Sempre me vi como um garoto bobo, sorridente, feliz, por minha alegria pessoal, que gosta de coisas simples e que raramente se importa com dinheiro – mesmo que minhas maiores paixões sejam viajar e comer. Sempre tive facilidade em ser feliz com pouco: um DVD antigo, uma notícia boa, um violão sem corda na casa de um amigo, um beijo estalado, um abraço de despedida, uma foto boba a dois no elevador.

Ela, luz no sorriso, estrela que brilha deitada no jardim, um presente que a gente guarda até o embrulho, no meu amor foi tubo de ensaio. Testou minhas alegrias e meus medos, até onde eu poderia ir e me jogar por amar alguém. Olhos pequenos, um coração feito melancia, doce, grande, mas com algumas sementinhas amargas – trauma que a gente tira ao amar.

Hoje me lembro dela e me deixo perfurar pelas lembranças que se instalam. Por mais que poucos acreditem, eu tinha um amor. Sem arrependimentos ou questionamentos tontos como “Valeu a pena?”, eu me perdi por ela, a envolvi no meu mundo, abri meus mapas e a deixei conquistar cada continente que havia por aqui. Nessa nossa viagem, alguns barcos afundaram, outros perderam o rumo, e alguns bons e poucos ainda sobrevivem dentro de mim.

O tempo passou e hoje não me pergunto mais por que ela não voltou ou se ainda sente saudade, mas sim por que não ficamos juntos. Onde foi que a gente deixou desandar algo tão bonito? Ou fui eu que errei e não percebi? Nunca sei o que responder. A gente combinava tanto: o beijo era primavera, o sexo era verão, e o carinho, um inverno sem fim.

Há algum tempo, voando alto nos clichês, falei que sem ela não conseguiria mais viver. Sem ela, infelizmente, não haveria paz dentro deste coração que toda noite chorava de mansinho. Por um bom tempo fiquei triste, perdido, sem rumo, desnorteado, desde o último adeus. Sem muitas opções, tive que me reerguer. Mesmo estando bem, depois de tanto tempo, há dias em que a saudade ainda aperta, sai pela boca, nos contorce entre as cobertas.

Dentro de mim ainda sinto, na loucura e no egoísmo, que talvez ninguém vá gostar dela como eu. Na verdade, para mim, o mais triste é ter consciência de que nossa história nunca teve fim. Foram vários e breves finais, tão sutis que nunca percebi em que momento a gente decidiu mudar de caminho. E, quando me perguntam o porquê de não termos ficado juntos, eu me calo e balanço a cabeça, como se estivesse pensando sobre isso há anos e, sem perceber, respondo: “Não sei.”

Dizer “não sei” quando se trata de amor é sempre uma resposta pobre. É uma dor que não se entende, uma aventura que não se vive. Mesmo lembrando com carinho da nossa história, eu não sei o que aconteceu, onde o tesão se escondeu, nem onde a gente disse adeus e esqueceu de se abraçar.

Amores feitos à mão não podem acabar com um sopro. Ou pelo menos não deveriam. A gente construiu tanta coisa, viveu tantas histórias que serão lindas de contar, e é difícil engolir a dúvida do que seria e não foi. Ela foi minha melhor notícia, um sorriso torto que endireitou o meu eixo cabeça-coração, um presente que desembrulhei e cujo papel guardei, na esperança de um dia servir para algo.

Embrulhos bonitos sempre merecem ser guardados. E eu guardei. Indiscutivelmente, continua sendo um papel muito bonito, cheio de desenhos e saudades, mas que ainda me faz questionar: Por que não ficamos juntos?