Na ansiedade de contar as palavras bonitas que habitam em mim, me afundo em declarações que não são proporcionais ao tempo que nos conhecemos. Três dias é muito rápido? Mas são setenta e duas horas. Não te parece tempo suficiente? Mesmo já tendo lido muitos livros e visto filmes românticos, nunca descobri quantas horas precisamos para falar o quão feliz alguém nos faz sem parecermos desesperados. Até porque todo apaixonado em essência é um desesperado.
Ciente que a minha pressa de ser feliz é mais acalorada que a dela, pego os meus papéis e faço cálculos inimagináveis para saber quantos dias são necessários para falar o que sinto sem parecer louco. Confesso que me sinto engraçado ao ter cautela em flertar com a loucura, pois nunca me importei em parecer louco, mas o que está em jogo não é somente estar apaixonado e parecer louco, mas também ouvir o suave canto da reciprocidade.
Fato é que nunca fui bom em lidar com os grandes sentimentos. Eles me trazem uma ansiedade parecida com a que os aviões trazem às pessoas; posso confiar que esses enormes sentimentos realmente conseguem voar? Há tempos não abria o meu orquidário emocional para visitação, e isso me faz suspirar de saudade. Saudade de alçar voos em dias bonitos, até mesmo nos nublados. Embora tenha comigo grandes tristezas e arrependimentos, nunca irei me distanciar dos meus coloridos pessoais: a minha capacidade de me apaixonar. Ela ainda me é tão valiosa.
Se sou fantasia, e sei que nela o coração é terra preciosa, não posso me furtar de contar tudo o que sinto. Contar os meus sentimentos são loucuras de quem se apaixonou por um silêncio, mas quer tanto ouvir o canto da reciprocidade. E convenhamos, ouvir reciprocidade no canto louco dos apaixonados é uma sensação que nunca deveríamos desistir de sentir.