19 de setembro de 2021

Por que não ficamos juntos?

Sempre me vi como um garoto bobo, sorridente, feliz, por minha alegria pessoal, que gosta de coisas simples e que raramente se importa com dinheiro – mesmo que minhas maiores paixões sejam viajar e comer. Sempre tive facilidade em ser feliz com pouco: um DVD antigo, uma notícia boa, um violão sem corda na casa de um amigo, um beijo estalado, um abraço de despedida, uma foto boba a dois no elevador.

Ela, luz no sorriso, estrela que brilha deitada no jardim, um presente que a gente guarda até o embrulho, no meu amor foi tubo de ensaio. Testou minhas alegrias e meus medos, até onde eu poderia ir e me jogar por amar alguém. Olhos pequenos, um coração feito melancia, doce, grande, mas com algumas sementinhas amargas – trauma que a gente tira ao amar.

Hoje me lembro dela e me deixo perfurar pelas lembranças que se instalam. Por mais que poucos acreditem, eu tinha um amor. Sem arrependimentos ou questionamentos tontos como “Valeu a pena?”, eu me perdi por ela, a envolvi no meu mundo, abri meus mapas e a deixei conquistar cada continente que havia por aqui. Nessa nossa viagem, alguns barcos afundaram, outros perderam o rumo, e alguns bons e poucos ainda sobrevivem dentro de mim.

O tempo passou e hoje não me pergunto mais por que ela não voltou ou se ainda sente saudade, mas sim por que não ficamos juntos. Onde foi que a gente deixou desandar algo tão bonito? Ou fui eu que errei e não percebi? Nunca sei o que responder. A gente combinava tanto: o beijo era primavera, o sexo era verão, e o carinho, um inverno sem fim.

Há algum tempo, voando alto nos clichês, falei que sem ela não conseguiria mais viver. Sem ela, infelizmente, não haveria paz dentro deste coração que toda noite chorava de mansinho. Por um bom tempo fiquei triste, perdido, sem rumo, desnorteado, desde o último adeus. Sem muitas opções, tive que me reerguer. Mesmo estando bem, depois de tanto tempo, há dias em que a saudade ainda aperta, sai pela boca, nos contorce entre as cobertas.

Dentro de mim ainda sinto, na loucura e no egoísmo, que talvez ninguém vá gostar dela como eu. Na verdade, para mim, o mais triste é ter consciência de que nossa história nunca teve fim. Foram vários e breves finais, tão sutis que nunca percebi em que momento a gente decidiu mudar de caminho. E, quando me perguntam o porquê de não termos ficado juntos, eu me calo e balanço a cabeça, como se estivesse pensando sobre isso há anos e, sem perceber, respondo: “Não sei.”

Dizer “não sei” quando se trata de amor é sempre uma resposta pobre. É uma dor que não se entende, uma aventura que não se vive. Mesmo lembrando com carinho da nossa história, eu não sei o que aconteceu, onde o tesão se escondeu, nem onde a gente disse adeus e esqueceu de se abraçar.

Amores feitos à mão não podem acabar com um sopro. Ou pelo menos não deveriam. A gente construiu tanta coisa, viveu tantas histórias que serão lindas de contar, e é difícil engolir a dúvida do que seria e não foi. Ela foi minha melhor notícia, um sorriso torto que endireitou o meu eixo cabeça-coração, um presente que desembrulhei e cujo papel guardei, na esperança de um dia servir para algo.

Embrulhos bonitos sempre merecem ser guardados. E eu guardei. Indiscutivelmente, continua sendo um papel muito bonito, cheio de desenhos e saudades, mas que ainda me faz questionar: Por que não ficamos juntos?

12 de setembro de 2021

Para que amar a saudade se a gente pode falar do amor de agora?

Ela sempre foi de sorrir muito, como se vivesse todos os dias em um eterno carrossel, cada volta um sorriso diferente a cada volta e um medo maior da próxima. Quando conversávamos, me contava que não conseguia dizer o que sentia para quem tanto amava. É engraçado porque, dentro dela, não havia sinais de vergonha ou medo da falta de aprovação. Mas quando alguém me diz que não sabe demonstrar o que sente, me soa como uma confissão, um pedido de ajuda. Quem fala isso é porque está sofrendo, mesmo que às vezes não saiba.

Ela pode ser João, Pedro, Carolina ou Juliana. Ela é o medo de sentir uma alegria que nunca sentiu, ou que sentiu e perdeu às vésperas de se tornar indelével. Ela é a vergonha de ser, como muitos dizem, vulnerável ao amor ou, em casos mais graves, uma conversa estreita entre o sentir e o orgulho de demonstrar, mesmo que ela não admita. Ela é um medo do tamanho do mar-profundo, uma conchaque, de tão fechada, ouve de todos que é durona, quando no fundo só tem pavor de perder a pérola que guarda em seu interior.

Quando dizemos, da maneira que for, nossos sentimentos para quem amamos, envolvemos aquela pessoa no nosso universo de modo único, englobando tudo o que há em nós: os afetos e os desafetos, os defeitos escondidos e os aparentes, as manias e as loucuras. Omitir do outro nossas peculiaridades seria uma maneira muito pobre de amar. Quando sentimos que, além de pulsar, o coração também formiga, queremos dividir com o mundo, gritar, olhar nos olhos e, sem medir a duração das palavras, transportar as formigas que ali vivem para também conhecer o coração do outro.

