Ela partiu tão cedo. Não tive oportunidade de falar tudo o que diariamente sinto vontade de dizer. Fiz como as crianças e disse, sobretudo, as palavras que senti que ela gostaria de ouvir. Aprender uma palavra e repeti-la, diversas vezes, somente para ensaiar a reação dos adultos sempre foi uma provocação minha. Eu disse que a amava, que sentiria sua falta eternamente, que não aceitaria a distância em hipótese alguma, mas gostaria de poder dizer tudo isso de novo. E de novo. Disse tantas coisas, sem perceber que só o futuro revelaria o que realmente precisava ser dito.

Antes do anoitecer, falo que a amo profundamente, por mais que o silêncio seja a única resposta. Imagino-a respondendo; sinto o tom da voz caminhando do quarto até a sala, mas a fantasia não abraça quente como a realidade. As palavras saem da minha boca, mas não voltam aos meus ouvidos, por mais que eu induza a minha imaginação a acreditar que sim. A verdade é um buraco escuro. Falar sozinho sobre a minha saudade, fantasiando reciprocidade, é uma loucura que me salva da desesperança profunda.

Um dia, sentados a uma almofada de distância, perguntei – ansiando uma promessa – se um dia ela ousaria me deixar. E ela me prometeu, com aqueles olhos que não desviam quando demonstram amor, que nunca me deixaria. E eu acreditei. Sei que devemos perdoar as promessas que são interrompidas pelo adeus, mas não consigo me perdoar, por mais que eu não seja culpado de nada. Como posso carregar em mim a culpa do adeus de quem não pode escolher ficar?

Ela foi cedo demais; cedo a ponto de não me dizer por que não me preparou para o adeus. Todo amor deveria vir com uma cartilha de despedida explicando o que devemos fazer quando quem amamos parte para o desconhecido. Aprender a viver depois que o amor partiu é um mistério cruel demais para ser desvendado enquanto juntamos os cacos de um coração partido.

Hoje sei que não há tristeza que sussurre de forma tão aguda como a tristeza do adeus. E por mais que haja um adeus entre os nossos corações, reconheço que amei justamente por não saber a dor do amor partido. Se soubesse, não teria amado tanto.