7 de março de 2021

Te olhar me acalma

Anos atrás, uma mulher, pela qual eu era completamente apaixonado, para não dizer enfeitiçado, me perguntou por que, em vários momentos, alguns deles estranhos e sem grandes explicações, eu a observava tanto, sempre com um olhar contemplativo e admirado. E, com o sorriso mais honesto que eu pude externar naquele momento, respondi: “Pois te olhar me acalma”.

Você já olhou para alguém e sentiu que o prazer de estar perto daquela pessoa não era exatamente a paixão ou a vontade de beijá-la loucamente em qualquer esquina, mas sim a sensação de paz que ela te transmitia? Como se tudo fosse possível e sereno com aquela pessoa, pois para todas as divergências havia conversas, para todos os medos havia uma mão firme, para todas as oscilações confusas havia abraços cheios de silêncio e amor.

Com ela eu sentia que podia dividir todos os meus anseios e que receberia de volta compreensão e carinho. Me sentia com poderes nunca antes imaginados, como se todos os meus defeitos e dúvidas fossem meros detalhes, e não problemas que eu insistia em sublinhar. Eu a olhava como se estivesse diante de um lindo pôr do sol, de uma enorme queda-d’água cujo barulho alivia os pensamentos, de um campo cheio de girassóis se agitando ao vento.

Ela me ensinou, mesmo sem dizer uma palavra, que se relacionar com uma pessoa que nos incendeia com discussões e inseguranças diárias, além de cansar, nos furta o brilho, o amor perene e a paciência. Por mais febril que o amor contido nessa relação seja, por mais que ele tenha se iniciado de uma maneira única e linda.

Depois de aprender com ela quão intenso – por mais que muitos achem que a calmaria e a intensidade são ideias antagônicas – e engrandecedor um amor calmo pode ser, deixei de desejar ser a grande paixão de alguém; estou preferindo ser a serenidade, o porto seguro, o trilhar suave, o navegar em dia de sol, o toque que transcende a pele e os padrões. Amar com calma é tão mais gostoso, tão mais saudável... E muitas vezes querer, insistentemente, ser o grande amor da vida de alguém, carrega consigo muito mais vestígios de ego do que propriamente de amor.

Assim a amei por anos, sempre fazendo-a recordar que ela fora a minha paz, mesmo quando ela brincava de sumir... mas tudo bem, olhar para ela me acalmava tanto...

1 de março de 2021

Por que a Inteligência Emocional é mais necessária do que nunca

Nos fim dos anos 1990, o jornalista Daniel Goleman popularizou o conceito da inteligência emocional, definida pelos psicólogos Peter Salovey e John D. Mayer como “a capacidade de perceber e expressar emoções, assimilás-la ao pensamento, compreender e raciocinar com elas, e saber regulá-las em si próprio e nos outros”. Goleman define o conceito como a união de cinco habilidades:

  1. Autoconhecimento: ter uma percepção aguçada das próprias emoções e sentimentos e do impacto que eles têm em você e nos outros;
  2. Autorregulação: saber administrar com os sentimentos de acordo à situação (ao invés de ser regido por eles);
  3. Competência social: cultivar bons relacionamentos;
  4. Empatia: reconhecer e levar em consideração as emoções e os sentimentos dos outros;
  5. Motivação: conectar-se com a motivação intrínseca.

Cinco anos atrás, o Fórum Ecônomico Mundial listou a inteligência emocional como uma das habilidades essenciais para 2020, em sexto lugar. Hoje, há um ano vivendo numa realidade de isolamento social, incertezas e falta de controle, eu diria que a inteligência emocional deveria estar entre as três mais importantes habilidades.

Sem autoconhecimento e autorregulação das nossas emoções, viramos presas fáceis da polarização e julgamentos que tornam a vida em sociedade cada dia mais pesada e desagradável.

Quem viu o documentário O dilema das redes (Netflix) sabe que os algoritmos nos conhecem tão bem que nos manipulam, despertando emoções fortes como raiva e repulsa, que por sua vez nos atrapalha a ter empatia e cultivar bons relacionamentos. Sem isso, ficamos isolados – sozinhos mesmo, ou restritos a uma tribo que pode, a qualquer momento, por qualquer deslize, nos “cancelar”. E, por fim, sem uma conexão com nossa motivação intrínseca, sem próposito, a vida perde a cor, a preguiça e a inação vencem.

