Às vezes parece que estamos num cabo de guerra com nós mesmos, não é? De um lado, uma voz que diz: isso não é o bastante, alcance a meta (depois dobre-a), dedique-se a melhorar e evoluir. Do outro lado, um sussurro: você é bom do jeito que é, aceite-se, pare de se autoflagelar e viva no presente.
A primeira voz é alta e incansável: quer nos ver agindo, fazendo, conquistando. Ganha volume com o coro de mensagens que recebemos por todos os lados e sintoniza com nossas inseguranças mais profundas. A segunda é mais suave, talvez por estar exausta de não ser ouvida e de estar batendo na mesma tecla. Mas é também onde o medo encontra eco; é dela que a covardia se apropria quando não quer que a gente saia do lugar do conforto.
Qual voz devemos ouvir, então?
Ambas são importantes e merecem ser ouvidas. Alguns de nós respondem melhor à busca pelo crescimento e outros sintonizam com mais naturalidade na frequência da autoaceitação. Cada pessoa e cada momento escolherá uma das duas para seguir.
O problema é quando achamos que uma é sempre boa e a outra sempre ruim; quando uma é exaltada e a outra desprezada. Viver nos extremos é sempre arriscado, pois perigamos cair na ingenuidade, no julgamento e na pequenez.
Criar metas, fazer mudanças e crescer é maravilhoso. Mas não é tão bacana quando vira obrigação ou pré-requisito para o amor próprio. Aceitar as condições do presente, especialmente quando fogem do ideal, é louvável. Mas não pode servir de desculpa para uma vida diminuída, amedrontada.
Em vez de uma ou outra, podemos escutar ambas. Não são excludentes. A autoaceitação do presente tira o peso da obrigatoriedade do sucesso e, paradoxalmente, facilita mudanças positivas por meio de motivações intrínsecas. Já a ação orientada para o futuro traz experiências novas, com o potencial de aumentar nosso autoconhecimento e amor próprio.
Portanto, esquece a pergunta acima sobre "qual escolher". Escute ambas. De verdade. Abra sua mente e veja o campo das possibilidades se expandir e lhe surpreender. A verdade é que você não precisa estar em movimento para ser alguém e também não precisa estar parado para se aceitar. Você já é alguém digno de amor e respeito, assim como também é digno de sonhos e projetos que requerem esforço e determinação.