Às vezes, fico pensando: O que estou esperando para sumir, para juntar meus pedaços de coragem e deixar de ser somente uma paisagem bonita de se ver? Não estou me referindo à coragem que vem de supetão pela madrugada, e sim àquela que inspira, cria mundos e nos provoca antes de dormir. Para ousar voar pelos céus que se deseja, é necessário dormir com coragem e acordar com ousadia. Se não for assim, é uma injustiça com nossos sonhos.

Dia desses percebi que eu precisava de um pouco mais do mundo nas minhas emoções, nas minhas vivências. Para alguns, talvez isso seja coisa de gente insana, perdida no mundo. Para mim, é coisa de gente que se preenche com experiências, sorrisos e picolés de limão.

Sinceramente, cansei de trabalhar na rotina desse amanhã com gosto de café e mais do mesmo. Cansei de ouvir tantas regras de pessoas que não me acolhem da forma que eu desejo. A verdade é que percebi que não há como ganhar o mundo sem, de fato, perder o meu precioso mundinho.

E o que seria ganhar o mundo? Não é só ganhar dinheiro ou ir a festas que todo ano mudam de nome, mas sentir também admiração pelas minhas atitudes, pelos meus amores – sejam eles livros, países ou pessoas. É olhar no espelho e, sem receio, ter certeza de que me enfrentei. Ganhar o mundo é ganhar corações, experiências, histórias, e também perder muita coisa para, um dia, quem sabe, valorizá-las.

Viajar pelo mundo, fazer uma faculdade longe de casa, enfrentar uma cultura que não gosta de brigadeiro nem de abraços não é um sonho de final de semana ou um dinheiro que está sobrando na conta corrente e, por sorte e tempo disponível, nos faz decidir sair do país. Como uma linda mulher de cabelos curtos, é um estado de espírito, em que a gente coloca o coração cheio de amor na mochila e sai por aí ignorando o que os outros falam. Até porque o que os outros falam é só o que os outros falam – e os outros sempre falam muito.

Chega uma idade que, mesmo amando trabalho e família, a gente se questiona quem é, o que construiu e para onde vai – perguntas básicas, mas bem complicadas. Qual é meu hobby? No que realmente sou bom? Qual é meu papel no mundo? Será que esse amor que tanto espero um dia virá? O que quero daqui para a frente?

Questionar-se sem tomar uma atitude para encontrar as respostas é acreditar em algo fácil demais, infantil demais, para ser chamado de coragem. E coragem, convenhamos, é coisa de gente grande.

Estou querendo sumir, essa é a verdade, o que não significa me esconder do mundo ou das pessoas que me rodeiam. Não quero fugir dos problemas, das obrigações ou dos amores que me magoaram e por ali ficaram, mas sim me encontrar em um mundo que ainda não vivi, para tentar descobrir por que preciso de tantos pré-requisitos para ser feliz.

Se eu tenho medo? Todo santo dia. Se eu acho que deveria ficar quieto por aqui mesmo, sem me questionar tanto, pois largar a segurança é algo dolorido e amargo demais? Duas vezes, todo santo dia. Mas, todo santo dia, quando acordo, também me pergunto se a vida é só isso mesmo. Felizmente, acho que não.

Não sei bem, mas seja o que for, não pode ser somente essa busca incessante por um bom trabalho e uma casa com abajures coloridos. Mesmo que, no auge da minha maturidade, eu adore abajures coloridos.