Por isso, é mais importante do que nunca sair do carrossel de hábitos e atitudes que nos deixam emocionalmente anestesiados e, francamente, desconectados de nós mesmos e dos outros. 

Aqui vão três ideias para começar:

1. Conheça-se de verdade: na terapia, através da escrita, sendo radicalmente honesto e corajoso com si mesmo.

2. Escute mais, fale menos: aprenda a ficar confortável no silêncio, não interrompa o outro, demonstre mais curiosidade e menos julgamento.

3. Pause antes de agir: antes de retrucar ou reagir a algo, faça uma pausa. Pergunte-se: “o que está motivando minha atitude? Vai ajudar ou atrapalhar?”

Você concorda comigo que é urgente desenvolvermos e valorizarmos a Inteligência Emocional? Quais outras estratégias você sugere como ponto de partida?

28 de fevereiro de 2021

Há uma falta que carrego comigo

Há uma falta que carrego comigo. Uma falta que, quando não sei o que responder, digo ser dos amores que me magoaram, dos toques que constantemente me faltam, das ocupações que abraço como minhas para me sentir importante, ou do azar que sorrateiramente julgo estar pousando no meu quintal. Mesmo sem ter um quintal para chamar de meu.

Há uma falta em mim que preencho com prazeres momentâneos. Quando invento a fome, ansiando o passar do tempo, quando uso as redes sociais acreditando que estou me divertindo, quando assisto a filmes e séries que pouco a pouco me afundam no sofá, em um tédio eterno. Prazeres pontuais, que giram o ponteiro do relógio até a hora de dormir, mas nunca sustentam a felicidade do amanhã.

Há uma falta que escondo nas incessantes horas de trabalho, nas ideias que nunca sei se realmente são boas ou não, nas amizades que já deixaram de ser amizades há anos, nas janelas que pela manhã esqueço de abrir para o ar circular, nas cobranças e metas que crio antes de dormir, nas mensagens que ficaram sem respostas, nas palavras carinhosas que desejei ouvir da minha família.

Há uma falta que já fez o bem-estar dos outros me doer, que me fez ir embora de lugares porque quis chamar atenção e não funcionou, que me fez discutir sobre assuntos sobre os quais nem tenho conhecimento, mas fingi que tinha, que me fez relacionar com pessoas com energias que não ensamblam com a minha, mas forcei o encaixe, mesmo sabendo que, ao final da história, quem morreria seria eu.

Perdido entre boas e más recordações procurei em mim o espaço preenchido pela falta. Já o achei várias vezes, mas nunca aprendi a abraçar verdadeiramente um espaço que falta. Se ele falta, como se abraça? Abraçamos o vazio? Ou abraçamos a nós mesmos?

Atar a ponta da falta e da nossa necessidade de preenchê-la é uma fantasia que gostamos de alimentar. A gente tenta preencher a falta para ocupar o tempo que teríamos que abraçar nós mesmos. E nunca é fácil ter que se abraçar, ainda mais quando sempre há uma parte que falta.

22 de fevereiro de 2021

30 coisas que aprendi com 30 anos

Hoje completo 30 anos de idade. Muitas coisas mudaram, outras se calcificaram dentro de mim. Aprendi muito, errei o dobro, mas sei que tudo valeu a pena. Sempre vale. Na verdade, só depende de como olhamos o passado.

Como sei que vocês gostam, resolvi fazer uma lista para vocês das 30 coisas que aprendi nesses 30 anos de vida.

1 – Querer ter controle das coisas é uma ilusão

Queremos ter controle sobre o sentimos, sobre o nosso destino, sobre o que pensam de nós, porém é tudo uma ilusão. Somos reféns da imprevisibilidade da vida.

2 – O amor não suporta tudo

Muitas vezes continua sendo amor, mas deixa de ser saudável. E continuar algo que nos mutila em nome da crença que o amor deve ser companheiro da eternidade, será que a vale a pena?

3 – Para conquistar o nosso “mundo”, precisamos perder um pouco do nosso “mundinho”

Queremos ter o melhor dos dois mundo, mas será que é possível? Muitas vezes precisamos nos despedir de um lar, para conhecer outro. Precisamos deixar a segurança no canto para encontrar o que desejamos. Carregar a vontade de descobrir o mundo, seja ele interno ou externo, e carregar a segurança no outro braço nem sempre é possível.

