30 de maio de 2021

Um amor de domingo

O domingo, quando bem analisado e colocado contra a parede, às vezes deixa de ser um simples dia da semana e se torna um sentimento. Para alguns, ele é tristeza, angústia, reflexão, e para outros, é esperança de recomeçar um novo período. Independentemente da sensação ou do estado de espírito, aproveitar o domingo é como saborear um amor sereno. É ficar embaixo das cobertas que nem carambola, dar beijos calmos feito água doce, se satisfazer com pouco, mesmo sendo muito.

Domingo também é eufemismo de preguiça. Quer coisa mais gostosa que alguém que saiba viver a preguiça a dois? Juntinhos, em uma eternidade toda particular, viver na preguiça a dois é um prazer para poucos. É dormir junto mas acordar sozinho, pois um dos dois já foi ferver a água para fazer um café. É dormir junto mas acordar sozinho, pois um dos dois foi ver um filme na sala para não acordar o outro. Relacionar-se com alguém que só sabe viver loucuras também cansa, se torna vazio e pouco genuíno no longo prazo. Nem todos os amores precisam ser de sexta-feira. O dia a dia, com a idade, se torna menos loucura e pouco mais plane- jamento para o piquenique do fim de semana. (Como assim? Você nunca fez um piquenique?)

Diferentemente de alguns amigos, eu não busco mais um amor de sexta-feira. Claro, as aventuras ainda me parecem lindas, mas mesmo elas andam se apresentando de outra forma. Meus beijos obviamente ainda se pluralizam nos encontros, casuais ou não, mas não são mais regra. Minhas vontades não vêm mais em forma de tempestade, violentas e sem limites, mas em forma de chuva de verão, deliciosas e charmosas pela imprevisibilidade previsível.

É engraçado, mas quando digo querer um amor de domingo todos me entreolham, assustados, como se eu precisasse sempre viver um amor de sexta-feira. Mal sabem eles que todos os meus amores até hoje foram de sexta-feira. Eu sei, há quem procure um amor de sexta-feira porque já viveu muitos amores de domingo. Mas eu quero um amor de domingo porque de sexta-feira já vivi todos os segundos. São as fases da vida, ora calmaria, ora aventura.

Domingo tem cara de sexo gostosinho, assim no diminutivo. Tem cara de pipoca meio doce e meio salgada. Tem mescla de vida saudável pelo lindo dia de sol, mas também de sono de emergência durante a tarde. Tem beijo na nuca e carinho por trás da orelha. Tem céu cor de tangerina no pôr do sol e pizza sem culpa à noite. Tem preguiça e vontade de aproveitar a vida. Tudo ao mesmo tempo. Domingo é uma pessoa rude, mas que, no fundo, é um amorzinho.

Já tive alguns amores loucos de sexta-feira e todos me fizeram muito bem. Mas, hoje, um amor de domingo me soa mais parecido comigo, me faz ser o que realmente sou, filme, sexo de ladinho e ar-condicionado gelado para poder usar cobertas. Muitas pessoas esperam e anseiam a sexta-feira como solução dos problemas. Eu só espero que o domingo, como meu próximo amor, nunca acabe. Mesmo que eu saiba que, no final, tudo sempre acaba.

P.S.: Sério mesmo que você nunca fez um piquenique?

16 de maio de 2021

Cada um sente da sua maneira

Quando a saudade te atropela, você chora entre soluços silenciosos e enxuga as lágrimas como se não devesse sentir o que está sentindo, ou, sem pensar nas consequências, liga correndo para dizer que ama loucamente e que está morrendo de saudade da pessoa? Quando, pela fresta do coração, a carência dá as caras, você prefere dormir coladinho, dividir as cobertas e trocar carinhos na cabeça e nas mãos antes de dormir ou prefere preservar o seu espaço e a sua própria coberta – quem mandou o parceiro puxá-la enquanto dorme? Você diz o que verdadeiramente sente ou guarda somente para si? Você deixa o outro saber quão amado é ou se sente vulnerável ao dividir seus mais puros e honestos sentimentos?

Existem pessoas que tratam o amor como se ele fosse um jogo. Com fases, objetivos e territórios a serem conquistados e, caso as fases não sejam seguidas à risca, passo a passo, a vitória não será sincera. “Se a pessoa me ama, tem que dizê-lo todos os dias pela manhã.” “Se me quer em sua vida, tem que dizer e ainda me trazer presentes toda semana.” “Se quer me conquistar, tem que demonstrar repetidamente que me deseja.” O fato é que verdades absolutas no amor sempre são injustas. Cada um demonstra os sentimentos de uma forma, então tentar definir uma maneira que você acha certa é injusto com quem aprendeu a demonstrar o amor de outra forma.

