Eu adoro ouvir músicas calmas, pois elas têm o poder de me transportar para acontecimentos do passado, amores antigos, histórias que gostei de viver. Quando estou com minhas músicas prediletas, deixo a saudade fluir por meus poros, como se ela pudesse resgatar e trazer de volta para o presente tudo de que estou sentindo falta. Meio masoquista, eu? É, também acho, mas o que fazer se convivo com tantos sentimentos confusos e espinhosos dentro de mim?

Honestamente, a saudade desperta em mim uma grande imaturidade. Eu me sinto perdido, não sei muito bem o que fazer e, no impulso, tomo atitudes das quais me envergonharia em meus momentos de sensatez. Mesmo sabendo que vou me entristecer, procuro mensagens antigas que trocava com pessoas amadas e as leio vagarosamente, relembrando como éramos carinhosos. Faço ligações em noites em que a caixa postal é uma visitante inconveniente entre as chamadas não atendidas. Deleto fotos (todas elas), com a segurança de quem sabe que amanhã, caso eu me arrependa, elas ainda estarão na lixeira. Assim, furto os sinais e os sintomas, e brinco de manter esperanças tolas.

Mas, e quando a saudade aperta demais, o que a gente faz? Chora, grita, se esconde, corre atrás do tempo perdido, divide as angústias com alguém que finge nos compreender, vai ao parque sozinho, vai ao cinema sozinho ou simplesmente dorme e torce para o tempo ser uma boa amizade. Podemos fazer qualquer coisa com a saudade, até saná-la com doces cobertos de chocolate, mas nunca fingir que nada está acontecendo, já que isso seria um desrespeito com nossa capacidade de amar.

A saudade brinca de doer e, injustamente, tira para dançar quem nunca ensaiou o adeus. Ela é uma lembrança de que houve amor, seguida de dores que transportam a alma para um passado bonito, mas distante. Sentir saudade é perceber que alguém deixou em nós mais de si do que poderíamos suportar. Por outro lado, quem nunca morreu de saudade nunca morreu de amor. E tem coisa mais gostosa do que dizer a você mesmo que já morreu de amor?

Amar de verdade é um encontro lindo com a vida. É como se, mesmo que com um pouco de tristeza, você soubesse que viveu seus momentos com entrega. Definir a saudade em palavras é fácil e até bonito. Difícil é conviver com a dor que ela traz. Mas aí a gente sempre tem as músicas calmas para ajudar.