Há uma falta que carrego comigo. Uma falta que, quando não sei o que responder, digo ser dos amores que me magoaram, dos toques que constantemente me faltam, das ocupações que abraço como minhas para me sentir importante, ou do azar que sorrateiramente julgo estar pousando no meu quintal. Mesmo sem ter um quintal para chamar de meu.

Há uma falta em mim que preencho com prazeres momentâneos. Quando invento a fome, ansiando o passar do tempo, quando uso as redes sociais acreditando que estou me divertindo, quando assisto a filmes e séries que pouco a pouco me afundam no sofá, em um tédio eterno. Prazeres pontuais, que giram o ponteiro do relógio até a hora de dormir, mas nunca sustentam a felicidade do amanhã.

Há uma falta que escondo nas incessantes horas de trabalho, nas ideias que nunca sei se realmente são boas ou não, nas amizades que já deixaram de ser amizades há anos, nas janelas que pela manhã esqueço de abrir para o ar circular, nas cobranças e metas que crio antes de dormir, nas mensagens que ficaram sem respostas, nas palavras carinhosas que desejei ouvir da minha família.

Há uma falta que já fez o bem-estar dos outros me doer, que me fez ir embora de lugares porque quis chamar atenção e não funcionou, que me fez discutir sobre assuntos sobre os quais nem tenho conhecimento, mas fingi que tinha, que me fez relacionar com pessoas com energias que não ensamblam com a minha, mas forcei o encaixe, mesmo sabendo que, ao final da história, quem morreria seria eu.

Perdido entre boas e más recordações procurei em mim o espaço preenchido pela falta. Já o achei várias vezes, mas nunca aprendi a abraçar verdadeiramente um espaço que falta. Se ele falta, como se abraça? Abraçamos o vazio? Ou abraçamos a nós mesmos?

Atar a ponta da falta e da nossa necessidade de preenchê-la é uma fantasia que gostamos de alimentar. A gente tenta preencher a falta para ocupar o tempo que teríamos que abraçar nós mesmos. E nunca é fácil ter que se abraçar, ainda mais quando sempre há uma parte que falta.