Acontece que não é possível deixar de levar em consideração como os traumas e a diferença de criação impactam na maneira como demonstramos os sentimentos. Alguns falam, gritam e só não fretam um carro de som pois seria cafona demais para os dias atuais. Outros demonstram o amor na paciência, na calma, no olhar sereno e distante. Outros amam com intensidade e transportam esse amor em breves momentos de beijos e toques que fazem arrepiar. Eu, por exemplo, mergulho de cabeça e, na maioria dos casos, demoro para achar a saída das profundezas. Gosto da intensidade com a qual nasci, mesmo que muitas vezes ela me leve para o fundo do poço.

A verdade é que a parte mais bonita do amor está em situações as quais só a sensibilidade pode notar. Perceber nos detalhes o amor que o outro sente por você é uma das sensações mais delicadas e sublimes da vida. Às vezes, pode ser um toque sutil na perna do outro por baixo da mesa de jantar, ou um sorriso quando vai ao banheiro que diz “já volto, me espera…” ou um “te amo” inesperadamente dito durante o sexo. Observar nos detalhes, nas particularidades, quando o outro declara o seu amor é uma das descobertas mais gostosas ao amar.

Não existe uma maneira correta de demonstrar o amor; o importante é dizer, demonstrar, seja como for.

9 de maio de 2021

Aceitar o passado é também aceitar o presente

Na ansiedade de viver o novo e partir para o inexplorável os nossos olhos avistam felicidade em momentos regidos pelas distrações. Estar presente é estar com o coração distraído; e estar distraído é estar feliz com o que está se vivenciando. E se estamos com medo cobrimos os nossos algozes companheiros com panos quentes e os colocamos em gavetas rentes ao chão por preguiça de dobrar os joelhos. Pois, convenhamos, somos reis na arte de desejarmos soluções fáceis para momentos difíceis.

Tirando o passado de protagonismo e deixando-o orquestrar outros sentimentos conseguimos seguir rumo ao desconhecido. Aceitamos que o resgate dos toques não arrepia mais, as risadas vão, pouco a pouco, perdendo o som agudo e as lembranças que tanto insistem em serem atuais se tornam notícias de jornais de outro século. Dia após dia, aquele passado que tanto sustentou a felicidade do presente, se torna um beijo que ninguém mais faz questão de receber.

Sendo criador dos nossos maiores martírios ele nos possibilita amadurecer e muitas vezes nos faz crer cegamente que a felicidade é uma aptidão infantil. Acontece que o passado somente se torna translúcido e essencial para quem o aceita com o coração. Não há como receber as novidades do presente sem aceitar a existência do passado. Ele é o brotar dos aprendizados, a raiz das novas escolhas, mas não precisa ser revivido diariamente. Um passado mal resolvido perturba e faz o presente sempre surrar seu constante término: “Tenha medo, eu posso acabar a qualquer momento”. E tristemente, se não aceitarmos o passado como nosso, perderemos as belezas silenciosas que o presente poderá nos distribuir.

3 de maio de 2021

10 livros de autoconhecimento que você precisa ler

Todo livro é uma oportunidade para se conhecer melhor, seja através de reflexões diretas ou de peregrinações imaginativas. No entanto, alguns livros me tocaram de forma especial e, através de cada um deles, aprendi uma lição que levarei para toda a vida. Aqui vão dez livros (de quatro continentes) que tiveram esse efeito em mim:

1. A coragem de ser imperfeito, Brené Brown

Essa carismática pesquisadora texana colocou em palavras ensinamentos sobre vulnerabilidade e conexão que eu já havia experimentado na pele e me deu as ferramentas para escrever o livro Coragem é agir com o coração. (Se quiser, faça como eu e comece pelo seu TED Talk, “O poder da vulnerabilidade”.)

2. Silêncio: na era do ruído, Erling Kagge

Quando voltei da minha viagem a Svalbard, uma amiga me recomendou esse livro lindo de um erudito explorador norueguês que consegue expressar como ninguém a beleza e a solidão do gelo. Com ele, aprendi a valorizar e cultivar ainda mais os momentos de quietude e introspecção.