4 – Não há conexão verdadeira sem vulnerabilidade

Precisamos falar o que sentimos e nos abrir; sem isso, não há conexão verdadeira. E caso você esteja se perguntando sobre a reciprocidade, isto é, se o outro irá valorizar os seus sentimentos, lembre-se: a vulnerabilidade só afasta quem não é para ficar.

5 – O mundo não está preocupado com a sua autoestima

Muitas vezes podemos achar que o mundo está nos devendo algo. Pelo o que sofremos, pelo o que vivemos, pelo o que passamos, mas não, o mundo não nos deve nada. Esperar que o mundo nos abrace, antes de nos abraçarmos, é imaginar o que o mundo está realmente preocupado com você. Ele não está.

6 – Família é sempre família

Quando tudo acaba, quando o que te resta é o pouco e o verdadeiro, a família é quem estará ali para você. Por mais difíceis que eles sejam, há uma família.

7 – Dizer adeus faz parte do processo

Precisamos aprender a dizer adeus sem nos sentir culpados. Nem todo adeus é munido de desgosto, às vezes é só preciso ir para tudo melhorar.

8 – Nunca iremos agradar a todos

Essa é uma luta insana e sem fim. Gastar toda a sua energia imaginando que os outros irão entender quem você é, sem dúvidas, é uma receita para a infelicidade.

9 – A solidão só dói quando não sabemos lidar com ela

Ficar sozinho é uma necessidade. Ou a gente aprende a lidar ou lutará sempre contra.

10 – Cuidar de plantas é cuidar um pouco de si

Comecei a ter algumas plantas na minha casa e, acredite, minha vida melhorou muito!

11 – Só nós sabemos o que realmente sentimos

Os outros podem tentar imaginar, mas nunca saberão o que realmente sentimos. Muitas vezes, uma coisa besta para você se torna a coisa mais importante do mundo para o outro, e vice e versa.

12 Devemos ouvir mais as nossas mães

Elas sempre sabem. Precisamos ponderar o que elas dizem, muitas vezes seguir o que acreditamos, mas, no fundo, precisamos considerar com amor as palavras delas.

13 – Não quero ficar perto de pessoas que julgam mais que abraçam

Quanto mais os anos passam, mais quero me distanciar dos que julgam demais.

14 – Quando os momentos difíceis surgem me pergunto “o que preciso aprender?”

Ao invés de perguntar "por que comigo", se questione: "por que não com você?" E, depois, reflita: "Qual é a coisa mais verdadeira e boa que posso fazer com isso que me aconteceu?"

15 Ter uma relação melhor com a rotina

A rotina me faz não coabitar com pensamentos cansativos. Acordar cedo, correr, dormir cedo, está me fazendo muito bem.

16 – Me aprofundar, estudar, mas não perder a leveza que há em mim

Uma dúvida que sempre conservo comigo: como me autoconhecer cada vez mais sem perder a leveza que existe em mim?

17 – Não buscar validação no lugar errado

Atenção na busca por validação. Será que não estamos querendo ser aprovados em lugares que não vibram na mesma energia que a nossa?

18 – Não esquecer de cuidar de mim

Preciso estender o cuidado que tenho com os outros para mim. Lembrar constantemente de quanto preciso cuidar de mim está sendo uma exercício diário.

19 – Não quero me distanciar da arte

Meus melhores momentos acontecem quando estou conectado com a arte. E não quero perder essa conexão.

20 – Viajar é se encontrar em um mundo desconhecido

Poucas coisas me fazem tão bem e fascinam na área do autoconhecimento como viajar.

21 – O que os outros pensam, é só o que os outros pensam...

Se formos sempre pensar no que os outros podem pensar, nunca conseguiremos viver a nossa vida com verdade.

22 – Se relacione com pessoas mais bem resolvidas

Muitas vezes queremos cuidar demais dos outros, nos doar inteiramente e salvar a pessoa do caos, porém quanto mais bem resolvida a pessoa, mais leve se torna a relação.

23 – Aprender a comer de tudo

Isso foi um mantra para mim. Toda comida é comida, e quanto mais eu abrir meu paladar, mais experiências e aprendizados terei.

24 – Você tem poucos amigos

Quando as coisas apertam, descobrimos que temos poucos amigos. E está tudo bem. Quando a amizade é verdadeira, uma basta.

