Hoje acordei com pouco sono e muita vontade de me apaixonar. Coisa rara, admito. Sabe aquela paixão que paira no coração e sobressai no sorriso? Que deixa de ser um olhar discreto e se torna um espirro em público? Estranho dizer, mas me apaixonar calado já não me parece tão gostoso. Diferentemente dos dias em que me declaro coração fechado, hoje quero gritar pelas ruas como quem dança os amores que viveu, passar vergonha nas paixões. Essa é a graça de estar apaixonado; evidenciar o que se sente.

Diferentemente de outros dias – e alheio aos comentários retóricos sobre como pessoas solteiras são felizes com a própria companhia –, hoje não almejo me apaixonar pela vida, pela natureza ou pelo pôr do sol. Quero me apaixonar por uma pessoa de beijos cheios de arrepios, defeitos encantadores e loucuras parecidas com as minhas. Quero me perder nos fios de cabelo e no cheiro de café pela manhã. Espero que ela goste de ovos pochê, e de beijos na nuca, perto da pia. E de viagens surpresa; vamos para a Turquia amanhã?

Enquanto alguns ainda hasteiam seu desapego, eu me disponho a viver o que o meu coração pede todo dia. Paixão louca; aquela sensação de sentir-se tão feliz que o medo lhe diz que tudo isso pode não ser real. Essa é a delícia de se apaixonar, correr o risco de se perder em meio a um sentimento que se faz recíproco. Deixemos o desapego para quem ainda acha que coração fechado faz verão.

A verdade é que há um momento na vida em que ficamos cansados de ter que descobrir as pessoas, perguntar o que fazem, do que gostam, quais são seus sonhos e sentimentos. Queremos que alguém nos desvende e, como num passe de mágica, nos faça esquecer as rotinas e os desamores. Sem nos prender em uma atração óbvia, mas no aconchego de alguém que nos faz não pensar no amanhã (ou faz).

Da falta de frio na barriga vem a fome de ser feliz. Deixemos a eternidade de um amor calmo para outro dia, hoje quero ser todo euforia. Me surpreenda, pois esse coração grita por emoções loucas, todas sem explicação.