“Por que você nunca me dá carinho?”, perguntei esses dias ao Pedro.

“Pelo que eu lembre, desde que te conheci, você nunca foi muito disso...”

“Mas todo mundo gosta de carinho, sabia?” Pasmem, até eu.

“Claro que eu sei, mas sempre que faço um carinho parece que você entra em modo de alerta, como se não gostasse, ou fosse algo invasivo, e para mim é difícil lidar com isso.”

“Como assim ‘modo de alerta’?” Eu sei, não sou a mulher mais carinhosa do mundo, mas, sei lá, naquele dia eu estava diferente.

“Você fica estática, sem reação, parece que não sabe se entregar para o carinho que estou te dando.”

“É, talvez eu não saiba.” “É, você não sabe.”

“Mas hoje eu quero, como faz?”

“Tudo bem, o difícil é eu saber quando você quer ou não.” “Você tem que sentir, ué...”

“Não é tão fácil assim...”

“Você acha que sou muito grossa?!”

“Não sei, você é carinhosa em certos momentos, tem uma visão bonita sobre o amor, mas ao mesmo tempo tem algumas reações difíceis de interpretar, nunca sei se são brincadeiras ou grosserias de verdade. Fora que você até hoje se entregou muito pouco aos mimos que já tentei te fazer, digamos que você seja meiga como um tijolo...

Foi nesse dia que achei a minha definição no mundo: meiga como um tijolo. É, de fato, eu sou um tijolinho! Sou um pouco grossa, mesmo não querendo ser. Também sou meio estabanada e desligada. Mas isso não quer dizer que não haja amor em mim e na maneira como vejo o mundo, longe disso! Eu gosto de amar, de me apaixonar, gosto de ajudar quem precisa, fazer caridades genuínas e abraçar quem me transmite boa energia. A única questão é que não sei reagir muito bem em algumas situações amorosas, alguns carinhos que pedem muita entrega. Sou um pouco avessa a grude. Acontece que sou sensível,,mas não melosa quando o assunto é relacionamento.

Sou apaixonada, vivo os momentos com intensidade, mas não sou uma romântica nata. Acredito no amor, mas não sou muito afeita a cafuné ou carinhos nas mãos. E isso não quer dizer que eu não goste da pessoa, mas, sim, que não consigo demonstrar os meus sentimentos nas relações como demonstro nas outras áreas da vida haha! Sério, morro de medo – pavor! – de namorar alguém que me leve flores e chocolates no trabalho ou (uma ideia completamente estranha, puts!) pare com um carro de som na porta da minha casa e me faça uma declaração. Na verdade, acho que nunca namoraria alguém assim. Até porque não gosto de chocolate nem de coisas espalhafatosas. E não tenho lá muita paciência com fofuras, mas isso não significa que eu não goste de carinho também... A questão é: como fazer o Pedro entender esses meus limites, tão tênues, que nem eu entendo?

Algo muito peculiar acontece comigo quando sou fofa ou romântica em alguma situação – sim, esses momentos existem. Quando estou sendo fofa ou romântica, não gosto que me deixem sabendo que estou sendo fofa e romântica. Digo, não gosto que joguem na minha cara que estou sendo romântica; parece que me sinto vulnerável, mesmo isso sendo uma enorme besteira. Deu para entender?! Pode chegar de mansinho, fingindo que não sabe de nada, ir curtindo os meus momentos de romantismo, mas, caso me olhe nos olhos e diga “ah, você sendo romântica, o que aconteceu?”, eu me fecho na hora. É automático. Coisa minha. E, diferente do que muitos pensam, eu digo que amo, que sinto saudade. Mas, claro, sempre seguido de um adjetivo lindo, ou não seria eu. Então, sempre que me refiro sentimentalmente a ele, digo: “Eu te amo, seu idiota” ou “Eu te adoro, seu besta”. E mudar isso seria como perder o meu jeitinho meigo de ser. Digamos que eu não seja a pessoa mais delicada e fina do mundo.

É... O Pedro sempre disse que eu parecia a Fiona! Nunca sei se deveria achar isso meigo ou um insulto. Mas, como a gente se zoava muito, sempre levei na brincadeira. Na verdade, toda a nossa relação era na base da brincadeira, com respeito, claro, mas cheia de brincadeiras. E quando você descobre alguém com quem, além de namorar, fazer sexo e construir uma casa de madeira perto da praia, você pode zoar, A VIDA FICA SENSACIONAL!

Sinceramente, não conseguiria namorar alguém com quem eu não pudesse tirar com a cara. Parece que a maioria das pessoas gostaria de casar com alguém com quem vai construir uma vida linda, com filhos, cachorros e um grande jardim – e não é que eu não queira viver um grande amor, e não que isso (uma casa, filhos e cachorros) seja parâmetro para ser um grande amor, mas ok –, mas, antes de qualquer coisa, eu quero me casar com alguém que eu possa irritar pro resto da vida! Pentelhar, fazer brincadeiras idiotas, rir de coisas bestas, empurrar na piscina, contar as piadas infantis e sem graça que me vêm à mente sem ter que ficar mensurando previamente dentro de mim se a pessoa ficará chateada ou não... Santa paciência!

Agora, pensando no diálogo que tive com Pedro, preciso admitir que ele tem razão. Eu não sei receber carinho, por mais que eu goste. Na verdade, eu não sei demonstrar que gosto de carinho. Às vezes gosto, às vezes não gosto. Caramba, se nem eu me entendo, por que ele deveria me entender? É, eu sempre fui essa mescla de sensibilidade e grosseria. Um escudo? Não sei, talvez eu tenha medo de que vejam a minha fragilidade, vai saber... E não é porque sou assim por fora que também seja assim por dentro. Não é porque sou fechada que não há amor dentro de mim. E sabe o que é mais fantástico? Tem gente que gosta! E melhor, gosta pra caralho. Enfim, eu sou grossa, eu sei, mas no fundo, bem lá no fundo, eu sou um amorzinho!