25 – Não espere a ideia perfeita

Muitos querem uma ideia perfeita para começar algo. Comece e depois você vai aperfeiçoando a ideia.

26 – Ter contato com a natureza

Uma das coisas mais importantes que aprendi. A paz da vida se encontra também na paz da natureza.

27 – Escrever é o que me faz sentir vivo

Grande parte do meu prazer em me conhecer vem de escrever o que sinto e vivo. Além de um diário, se torna uma maneira de conversar comigo mesmo.

28 – Não há como escolher o que sentimos

Muitas vezes queremos escolher os sentimentos que queremos ter sobre algo ou alguém, mas não é assim que funciona. Precisamos aprender a lidar com os sentimentos que surgem.

29 – Mate a saudade para que não seja um arrependimento

Ligue, fale, conte, não deixe a saudade surgir de uma falta de paciência ou de um medo.

30 – Fale o que quer falar, mesmo que o outro não valorize

Nem sempre teremos a resposta que desejamos, porém devemos falar tudo que nos engasga. Caso contrário, corremos o risco de morrer engasgados.

21 de fevereiro de 2021

A falível tentativa de equilibrar as minhas emoções

Há dias que acordo com um aperto no coração que não sei de onde surgiu, muito menos onde se escondeu durante todo esse tempo.

– Onde escondo você? – me questiono, enquanto tento entender o que sinto.

Quando acordo com este sentimento sei que o dia inteiro será assim: uma falível tentativa de equilibrar as minhas emoções. Não haverá trégua até o despertar do próximo dia. Não haverá descanso até que essas emoções se cansem de mim. De maneira irônica, sempre tento lutar contra o infestar desses sentimentos, remar em direção a correnteza, fingir que nada está acontecendo, levar a profundidade para o raso… tudo vem vão. O controle não está em minhas mãos. E que ignorância achar que poderia ser diferente.

Este aperto, que costuma surgir em dias de reflexões melancólicas e silenciosas, me força a pensar sobre devaneios que não gostaria de enfrentar. E pior, anseia que eu saiba responder tudo de prontidão; Será que estou caminhando para onde eu realmente gostaria? Será que estou buscando no lugar certo que os outros aceitem quem sou? Será que estou me esforçando para mudar ou somente reclamando dos que não mudam? E do que adianta afirmar, tantas vezes, não querer mais viver certas situações se não me afasto delas?

O verbo “apertar” sugere dor, mas não é o que acontece. O aperto não me imerge na dor, mas estremece meu senso de direção, e pior, me faz revisitar inseguranças que jurava estarem no passado. E, se existe algo que sei bem, é como ter longas conversas com as inseguranças de que prometi me despedir. Mas eu menti para mim: elas nunca foram embora.

As emoções não são objetos em prateleiras; não escolhemos o que queremos sentir. Eu sei plenamente disso! Sei também que todo amanhecer é um novo pedido aos céus por calma. E nem todos são atendidos.

Enquanto escrevo estas palavras, lateja a minha cabeça. Deve ser de tanto rodopiar e esbarrar em perguntas, emoções, anseios. Amanhã encerro uma década para entrar em outra. Ouvi dizer que nela há menos julgamento e mais autoaceitação. Tomara.

18 de fevereiro de 2021

5 formas de encontrar inspiração (nos lugares mais inusitados)

Quem ganha a vida criando muitas vezes se sente refém da bendita inspiração. Quando ela aparece, é uma maravilha: as ideias pipocam sem esforço, os dedos voam sobre as teclas, o tempo dá uma parada e até a fome sai para comprar um cigarro e não volta.

Mas e quando estamos vazios de ideias, sem saber como sair da página em branco ou dar seguimento àquele projeto tão importante? É tentador ficar se autoflagelando com sentimentos de culpa, cobranças e críticas duras. Mas isso raramente funciona, não é mesmo? 

Aprendi que outras atitudes mais leves, mais divertidas, podem ser bastante eficazes. Aqui vão algumas que já funcionaram para mim:

1 - Ler um livro

Não precisa escolher um livro relacionado à tarefa em questão. Aliás, é melhor ainda se o livro não tiver uma ligação clara com o que você está criando. Também não pense que precisa chegar até o final do livro para sentir os efeitos. Basta saber que a leitura faz o seu cérebro descansar determinadas partes e trabalhar as áreas relacionadas à imaginação e criatividade. Permita-se essa viagem.