Poucos sabem, mas existe uma parcela da vida muito bonita que permeia o dizer e o sentir. Sentir é maravilhoso, criamos dentro de nós lugares que nunca imaginamos, profundos, ricos, nossos. Só que, quando confessamos o que sentimos, transportamos nossos amores para um tapete mágico que pode nos levar aonde quisermos. Ver a alegria de quem a gente ama estampada no rosto é um prazer muito maior do que “só” amar por amar. Ter a sensação de estar amando é algo pequenino perto da euforia de dizer ao outro que ele está sendo amado.

Ela ainda não descobriu como é divertido dizer, sem pudores, o que sente e, pela linda mania que a vida tem de distribuir seus momentos, ganhar em troca um sorriso de reciprocidade. É como um bom-dia com café quentinho e abraço com gosto de para sempre, mesmo que de eternas sejam só as lembranças. A verdade é que a gente perde muito tempo com medo, perde amores, sensações únicas, sorrisos únicos, por achar que não consegue. A gente se perde em saudades que, por sua vez, também serão únicas.

Querer ouvir tudo mas não falar tudo o que se sente é injusto tanto com os amores que passam quanto com os que ficam. Eu te amoeu adoro estar com vocêfoge comigoestou tão feliz que você está aquidesce rapidinhoestou com tanta saudade são palavras que soam feito bálsamo para a alma de quem convive conosco. Uma pena ela não saber disso e não se enfrentar para descobrir como é louco e gostoso esse mundo das palavras que soam feito música.

Sorria como ela, mas não deixe de dizer o que ela quis e não conseguiu. Seja diferente, e olha que nem precisa sair daquele carrossel cheio de alegrias em que ela vive, onde há espaço para todos os medos. Ela não sabe o que está perdendo, mesmo que já tenha perdido muitas coisas.

Ah, se ela soubesse como o tempo passa! Ah, se ela soubesse como a dor de não falar amarga a vida! Ah, se ela soubesse como as próximas voltas dão muito mais medo! Então, para que amar a saudade de um dia se a gente pode amar e falar do amor de agora?

26 de abril de 2021

5 passos para ter mais autoaceitação

Na semana passada escrevi um pouco sobre o dilema entre mudar e se aceitar, mas como somos estimulados a mudar muito mais do que a nos aceitar, hoje quero focar na autoaceitação. Vivemos numa sociedade altamente competitiva e aprendemos a medir o nosso valor em comparação aos outros. Estamos sempre “devendo”: não somos suficientemente bem-sucedidos, atraentes, ricos, inteligentes, cultos, evoluídos etc. etc.  Não é de se espantar, então, que a tal autoaceitação pareça tão inatingível!

Mas, para quem deseja estar mais em paz consigo mesmo, aqui vão algumas dicas:

1. Conheça-se de verdade.

O autoconhecimento é o ponto de partida porque não podemos nos aceitar sem antes nos conhecer. Isso requer honestidade, introspecção, coragem e tempo. Pode ser impulsionado por terapia (especialmente aquelas que exigem esforço e nos convocam a ver nossas sombras), por relacionamentos significativos, por mudanças inesperadas e pela escrita, entre outras coisas.

2. Pratique a autocompaixão.

Não adianta se conhecer e ficar se autoflagelando com exigências, culpas, remorsos e outras coisas que aumentam o sofrimento e a sensação de que você precisa ser diferente para ser alguém digno de amor e respeito. A autocompaixão não é o equivalente a passar a mão na cabeça dos erros cometidos ou das áreas em que você quer e pode melhorar; pelo contrário, é um antídoto contra emoções negativas fortes (ódio, vergonha etc.), que acabam sugando nossa energia e não nos permitindo avançar nos nossos projetos.

3. Leia bons livros, veja bons filmes.

Histórias nos inspiram a encontrar novos caminhos e novas compreensões. Por isso, não são uma “perda de tempo”, sobretudo quando são capazes de nos levar para lugares, sentidos e sentimentos que não costumamos experimentar. Estou falando do tipo de arte que não representa uma fuga, mas um potencial (re)encontro com partes esquecidas ou dormentes de nossa imaginação. Recentemente, um filme que me tocou muito – e que tem tudo a ver com a autoaceitação – é O som do silêncio (Amazon Prime), sobre um baterista de heavy metal que perde a audição.

4. Abrace suas paixões.

O que faz o seu coração cantar? O que lhe move sem que você precise se esforçar muito? O que lhe traz alegria, propósito, conexão? Estar envolvido com nossas paixões proporciona uma sensação de entusiasmo que tem tudo a ver com o estado de viver no presente que é um dos pilares da autoaceitação. Passar tempo com algo que o coloque nesse estado é essencial.

5. Seja paciente (e persistente).

Assim como não aprendemos a nos criticar da noite para o dia, não vamos nos aceitar como num passe de mágica. O caminho até a autoaceitação é longo, árduo e parece não avançar muito rápido no início. É que nem aprender a surfar depois de adulto. Primeiro temos que entrar na água fria, aprender a nos equilibrar, pegar a onda e tentar não cair (e vamos cair muitas vezes). É um processo demorado e difícil, porém bonito demais, mesmo quando uma onda vem e nos derruba. Faz parte, é só subir na prancha de novo e esperar a nova onda.

29 de novembro de 2020

Você não vai agradar todo mundo. E daí?

Se tem uma coisa que eu aprendi na vida é que é impossível agradar tudo mundo. Alguém, em algum lugar, vai implicar com você, discordar de você ou simplesmente não estar nem aí para você.

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Está com dificuldade de seguir em frente depois de uma relação que havia muito sentimento?

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