3. O perigo de uma história única, Chimamanda Ngozi Adichie

Curtinho, porém poderoso, esse ensaio da premiada escritora nigeriana é um manifesto para sermos donos da nossa própria história e nunca desistir de contar a nossa verdade para o mundo. (Vale lembrar que o livro nasceu de um TED Talk.)

4. Amar e ser livre, Sri Prem Baba

Apesar do nome, Prem Baba é brasileiro, fato que só descobri quando terminei de ler esse livro, que me fez refletir profundamente sobre amor, expectativas e a importância de sermos radicalmente honestos não só com os outros, mas com nós mesmos.

5. Talvez você deva conversar com alguém, Lori Gottlieb

Nada traz tanto autoconhecimento quanto uma boa terapia. As histórias contadas por essa ex-roteirista – hoje psicóloga – norte-americana conseguem traduzir a beleza e a profundidade dessa relação/ experiência que é a psicoterapia, e ainda nos proporcionam lindos vislumbres da árdua tarefa de ressignificar experiências difíceis.

6. Sapiens, Yuval Noah Harari

Não, não é um livro de autoajuda, mas é uma obra sobre a humanidade e como chegamos até aqui. As fascinantes histórias e ácidas provocações do historiador israelense nos convidam a pensar: o que realmente importa e será que estamos caminhando em direção a nossos verdadeiros desejos?

7. 12 regras para a vida, Jordan Peterson

Enquanto alguns livros são carícias que aquecem o coração, outros são bofetadas que nos abrem os olhos para algumas verdades nuas e cruas, e o livro do psicólogo canadense se encaixa nessa segunda categoria. Eu gosto, em especial, das reflexões que ele faz sobre nossos aspectos sombrios.

8. O caminho do artista, Julia Cameron

Muito mais do que palavras para ler, este clássico, publicado originalmente em 1992, traz um programa de 12 semanas para destravar a criatividade, que inclui confrontar o crítico interior, fantasmas do passado e muitos outros exercícios elucidativos.

9. Aprenda a viver o agora, Monja Coen

Todo mundo sabe que sou fã dessa monja brasileira; ela tem uma capacidade incrível de revelar o que é simples e essencial. Neste livro, aprendi que nada exige nem desperta maior autoconhecimento do que a arte de viver no presente.

10. As coisas que você só vê quando desacelera, Haemin Sunim

Assinado por outro monge (dessa vez, coreano), esse livro não é como nenhum outro que já li. Versos singelos e imagens líricas parecem nos transportar a um lugar mágico em que sentir e pensar se mesclam, gerando insights inesquecíveis.

Qual desses livros você já leu? Quais outros você acrescentaria a esta lista?

2 de maio de 2021

Saudade é prova da capacidade de amar

Eu adoro ouvir músicas calmas, pois elas têm o poder de me transportar para acontecimentos do passado, amores antigos, histórias que gostei de viver. Quando estou com minhas músicas prediletas, deixo a saudade fluir por meus poros, como se ela pudesse resgatar e trazer de volta para o presente tudo de que estou sentindo falta. Meio masoquista, eu? É, também acho, mas o que fazer se convivo com tantos sentimentos confusos e espinhosos dentro de mim?

Honestamente, a saudade desperta em mim uma grande imaturidade. Eu me sinto perdido, não sei muito bem o que fazer e, no impulso, tomo atitudes das quais me envergonharia em meus momentos de sensatez. Mesmo sabendo que vou me entristecer, procuro mensagens antigas que trocava com pessoas amadas e as leio vagarosamente, relembrando como éramos carinhosos. Faço ligações em noites em que a caixa postal é uma visitante inconveniente entre as chamadas não atendidas. Deleto fotos (todas elas), com a segurança de quem sabe que amanhã, caso eu me arrependa, elas ainda estarão na lixeira. Assim, furto os sinais e os sintomas, e brinco de manter esperanças tolas.

Mas, e quando a saudade aperta demais, o que a gente faz? Chora, grita, se esconde, corre atrás do tempo perdido, divide as angústias com alguém que finge nos compreender, vai ao parque sozinho, vai ao cinema sozinho ou simplesmente dorme e torce para o tempo ser uma boa amizade. Podemos fazer qualquer coisa com a saudade, até saná-la com doces cobertos de chocolate, mas nunca fingir que nada está acontecendo, já que isso seria um desrespeito com nossa capacidade de amar.