2 - Escrever

O ato de escrever ajuda você a organizar seus pensamentos e enxergar seus objetivos, além de estimular a ligação de ideias e imagens de formas inéditas. Do ritmo do traçado da caneta no papel, nascem pensamentos, perguntas, possibilidades. Faça uma lista, esboce um parágrafo sobre suas ideias, despeje seus sentimentos no papel, dê espaço para maluquices ou devaneios. Brinque e a inspiração sairá do esconderijo para brincar contigo.

3 - Limpar a casa

Limpar a casa ou arrumar o quarto é uma atividade monótona e física. Enquanto nos movemos e fazemos algo corriqueiro, podemos ter insights para problemas que precisamos resolver. Tomar banho também funciona, mas arrumar a casa ainda traz a satisfação de ter cumprido uma tarefa (chata) da sua lista de afazeres.

4 - Pesquisar

É muito provável que outras pessoas tenham tido ideias ou feito coisas relacionadas àquilo que você está buscando. Por isso, pesquisar sobre elas é uma maneira interessante de vislumbrar soluções e caminhos possíveis. Uma dica: mesmo na hora de pesquisar, pense fora da caixa. Se você é escritor, não pesquise apenas autores parecidos ou textos em geral; veja filmes, vá a um museu, veja um chef renomado montando um prato.

5 - Passar tempo na natureza

A natureza tem um poder inacreditável de nos forçar a ficar em silêncio; acalma a mente, o coração e alma. Longe do ruído da civilização e de seu ritmo frenético, é como se o corpo entrasse em uma sintonia diferente. De repente, conseguimos ouvir ou enxergar aquilo que antes estava enterrado por baixo de todos aqueles pensamentos mundanos e do estresse diário. Parece mágica (e quem disse que não é?).

Você já experimentou algumas dessas estratégias? Tem alguma outra dica milagrosa para resgatar a inspiração ou despertar a criatividade?

14 de fevereiro de 2021

Em busca de um amor brisa

Já tive amores loucos. Efêmeros. Daqueles que até a chuva abençoou. Na verdade, nem sei se todos foram tão amores... Será que posso chamar de amor os amores que nem foram tão amores assim? Na verdade, sempre que possível, confundo paixões com amores, mesmo tendo ciência total da definição de cada um. É que existem paixões que se manifestam de maneira tão grande dentro de mim, que não haveria possibilidades terrestres ou oceânicas de elas não serem amores.

Já fui ansiedade no amor, na vida, nos sonhos. Sempre quis viver todas as aventuras possíveis! Achei, burramente, que teria que viver em ritmo frenético tudo o que pudesse, até a juventude se esvair. Caso contrário, não teria feito jus à vida que tive. Ah, como a maturidade é gostosa! Ah, como a maturidade faz o simples ser um eterno verão! Ah, como a maturidade é uma linda amizade de anos com alguém que você confia.

Mas o tempo passa, a gente aquieta o coração e observa como existem alguns prazeres que somente a calmaria pode nos proporcionar. Um café no sítio, um beijo na estrada com os vidros abertos, um filme na sexta à noite, e por que não no sábado também? Os amigos dirão que você é velho e que, daqui a pouco, seus joelhos não aguentarão mais sair de casa, mas deixe que os amigos falem, deixe que eles tenham carinho ou inveja, saudade ou preguiça de convidar você. A calmaria de um amor é assim: gera desconforto a quem não tem.

Eu não posso me furtar do quão genuíno é o que vivo. Hoje, procuro tranquilidade, tanto no trabalho quanto no amor. Na verdade, procuro um amor repleto de coisas simples; elas são o segredo da vida. Não espero muito mais que compreensão no olhar, e sorrisos de ombros leves. Quero serenar na praia, no campo, no jardim de uma casa que ainda não tenho, mas já imagino como será. É louco, eu sei, mas sempre tive essa utopia de imaginar minha futura casa. Mesmo sendo um sonho, dito por vários, “feminino”, confesso que fico imaginando os detalhes, os abajures, o jardim, os cachorros, e, por incrível que pareça, até gostaria de ter uma horta. Talvez eu seja caseiro, ou estranho demais, vai saber...

Então, não desejo aviões, sejam eles mulheres ou obras da engenharia. Só alguém que olhe devagar para mim. Gosto de paixões assim, simples por serem o que são. Esse é o segredo da intimidade: ser leve para amar, mas, principalmente, leve para saber se deixar ser amado. Pois, com certeza, das coisas que podem ser simples, eu escolho o amor.

