Ela sempre foi de sorrir muito, como se vivesse todos os dias em um eterno carrossel, cada volta um sorriso diferente a cada volta e um medo maior da próxima. Quando conversávamos, me contava que não conseguia dizer o que sentia para quem tanto amava. É engraçado porque, dentro dela, não havia sinais de vergonha ou medo da falta de aprovação. Mas quando alguém me diz que não sabe demonstrar o que sente, me soa como uma confissão, um pedido de ajuda. Quem fala isso é porque está sofrendo, mesmo que às vezes não saiba.
Ela pode ser João, Pedro, Carolina ou Juliana. Ela é o medo de sentir uma alegria que nunca sentiu, ou que sentiu e perdeu às vésperas de se tornar indelével. Ela é a vergonha de ser, como muitos dizem, vulnerável ao amor ou, em casos mais graves, uma conversa estreita entre o sentir e o orgulho de demonstrar, mesmo que ela não admita. Ela é um medo do tamanho do mar-profundo, uma conchaque, de tão fechada, ouve de todos que é durona, quando no fundo só tem pavor de perder a pérola que guarda em seu interior.
Quando dizemos, da maneira que for, nossos sentimentos para quem amamos, envolvemos aquela pessoa no nosso universo de modo único, englobando tudo o que há em nós: os afetos e os desafetos, os defeitos escondidos e os aparentes, as manias e as loucuras. Omitir do outro nossas peculiaridades seria uma maneira muito pobre de amar. Quando sentimos que, além de pulsar, o coração também formiga, queremos dividir com o mundo, gritar, olhar nos olhos e, sem medir a duração das palavras, transportar as formigas que ali vivem para também conhecer o coração do outro.
Poucos sabem, mas existe uma parcela da vida muito bonita que permeia o dizer e o sentir. Sentir é maravilhoso, criamos dentro de nós lugares que nunca imaginamos, profundos, ricos, nossos. Só que, quando confessamos o que sentimos, transportamos nossos amores para um tapete mágico que pode nos levar aonde quisermos. Ver a alegria de quem a gente ama estampada no rosto é um prazer muito maior do que “só” amar por amar. Ter a sensação de estar amando é algo pequenino perto da euforia de dizer ao outro que ele está sendo amado.
Ela ainda não descobriu como é divertido dizer, sem pudores, o que sente e, pela linda mania que a vida tem de distribuir seus momentos, ganhar em troca um sorriso de reciprocidade. É como um bom-dia com café quentinho e abraço com gosto de para sempre, mesmo que de eternas sejam só as lembranças. A verdade é que a gente perde muito tempo com medo, perde amores, sensações únicas, sorrisos únicos, por achar que não consegue. A gente se perde em saudades que, por sua vez, também serão únicas.
Querer ouvir tudo mas não falar tudo o que se sente é injusto tanto com os amores que passam quanto com os que ficam. Eu te amo, eu adoro estar com você, foge comigo, estou tão feliz que você está aqui, desce rapidinho, estou com tanta saudade são palavras que soam feito bálsamo para a alma de quem convive conosco. Uma pena ela não saber disso e não se enfrentar para descobrir como é louco e gostoso esse mundo das palavras que soam feito música.
Sorria como ela, mas não deixe de dizer o que ela quis e não conseguiu. Seja diferente, e olha que nem precisa sair daquele carrossel cheio de alegrias em que ela vive, onde há espaço para todos os medos. Ela não sabe o que está perdendo, mesmo que já tenha perdido muitas coisas.
Ah, se ela soubesse como o tempo passa! Ah, se ela soubesse como a dor de não falar amarga a vida! Ah, se ela soubesse como as próximas voltas dão muito mais medo! Então, para que amar a saudade de um dia se a gente pode amar e falar do amor de agora?