2 de maio de 2021

Saudade é prova da capacidade de amar

Eu adoro ouvir músicas calmas, pois elas têm o poder de me transportar para acontecimentos do passado, amores antigos, histórias que gostei de viver. Quando estou com minhas músicas prediletas, deixo a saudade fluir por meus poros, como se ela pudesse resgatar e trazer de volta para o presente tudo de que estou sentindo falta. Meio masoquista, eu? É, também acho, mas o que fazer se convivo com tantos sentimentos confusos e espinhosos dentro de mim?

Honestamente, a saudade desperta em mim uma grande imaturidade. Eu me sinto perdido, não sei muito bem o que fazer e, no impulso, tomo atitudes das quais me envergonharia em meus momentos de sensatez. Mesmo sabendo que vou me entristecer, procuro mensagens antigas que trocava com pessoas amadas e as leio vagarosamente, relembrando como éramos carinhosos. Faço ligações em noites em que a caixa postal é uma visitante inconveniente entre as chamadas não atendidas. Deleto fotos (todas elas), com a segurança de quem sabe que amanhã, caso eu me arrependa, elas ainda estarão na lixeira. Assim, furto os sinais e os sintomas, e brinco de manter esperanças tolas.

Mas, e quando a saudade aperta demais, o que a gente faz? Chora, grita, se esconde, corre atrás do tempo perdido, divide as angústias com alguém que finge nos compreender, vai ao parque sozinho, vai ao cinema sozinho ou simplesmente dorme e torce para o tempo ser uma boa amizade. Podemos fazer qualquer coisa com a saudade, até saná-la com doces cobertos de chocolate, mas nunca fingir que nada está acontecendo, já que isso seria um desrespeito com nossa capacidade de amar.

A saudade brinca de doer e, injustamente, tira para dançar quem nunca ensaiou o adeus. Ela é uma lembrança de que houve amor, seguida de dores que transportam a alma para um passado bonito, mas distante. Sentir saudade é perceber que alguém deixou em nós mais de si do que poderíamos suportar. Por outro lado, quem nunca morreu de saudade nunca morreu de amor. E tem coisa mais gostosa do que dizer a você mesmo que já morreu de amor?

Amar de verdade é um encontro lindo com a vida. É como se, mesmo que com um pouco de tristeza, você soubesse que viveu seus momentos com entrega. Definir a saudade em palavras é fácil e até bonito. Difícil é conviver com a dor que ela traz. Mas aí a gente sempre tem as músicas calmas para ajudar.

18 de dezembro de 2020

Às vezes um carinho cai tão bem…

Me observando agora, neste instante, percebo como tenho uma eterna mania de colocar sentimento em tudo o que escrevo. Não que isso seja de todo ruim, longe disso. Mas é que nem sempre as emoções que me habitam são belas e frutíferas. Na maioria das vezes, são confusas e cheias de espinhos; ainda desconheço lindas flores que não carregam seus espinhos.

Ultimamente não tenho recebido muito carinho do mundo, das pessoas que me rodeiam, de mim para mim mesmo. Estou me sentindo sozinho. Na multidão. Nos minutos antes de dormir. Em vidas que tinham tudo para se encontrar. Nos filmes a que assisto e sobre os quais gostaria de dividir minhas opiniões loucas com alguém. Nas mensagens que envio e nem anseio mais respostas. Nos corações que me prometem sol, mas não me garantem um verão por inteiro.

É engraçado como digo ser refém da solidão, mas raramente dou continuidade a amores que não queiram construir uma história. Pessoas lindas por dentro e por fora me surgem a cada esquina, mas pessoas que queiram construir beleza... ah, essas são poucas! Vivo e durmo de peito aberto com a solidão, pois, assim decido todas as noites. Infelizmente, não sinto o mesmo prazer com beijos sem sobrenome, e de vazios já restam os cômodos do meu coração.

Em tempos em que se prega tanto um desapego heroico, e em que pessoas vêm sofrendo e gastando energia em quedas de braço constantes contra qualquer manifestação que possa ser contrária às suas convicções, admito que sinto falta de um beijo carinhoso, de uma mão amiga, de conversas encharcadas de interesse nos mínimos detalhes da vida. Encontrar alguém que se interesse pelos nossos sonhos, pelas brincadeiras que fazemos ao acordar ou pela maneira como rimos dos nossos sofrimentos, hoje é uma raridade.

Na minha saudade cabem lembranças que os lembrados talvez já tenham esquecido. Na verdade, todo os detalhes líricos da minha vida se desenham dessa forma: beijos cheios de saudades e saudades com tão poucos beijos. Agora, perto daquele abajur da sala da minha casa que sempre me faz refletir, me sinto um ímã das minhas saudades. Tenho boas lembranças dos carinhos que nunca mais me fizeram. Sendo porto de toda vontade de viver um amor que, como se fosse fácil, só me fizesse bem, estou me sentindo muito solitário. Triste, mas com sabor de vida real. Por opção, faço da solidão a minha companhia, pois, sendo calada, ela não me traz a alegria que me faz suspirar, mas também não me faz testar a profundidade do poço.

Sem saber o que nos resta de amanhã, os problemas me atropelam no hoje. Abreviando as minhas tristezas em sorrisos que distribuo durante o dia, finjo que estou bem, mas sei que, vivendo nessa constante solidão, nessa atmosfera pesada, cada dia me afundo mais em mim...

E, como dizia Caetano: às vezes um carinho cai tão bem.

PS: Na verdade, o “tão” foi licença poética minha, lido com tantos advérbios de intensidade em meu coração que mais um me pareceu harmônico.

Está com dificuldade de seguir em frente depois de uma relação que havia muito sentimento?

Quer dar a volta por cima e resgatar o seu bem-estar emocional?

Fred Elboni 2022 — Todos os direitos reservados

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