibilidade e grosseria. Um escudo? Não sei, talvez eu tenha medo de que vejam a minha fragilidade, vai saber... E não é porque sou assim por fora que também seja assim por dentro. Não é porque sou fechada que não há amor dentro de mim. E sabe o que é mais fantástico? Tem gente que gosta! E melhor, gosta pra caralho. Enfim, eu sou grossa, eu sei, mas no fundo, bem lá no fundo, eu sou um amorzinho!

30 de maio de 2021

Um amor de domingo

O domingo, quando bem analisado e colocado contra a parede, às vezes deixa de ser um simples dia da semana e se torna um sentimento. Para alguns, ele é tristeza, angústia, reflexão, e para outros, é esperança de recomeçar um novo período. Independentemente da sensação ou do estado de espírito, aproveitar o domingo é como saborear um amor sereno. É ficar embaixo das cobertas que nem carambola, dar beijos calmos feito água doce, se satisfazer com pouco, mesmo sendo muito.

Domingo também é eufemismo de preguiça. Quer coisa mais gostosa que alguém que saiba viver a preguiça a dois? Juntinhos, em uma eternidade toda particular, viver na preguiça a dois é um prazer para poucos. É dormir junto mas acordar sozinho, pois um dos dois já foi ferver a água para fazer um café. É dormir junto mas acordar sozinho, pois um dos dois foi ver um filme na sala para não acordar o outro. Relacionar-se com alguém que só sabe viver loucuras também cansa, se torna vazio e pouco genuíno no longo prazo. Nem todos os amores precisam ser de sexta-feira. O dia a dia, com a idade, se torna menos loucura e pouco mais plane- jamento para o piquenique do fim de semana. (Como assim? Você nunca fez um piquenique?)

Diferentemente de alguns amigos, eu não busco mais um amor de sexta-feira. Claro, as aventuras ainda me parecem lindas, mas mesmo elas andam se apresentando de outra forma. Meus beijos obviamente ainda se pluralizam nos encontros, casuais ou não, mas não são mais regra. Minhas vontades não vêm mais em forma de tempestade, violentas e sem limites, mas em forma de chuva de verão, deliciosas e charmosas pela imprevisibilidade previsível.

É engraçado, mas quando digo querer um amor de domingo todos me entreolham, assustados, como se eu precisasse sempre viver um amor de sexta-feira. Mal sabem eles que todos os meus amores até hoje foram de sexta-feira. Eu sei, há quem procure um amor de sexta-feira porque já viveu muitos amores de domingo. Mas eu quero um amor de domingo porque de sexta-feira já vivi todos os segundos. São as fases da vida, ora calmaria, ora aventura.

Domingo tem cara de sexo gostosinho, assim no diminutivo. Tem cara de pipoca meio doce e meio salgada. Tem mescla de vida saudável pelo lindo dia de sol, mas também de sono de emergência durante a tarde. Tem beijo na nuca e carinho por trás da orelha. Tem céu cor de tangerina no pôr do sol e pizza sem culpa à noite. Tem preguiça e vontade de aproveitar a vida. Tudo ao mesmo tempo. Domingo é uma pessoa rude, mas que, no fundo, é um amorzinho.

Já tive alguns amores loucos de sexta-feira e todos me fizeram muito bem. Mas, hoje, um amor de domingo me soa mais parecido comigo, me faz ser o que realmente sou, filme, sexo de ladinho e ar-condicionado gelado para poder usar cobertas. Muitas pessoas esperam e anseiam a sexta-feira como solução dos problemas. Eu só espero que o domingo, como meu próximo amor, nunca acabe. Mesmo que eu saiba que, no final, tudo sempre acaba.

P.S.: Sério mesmo que você nunca fez um piquenique?

Está com dificuldade de seguir em frente depois de uma relação que havia muito sentimento?

Quer dar a volta por cima e resgatar o seu bem-estar emocional?

Fred Elboni 2022 — Todos os direitos reservados

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