8 de fevereiro de 2021

“Quem sou eu para fazer algo grande?”

Sempre gostei de aprender: sobretudo, o aprendizado contínuo que adquirimos fora das salas de aula, mas também do conhecimento clássico, transmitido bons professores. Tenho grande admiração pelos professores que tive, aqueles que abriram a minha cabeça, despertaram a curiosidade e faziam aquilo com paixão e propósito. A admiração era tanta que, até pouco tempo, nunca havia pensado em ensinar nada. Afinal, quem sou eu para ensinar algo a alguém?

Mas lembrei que essa mesma construção – “quem sou eu para x, y, z?” – foi o que quase me fez deixar de escrever, de compartilhar meus textos, de publicar meu primeiro livro etc.  Resolvi, então, vencer o medo e ir ao encontro da tal zona de desconforto, onde acontece a magia. Negociei com o meu crítico interior e me dediquei a estudar, a refletir e a criar um projeto em que eu poderia me experimentar nesse lugar de professor com um mínimo de legitimidade.

Precisei descontruir um pouco essa imagem de professor, confesso. Não poderia mais ver o professor como alguém que está acima – dos alunos, do bem e do mal, do questionamento. Lecionar, para mim, não é sobre me colocar numa hierarquia, numa posição autoritária ou arrogante: “eu sei, você não sabe, então vou lhe ensinar.” Não é via de mão única. Transmitir o que eu aprendi – o que sigo aprendendo, com os livros, os cursos e a vida – para quem tem interesse e paixão pelas mesmas coisas é me colocar a serviço de uma grande troca: eu, “professor”, ensino e aprendo, e os meus alunos não apenas aprendem, como me ensinam. 

O espaço de troca criado por um curso é algo muito engrandecedor. Você cria um conteúdo, mas não tem como mensurar como ele afetará o outro. Você monta um exercício, e não sabe o que será despertado no outro ao respondê-lo. Mais supreendente ainda é ver como você mesmo passa por uma transformação quando busca transmitir algo que lhe é precioso para outra pessoa, um estranho. Lembro da frase de Doris Lessing, vencedora do Nobel de Literatura (2007):

“Aprendizado é isso: de repente, você compreende alguma coisa que sempre entendeu, mas de uma nova maneira.” 

Quando me permiti ocupar esse lugar de quem ensina, paradoxicalmente, me abri a novos aprendizados. Precisei tirar meus antigos professores do pedestal e, ao fazê-lo, vi que são algo muito mais interessante: humanos. Juntar-me a eles não é, portanto, um ato preponte, mas um reconhecimento de humildade, de que estamos todos aqui para aprender e ensinar, dar e receber, servir de instrumento e instrumentadores para uma experiência mais rica, interessante e gratificante.

A grande escritora Tori Morisson disse: “Se há um livro que você deseja ler, mas ainda não foi escrito, você deve escrevê-lo”.

Intuitivamente, foi o que fiz para construir o meu primeiro curso, Escrita e autoconhecimento: a arte de se encontrar através da palavra. O curso é para quem quer se autoconhecer, se comunicar de forma mais autêntica, desenvolver o hábito de escrever e aprender a lidar melhor com as suas emoções.

7 de fevereiro de 2021

É dor ou tristeza?

Eu tenho comigo muitas tristezas, que um dia já foram dores. Essas tristezas têm suas razões e seus responsáveis – na maioria das vezes, eu mesmo. Grande parte delas se refere a situações em que tive de dizer adeus sem estar preparado. E há como se preparar para o adeus? Honestamente, eu acho que não; ensaiar o adeus me parece impossível e desnecessário, porque a cada vez é uma nova plateia, uma nova cena, e – ainda bem! – não há tempo de decorar as falas do nosso personagem (até porque seria ridículo termos frases prontas para um momento que tanto pede sensibilidade).

Bem, como eu disse, o que era dor hoje é somente tristeza. Qual é a diferença entre elas? Para mim, a dor é o primeiro impacto que se instala em razão de um trauma. A dor lateja, grita, pede socorro, produz um desespero difícil de carregar. Alguns desses traumas são maiores, outros são menores, mas todos são significativos. Cada pessoa recebe o golpe de uma forma, e não se pode relativizar a dor de ninguém. Tentar mensurar a dor alheia, como se houvesse uma régua dos sentimentos, é de uma ignorância sem fim. É preciso sempre respeitar a singularidade de quem é tirado pela dor para dançar.