A saudade brinca de doer e, injustamente, tira para dançar quem nunca ensaiou o adeus. Ela é uma lembrança de que houve amor, seguida de dores que transportam a alma para um passado bonito, mas distante. Sentir saudade é perceber que alguém deixou em nós mais de si do que poderíamos suportar. Por outro lado, quem nunca morreu de saudade nunca morreu de amor. E tem coisa mais gostosa do que dizer a você mesmo que já morreu de amor?

Amar de verdade é um encontro lindo com a vida. É como se, mesmo que com um pouco de tristeza, você soubesse que viveu seus momentos com entrega. Definir a saudade em palavras é fácil e até bonito. Difícil é conviver com a dor que ela traz. Mas aí a gente sempre tem as músicas calmas para ajudar.

26 de abril de 2021

5 passos para ter mais autoaceitação

Na semana passada escrevi um pouco sobre o dilema entre mudar e se aceitar, mas como somos estimulados a mudar muito mais do que a nos aceitar, hoje quero focar na autoaceitação. Vivemos numa sociedade altamente competitiva e aprendemos a medir o nosso valor em comparação aos outros. Estamos sempre “devendo”: não somos suficientemente bem-sucedidos, atraentes, ricos, inteligentes, cultos, evoluídos etc. etc.  Não é de se espantar, então, que a tal autoaceitação pareça tão inatingível!

Mas, para quem deseja estar mais em paz consigo mesmo, aqui vão algumas dicas:

1. Conheça-se de verdade.

O autoconhecimento é o ponto de partida porque não podemos nos aceitar sem antes nos conhecer. Isso requer honestidade, introspecção, coragem e tempo. Pode ser impulsionado por terapia (especialmente aquelas que exigem esforço e nos convocam a ver nossas sombras), por relacionamentos significativos, por mudanças inesperadas e pela escrita, entre outras coisas.

2. Pratique a autocompaixão.

Não adianta se conhecer e ficar se autoflagelando com exigências, culpas, remorsos e outras coisas que aumentam o sofrimento e a sensação de que você precisa ser diferente para ser alguém digno de amor e respeito. A autocompaixão não é o equivalente a passar a mão na cabeça dos erros cometidos ou das áreas em que você quer e pode melhorar; pelo contrário, é um antídoto contra emoções negativas fortes (ódio, vergonha etc.), que acabam sugando nossa energia e não nos permitindo avançar nos nossos projetos.

3. Leia bons livros, veja bons filmes.

Histórias nos inspiram a encontrar novos caminhos e novas compreensões. Por isso, não são uma “perda de tempo”, sobretudo quando são capazes de nos levar para lugares, sentidos e sentimentos que não costumamos experimentar. Estou falando do tipo de arte que não representa uma fuga, mas um potencial (re)encontro com partes esquecidas ou dormentes de nossa imaginação. Recentemente, um filme que me tocou muito – e que tem tudo a ver com a autoaceitação – é O som do silêncio (Amazon Prime), sobre um baterista de heavy metal que perde a audição.

4. Abrace suas paixões.

O que faz o seu coração cantar? O que lhe move sem que você precise se esforçar muito? O que lhe traz alegria, propósito, conexão? Estar envolvido com nossas paixões proporciona uma sensação de entusiasmo que tem tudo a ver com o estado de viver no presente que é um dos pilares da autoaceitação. Passar tempo com algo que o coloque nesse estado é essencial.

5. Seja paciente (e persistente).

Assim como não aprendemos a nos criticar da noite para o dia, não vamos nos aceitar como num passe de mágica. O caminho até a autoaceitação é longo, árduo e parece não avançar muito rápido no início. É que nem aprender a surfar depois de adulto. Primeiro temos que entrar na água fria, aprender a nos equilibrar, pegar a onda e tentar não cair (e vamos cair muitas vezes). É um processo demorado e difícil, porém bonito demais, mesmo quando uma onda vem e nos derruba. Faz parte, é só subir na prancha de novo e esperar a nova onda.

5 de abril de 2021

O que é escrita criativa?

A “escrita criativa” se popularizou nos últimos tempos, mas será que todos nós temos a mesma compreensão do que é escrita criativa? Afinal, embora todos vamos concordar sobre a definição da palavra “escrita”, o adjetivo “criativa” é um tanto subjetivo.

A Wikipédia define escrita criativa como “toda a escrita literária (textos literários), nomeadamente poemas, contos, novelas, romances, textos dramáticos, guiões” (para quem não sabe – e eu não sabia – “guião” é “roteiro” em português de Portugal). Mas, voltando para a Wikipédia, preciso dizer que achei essa definição excessivamente estreita, a começar pelo fato de que exclui todo e qualquer texto de não ficção! Quer dizer, então, que o Yuval Noah Harari, quando escreveu o best-seller Sapiens, não estava escrevendo criativamente? Ou que os textos de jornalistas, publicitários e profissionais de marketing não são criativos?

