Um dia, sem aviso-prévio, as pessoas se vão e nos deixam na lembrança suas histórias. Tanto as vividas quanto as sonhadas. E as histórias de quem se foi são a forma mais gostosa de eternizar aquela pessoa na gente.

Quando alguém querido se vai, nos deixa uma parte de si. Deixa também um pouco de solidão. E a solidão, com o tempo, se torna amiga. E assim descobrimos com as pessoas que se foram que um belo abraço e um olhar carinhoso sempre se fazem presente, e que nada verdadeiramente grande acontece sem uma parcela de amor.

Lembro-me, como se fosse ontem, do dia em que meu pai partiu. Eu não era lá um filho muito carinhoso, confesso. Ele também sempre foi um homem de poucas palavras quando o assunto era sentimentos. Mas nos bastávamos assim. Um pouco antes de partir, daquele seu jeito único, que mesclava rispidez e sinceridade, ele divagou comigo por alguns segundos. Entre olhares e lágrimas contidas, me disse da forma mais sin-cera possível que no leito de morte nós somos pessoas de verdade. Somos porque conseguimos clarear os horizontes e sentir plenamente a emoção vivida naquele instante. Não há outras preocupações além de valorizar nossos últimos momentos.

Ainda criança, olhei para ele um pouco sem chão e perguntei como iria conseguir me refazer sozinho. E, com um sorriso que eu poucas vezes havia visto, ele me disse, com os olhos cheios de lágrimas, que são belas as aves que voam sozinhas.

A verdade é que um dia, cedo ou tarde, a dor nos invade sem pedir licença. Se coloca ao nosso lado, sussurra no nosso ouvido e diz que não irá embora até conversarmos com ela. A dor engana, cria ilusão, se faz infinita. Hoje, sendo uma ave que voa sozinha, aprendi que o amor de uma pessoa que se foi, na verdade, nunca se vai. Ele fica. Nas histórias, na saudade e na esperança certeira de ela estar sempre torcendo por nós.

Em dias de tristeza profunda por algumas pessoas perdidas, a gente aprende que a vida não passa de uma oportunidade de infinitos encontros e desencontros. Encontrar quem a gente ama, nos doar inteiramente e saber que, mesmo não parecendo, isso foi suficiente.

A saudade sempre grita. Mas a certeza do coração diz a ela que um dia a gente vai descobrir que, como disse Schopenhauer, “o amor é a compensação da morte”. Então, que sejamos capazes de valorizar e compreender mais as pessoas, pois todo coração pede, implora, uma oportunidade de deixar seu amor eterno na gente.