Já a tristeza é o sentimento que vem após a dor; depois de o torpor ter abandonado o seu corpo e aberto espaço para a reflexão. A tristeza é a conversa, a calmaria melancólica após a turbulência, é a aceitação daquilo que passou. Você está triste, sabe disso, mas não está em desespero.

Se pudéssemos dar forma humana para a dor e a tristeza, a primeira seria uma criança abrindo o berreiro em busca de atenção, já a segunda, um senhor sentado na poltrona de sua casa conversando sobre a vida e dando conselhos importantes com base em suas experiências.

Tanto a dor quanto a tristeza têm sua importância, e não devemos fugir delas. De fato, devemos dar-lhes a devida atenção. Com o tempo, a dor vira uma tristeza que nos habitará para sempre. E quando, de repente, essa tristeza surgir, querendo ganhar força, doe um pouco do seu tempo, converse com ela, pergunte o que quer e o que você pode fazer para ajudá-la a ficar em paz; ela, como nós, é carente e precisa de longas conversas para se sentir bem. E, com o tempo, vocês se tornarão amigos, já que ela sempre será uma companheira fiel. Principalmente nos dias de chuva e companhia rara.

Se você gostou deste artigo, te convido a conhecer meu curso online Escrita e Autoconhecimento: A arte de se encontrar através da palavra. O curso é para quem quer se autoconhecer, se comunicar de forma mais autêntica, desenvolver o hábito de escrever e aprender a lidar melhor com as suas emoções.

1 de fevereiro de 2021

Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo

O título deste artigo é uma frase da crônica “O gigolô das palavras” de Luis Fernando Verissimo. O trecho completo que eu queria destacar é: “Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer ‘escrever claro’ não é certo, mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, comover…)”

Mas será que isso vale para todas as circunstâncias?

Eu acredito que sim – porém com algumas ressalvas. 

1. Quem você é.

Não podemos negar que, em alguns círculos e profissões, erros de português são menos aceitáveis do que outros. É mais grave um editor, professor ou publicitário cometer erros de português do que um economista, engenheiro ou chef de cozinha. Afinal, os primeiros trabalham com as palavras, enquanto os últimos são pagos por outras competências. Por isso, errar a ortografia de uma palavra ou uma concordância “pega menos mal” se você não trabalha (diretamente) com a escrita.

2. O tipo de erro.

É fato: alguns erros de português incomodam mais do que outros. Por exemplo, veja a frase: “A maioria dos brasileiros se consideram anciosos”. Qual erro chama mais atenção? Se você é como eu, “ancioso” (um erro de ortografia) salta aos olhos mais do que o uso do plural (um erro de concordância). A sensação que eu tenho é que quanto mais comum a palavra, maior a expectativa que temos de que as pessoas não cometam erros. 

3. O contexto.

Errar o português numa conversa com amigos ou numa mensagem de whatsapp para o grupo da família é uma coisa: errar o português numa apresentação para o chefe da empresa é outra, certo? O contexto é tudo. Infelizmente, existe algo chamado “preconceito linguístico” – isto é, o julgamento cometido por “erros” ou desvios da norma culta – e num contexto mais formal e que envolva mais gente, maior a chance de você ser julgado caso cometa algum erro.

E então, o que fazer?

1. Saiba que só não erra quem não tenta. Por isso, é melhor errar (e aprender) do que deixar de fazer.

2. Leia mais. É lendo que você vai introjetando as regras da língua e, por consequência, cometendo menos erros.

3. Use o corretor ortográfico e, se necessário, o dicionário. Eu gosto do corretor do “google docs” e do dicionario (www.dicio.com.br).

4. Para textos muito importantes – apresentações, teses, relatórios – contrate um revisor. Vale a pena.

5. Perdoe-se pelos erros que comete ou já cometeu. O constrangimento é muito mais grave do que o erro e, como disse o mestre Verissimo, o importante é se comunicar.

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Está com dificuldade de seguir em frente depois de uma relação que havia muito sentimento?

Quer dar a volta por cima e resgatar o seu bem-estar emocional?

Fred Elboni 2022 — Todos os direitos reservados

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