Limitar o termo “escrita criativa” a obras de ficção não me parece muito interessante. Prefiro a generosidade da definição do jornalista e escritor Ronaldo Bressane. Para ele, escrita criativa é “tudo que é escrito de modo criativo, ou seja, nem técnico, nem copiado”. Sucinto, abrangente e certeiro. Essa definiça abre o campo das possibilidades e, em última instância, convida todos nós a sermos mais criativos.

Rótulos de xampu podem ser criativos (os leitores de chuveiro agradecem).

E-mails triviais podem ser criativos.

Bilhetes românticos podem ser criativos.

Não seria lindo se todos nós usássemos a escrita como veículo para expressar a singularidade dos nossos pensamentos e emoções? Se aprendessemos a escrever não apenas para informar, assimilar conteúdos e fazer combinados, mas também para criar conexões, aumentar nosso autoconhecimento e expressar o que há de mais precioso dentro de nós – nossa essência única?

Sei que sou suspeito. Eu não só vivo da palavra como fui salvo pela escrita, como explico no meu livro Coragem é Agir com o Coração.  Sou um eterno apaixonado pela escrita criativa e quero imbuir em todos essa mesma paixão.

A vida é muito bela e muito complexa para limitarmos nossos textos a objetivos utilitários; nossa mente é ampla e extraordinária demais para regurgitar apenas ideias copiadas. Quando todos nós – escritores e engenheiros, médicos e motoristas, advogados e acadêmicos, entre outros – assumirmos a criatividade de nossos textos, tenho certeza de que ler e escrever serão tarefas que faremos com muito mais prazer e autenticidade.

Se você gostou deste artigo, te convido a conhecer meu curso online Escrita e Autoconhecimento: A arte de se encontrar através da palavra. O curso é para quem quer se autoconhecer, se comunicar de forma mais autêntica, desenvolver o hábito de escrever e aprender a lidar melhor com as suas emoções.

4 de abril de 2021

Deixar de amar pelo medo de sofrer é pobre demais

Um dia te disseram que você devia desapegar. Que devia se afastar dos sentimentos, dos amores e das pessoas que pudessem invadir sua privacidade emocional. Como se o desapego fosse um antídoto contra o sofrimento, como se isso transportasse as pessoas com más intenções para um universo distante e paralelo. Como se desapegar fosse a solução definitiva para os problemas de quem fez escolhas imperfeitas no amor. Mas como você vai amar com maturidade se fugir toda vez que o amor der as caras? Do que você quer tanto se proteger?

O pior é que vejo pessoas se colocando em um pedestal por não se apegarem, como se isso fosse um objetivo a ser alcançado, um superpoder. Triste. Como sempre digo, amar sem se colocar em uma situação de vulnerabilidade é impossível. E deixar de amar pelo eterno medo de sofrer é uma conduta pobre demais.

Você tem que se desapegar das coisas que te fazem mal, mas não das emoções. Buscar autoestima, se proteger de situações que sugam seu amor-próprio, se resguardar depois de uma relação turbulenta, por exemplo, são atitudes inteligentes, diferentemente de cultivar o desapego e a falta de responsabilidade. A gente precisa aprender a se apegar, sim, só que precisa aprender a selecionar as pessoas em quem vamos depositar nossas esperanças.

Nunca deixe que te digam que desapegar é uma maneira de não sofrer. Na verdade, o desapego só posterga os aprendizados que amar outra pessoa traz. E é bom que você saiba desde já que os sofrimentos são inevitáveis; é preciso aprender a lidar com eles. Para receber um amor, além de estarmos abertos a amar, precisamos estar preparados para a hora do adeus. Achar que você pode driblar a dor de sofrer por amor é uma ilusão. Por isso, ouça mais o seu interior do que a opinião de pessoas que pouco sabem sobre amar.

22 de março de 2021

A diferença entre escrever bem e escrever mal

No meu curso Escrita e Autoconhecimento, dedico um bom tempo para alertar contra o crítico interior – aquela voz negativa que sempre parece querer ajudar, mas que acaba sabotando nosso planos, nos mantendo presos na nossa zona de conforto. Com frequência, as críticas chegam num volume tão ensurdecedor que nós acabamos cedendo: “Ok, ok, você está certo. É melhor eu não escrever essa história”. E aí ligamos o Netflix, nos distraímos e não produzimos aquilo que tanto sonhamos. Uma lástima.

