O domingo, quando bem analisado e colocado contra a parede, às vezes deixa de ser um simples dia da semana e se torna um sentimento. Para alguns, ele é tristeza, angústia, reflexão, e para outros, é esperança de recomeçar um novo período. Independentemente da sensação ou do estado de espírito, aproveitar o domingo é como saborear um amor sereno. É ficar embaixo das cobertas que nem carambola, dar beijos calmos feito água doce, se satisfazer com pouco, mesmo sendo muito.
Domingo também é eufemismo de preguiça. Quer coisa mais gostosa que alguém que saiba viver a preguiça a dois? Juntinhos, em uma eternidade toda particular, viver na preguiça a dois é um prazer para poucos. É dormir junto mas acordar sozinho, pois um dos dois já foi ferver a água para fazer um café. É dormir junto mas acordar sozinho, pois um dos dois foi ver um filme na sala para não acordar o outro. Relacionar-se com alguém que só sabe viver loucuras também cansa, se torna vazio e pouco genuíno no longo prazo. Nem todos os amores precisam ser de sexta-feira. O dia a dia, com a idade, se torna menos loucura e pouco mais plane- jamento para o piquenique do fim de semana. (Como assim? Você nunca fez um piquenique?)
Diferentemente de alguns amigos, eu não busco mais um amor de sexta-feira. Claro, as aventuras ainda me parecem lindas, mas mesmo elas andam se apresentando de outra forma. Meus beijos obviamente ainda se pluralizam nos encontros, casuais ou não, mas não são mais regra. Minhas vontades não vêm mais em forma de tempestade, violentas e sem limites, mas em forma de chuva de verão, deliciosas e charmosas pela imprevisibilidade previsível.
É engraçado, mas quando digo querer um amor de domingo todos me entreolham, assustados, como se eu precisasse sempre viver um amor de sexta-feira. Mal sabem eles que todos os meus amores até hoje foram de sexta-feira. Eu sei, há quem procure um amor de sexta-feira porque já viveu muitos amores de domingo. Mas eu quero um amor de domingo porque de sexta-feira já vivi todos os segundos. São as fases da vida, ora calmaria, ora aventura.
Domingo tem cara de sexo gostosinho, assim no diminutivo. Tem cara de pipoca meio doce e meio salgada. Tem mescla de vida saudável pelo lindo dia de sol, mas também de sono de emergência durante a tarde. Tem beijo na nuca e carinho por trás da orelha. Tem céu cor de tangerina no pôr do sol e pizza sem culpa à noite. Tem preguiça e vontade de aproveitar a vida. Tudo ao mesmo tempo. Domingo é uma pessoa rude, mas que, no fundo, é um amorzinho.
Já tive alguns amores loucos de sexta-feira e todos me fizeram muito bem. Mas, hoje, um amor de domingo me soa mais parecido comigo, me faz ser o que realmente sou, filme, sexo de ladinho e ar-condicionado gelado para poder usar cobertas. Muitas pessoas esperam e anseiam a sexta-feira como solução dos problemas. Eu só espero que o domingo, como meu próximo amor, nunca acabe. Mesmo que eu saiba que, no final, tudo sempre acaba.
P.S.: Sério mesmo que você nunca fez um piquenique?