Anos atrás, uma mulher, pela qual eu era completamente apaixonado, para não dizer enfeitiçado, me perguntou por que, em vários momentos, alguns deles estranhos e sem grandes explicações, eu a observava tanto, sempre com um olhar contemplativo e admirado. E, com o sorriso mais honesto que eu pude externar naquele momento, respondi: “Pois te olhar me acalma”.

Você já olhou para alguém e sentiu que o prazer de estar perto daquela pessoa não era exatamente a paixão ou a vontade de beijá-la loucamente em qualquer esquina, mas sim a sensação de paz que ela te transmitia? Como se tudo fosse possível e sereno com aquela pessoa, pois para todas as divergências havia conversas, para todos os medos havia uma mão firme, para todas as oscilações confusas havia abraços cheios de silêncio e amor.

Com ela eu sentia que podia dividir todos os meus anseios e que receberia de volta compreensão e carinho. Me sentia com poderes nunca antes imaginados, como se todos os meus defeitos e dúvidas fossem meros detalhes, e não problemas que eu insistia em sublinhar. Eu a olhava como se estivesse diante de um lindo pôr do sol, de uma enorme queda-d’água cujo barulho alivia os pensamentos, de um campo cheio de girassóis se agitando ao vento.

Ela me ensinou, mesmo sem dizer uma palavra, que se relacionar com uma pessoa que nos incendeia com discussões e inseguranças diárias, além de cansar, nos furta o brilho, o amor perene e a paciência. Por mais febril que o amor contido nessa relação seja, por mais que ele tenha se iniciado de uma maneira única e linda.

Depois de aprender com ela quão intenso – por mais que muitos achem que a calmaria e a intensidade são ideias antagônicas – e engrandecedor um amor calmo pode ser, deixei de desejar ser a grande paixão de alguém; estou preferindo ser a serenidade, o porto seguro, o trilhar suave, o navegar em dia de sol, o toque que transcende a pele e os padrões. Amar com calma é tão mais gostoso, tão mais saudável... E muitas vezes querer, insistentemente, ser o grande amor da vida de alguém, carrega consigo muito mais vestígios de ego do que propriamente de amor.

Assim a amei por anos, sempre fazendo-a recordar que ela fora a minha paz, mesmo quando ela brincava de sumir... mas tudo bem, olhar para ela me acalmava tanto...