Mas matar o crítico interior é um erro igualmente grave. Porque o nosso senso crítico tem uma importância enorme na segunda fase da criação de qualquer texto: a fase da edição. E isso vale para um email, uma apresentação, um artigo acadêmico, uma tese, uma crônica, um livro inteiro. É importantíssimo dedicar tempo e esforço para reler o que você escreveu, de preferência com a mente descansada. E, nessa hora, chame o crítico interior para participar. “Amigo, agora sim eu gostaria do seu input”.

Pergunte-se:

  • O texto está claro?
  • O meu objetivo com esse texto foi comprido? 
  • O que poderia melhorar nessa frase, nesse parágrafo, para tornar o texto ainda mais efetivo?
  • Faltou alguma coisa: informação, emoção, tato?

Escrever bem acontece em duas etapas: escrever e depois melhorar o que foi escrito. O crítico interior, que tanto nos atrapalha na primeira etapa, é primordial na segunda. Em seu Master Class ensinando a escrever thrillers, Dan Brown – autor de  O Código Da Vinci e outros best-sellers – diz que “a diferença entre bons e maus escritores é que bons escritores sabem quando escrevem mal”. Ou seja: até bons escritores escrevem mal de vez em quando. A diferença é que eles usam o seu senso crítico para melhorar.

15 de março de 2021

Como escrever o e-mail perfeito

Li recentemente no The New Yorker um artigo do escritor Cal Newport em que ele argumenta que os e-mails estão nos deixando profundamente infelizes. De acordo com ele – e apoiado por vários estudos e especialistas – os emails criam “um ciclo tortuoso que aumenta nossa quantidade de trabalho ao mesmo tempo em que frustra, por meio da distração constante, nossa capacidade de realizá-lo com eficácia”. Mais grave do que isso, no entanto, é que, segundo Newport, o e-mail é uma forma “desumana” de trabalhar em equipe.

Fiquei um tempão refletindo sobre isso: será que existe uma forma de tornar o e-mail mais humano - menos uma fonte de estresse e mais uma ferramenta de conexão, sem perder a praticidade? 

Aqui vão algumas coisas que eu pensei:

1. Pergunte se o email é mesmo necessário.

Emails são como embalagens: práticas, muitas vezes necessárias, mas inegavelmente poluentes. Então, vamos ser ecológicos - quero dizer, econômicos com o seu uso. Se for supérfluo, não escreva. 

2. Copie só quem realmente importa.

Pelos mesmos motivos citados acima, não mande um email para quem não precisa recebê-lo. 

3. Escolha a hora certa.

Toda forma de comunicação tem um texto e um subtexto. Quando um chefe envia um email a seus subordinados no domingo, às onze da noite, o subtexto é: “não existe folga do trabalho”. Uma mensagem assim, dependendo do ambiente de trabalho, pode ser muito desagradável. Se necessário, escreva, mas deixe para enviar na manhã seguinte.

4. Seja claro e objetivo.

Não é o momento de escrever textão. Procure ser o mais objetivo possível, sem ser frio, o que nos leva ao próximo ponto…

5. Seja simpático.

Claro que o tom depende do assunto, do destinatário e da área de atuação, mas seja o mais agradável possível. Lembre que suas palavras vão ser lidas por uma pessoa de carne e osso. Sugiro fechar os olhos, visualizar seu(s) destinatário(s) e colocar uma frase ali que possa ser lida com um sorriso. 

6. Não seja preguiçoso.

Esquecer de usar letras maiúsculas para começar a frase ou economizar na pontuação – ou, pior, deixar de assinar o seu nome no final – dá a impressão de que você não se importa nem com o básico da cordialidade. 

7. Tenha paciência.

Estamos todos sobrecarregados, com caixas de mensagens transbordando. Sejamos pacientes – tanto para ler e responder os nossos emails quanto para aguardar as respostas.

Foram essas as dicas que me surgiram, mas a ideia deste post é ser um ponto de partida para descobrirmos uma forma mais humana de nos comunicar por e-mail.  E aí, quais são as suas dicas para escrever o e-mail perfeito? 

Está com dificuldade de seguir em frente depois de uma relação que havia muito sentimento?

Quer dar a volta por cima e resgatar o seu bem-estar emocional?

Fred Elboni 2022 — Todos os direitos reservados

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