10 de janeiro de 2021

Sua solidão é parecida com a minha?

Não é porque, em muitos momentos da minha vida, me deparo sozinho fisicamente que me sinto uma pessoa solitária. Na verdade, tenho mais amigos do que julgo merecer, pois não consigo desfrutar deles como gostaria. A verdade é que eu gosto e preciso de momentos a sós. E não me sinto solitário por conta disso.

Sentir-se solitário não é sobre ter poucas ou muitas pessoas ao seu lado. Há pessoas rodeadas de gente – família, amigos, colegas – que se sentem internamente solitárias. Na verdade, sentir-se solitário não é sobre “ser” ou “estar” solitário, mas sobre o sentimento interno de isolamento. Não há uma regra para definir se alguma pessoa é de fato solitária ou não, mas, sim, se ela se sente solitária ou não. Há pessoas que estão sozinhas em busca de si, que passam grande parte do dia sem nenhuma companhia, e não carregam consigo essa sensação de estar solitário. Ao contrário, se sentem abraçadas pelo mundo e pelas experiências; elas se sentem preenchidas pela conexão que têm consigo mesmo.

A meu ver, a sensação de sentir-se solitário neste mundo tem muito mais a ver com a conexão que conseguimos ter com nós mesmos do que com a quantidade de pessoas que estão perto de nós. Estar rodeado de pessoas que não respeitam e não entendem as inclinações do que desejamos ou sonhamos nos gera uma constante sensação de estar solitário. O que adianta estar rodeado de pessoas que não conseguem observar o que há por dentro do que somos, da persona que criamos para nos proteger?

Gostar da própria companhia e fazer dela um encontro bonito consigo não significa escassez em encontro com outras pessoas, somente um equilíbrio entre a necessidade de encontro e a necessidade de recolhimento. Já ouvi diversas vezes que a solidão pode parecer fuga ou que poderia soar como um movimento arrogante, como se ninguém merecesse desfrutar da sua companhia. Não sinto desta forma. Ficar a sós com meus pensamentos – volta e meia turbulentos e catárticos, volta e meia mansos e tediosos – me traz uma paz que poucas vezes sinto fora do ninho em que recarrego minhas energias. Preencher o espaço físico é diferente de preencher a alma; e nem sempre o abraço de quem nos ama genuinamente nos compreende e nos aceita.

18 de dezembro de 2020

Às vezes um carinho cai tão bem…

Me observando agora, neste instante, percebo como tenho uma eterna mania de colocar sentimento em tudo o que escrevo. Não que isso seja de todo ruim, longe disso. Mas é que nem sempre as emoções que me habitam são belas e frutíferas. Na maioria das vezes, são confusas e cheias de espinhos; ainda desconheço lindas flores que não carregam seus espinhos.

Ultimamente não tenho recebido muito carinho do mundo, das pessoas que me rodeiam, de mim para mim mesmo. Estou me sentindo sozinho. Na multidão. Nos minutos antes de dormir. Em vidas que tinham tudo para se encontrar. Nos filmes a que assisto e sobre os quais gostaria de dividir minhas opiniões loucas com alguém. Nas mensagens que envio e nem anseio mais respostas. Nos corações que me prometem sol, mas não me garantem um verão por inteiro.

É engraçado como digo ser refém da solidão, mas raramente dou continuidade a amores que não queiram construir uma história. Pessoas lindas por dentro e por fora me surgem a cada esquina, mas pessoas que queiram construir beleza... ah, essas são poucas! Vivo e durmo de peito aberto com a solidão, pois, assim decido todas as noites. Infelizmente, não sinto o mesmo prazer com beijos sem sobrenome, e de vazios já restam os cômodos do meu coração.

Em tempos em que se prega tanto um desapego heroico, e em que pessoas vêm sofrendo e gastando energia em quedas de braço constantes contra qualquer manifestação que possa ser contrária às suas convicções, admito que sinto falta de um beijo carinhoso, de uma mão amiga, de conversas encharcadas de interesse nos mínimos detalhes da vida. Encontrar alguém que se interesse pelos nossos sonhos, pelas brincadeiras que fazemos ao acordar ou pela maneira como rimos dos nossos sofrimentos, hoje é uma raridade.

Na minha saudade cabem lembranças que os lembrados talvez já tenham esquecido. Na verdade, todo os detalhes líricos da minha vida se desenham dessa forma: beijos cheios de saudades e saudades com tão poucos beijos. Agora, perto daquele abajur da sala da minha casa que sempre me faz refletir, me sinto um ímã das minhas saudades. Tenho boas lembranças dos carinhos que nunca mais me fizeram. Sendo porto de toda vontade de viver um amor que, como se fosse fácil, só me fizesse bem, estou me sentindo muito solitário. Triste, mas com sabor de vida real. Por opção, faço da solidão a minha companhia, pois, sendo calada, ela não me traz a alegria que me faz suspirar, mas também não me faz testar a profundidade do poço.

Sem saber o que nos resta de amanhã, os problemas me atropelam no hoje. Abreviando as minhas tristezas em sorrisos que distribuo durante o dia, finjo que estou bem, mas sei que, vivendo nessa constante solidão, nessa atmosfera pesada, cada dia me afundo mais em mim...

E, como dizia Caetano: às vezes um carinho cai tão bem.

PS: Na verdade, o “tão” foi licença poética minha, lido com tantos advérbios de intensidade em meu coração que mais um me pareceu harmônico.

Está com dificuldade de seguir em frente depois de uma relação que havia muito sentimento?

Quer dar a volta por cima e resgatar o seu bem-estar emocional?

Fred Elboni 2022 — Todos os direitos reservados