Desde o dia em que nascemos, somos comparados aos outros. Somos mais parecidos com o nosso pai ou com a nossa mãe? Mais calmos ou mais bagunceiros que a irmã ou o primo? Aprendemos a andar antes ou depois do filho da vizinha? Na escola, somos mais ou menos inteligentes, atléticos, bonitos, sociáveis...? A lista de características dignas de comparação só aumenta com o tempo e permeia todas as esferas da vida.

Por um lado, isso é inevitável, porque existimos em sociedade, operamos na coletividade. Como posso saber se sou legal, se não me comparo com a minha definição de uma pessoa legal? A gente só existe como se imagina (legal, engraçado, chato, inteligente, ansioso) porque tem outras pessoas como referencial. O problema é quando a comparação deixa de ser uma ferramenta de autoconsciência e passa a ser uma atitude que nos aprisiona e nos faz sofrer. Se não tivermos cuidado, a mania de nos compararmos com os outros passa a ser uma forma muito cruel de definir o nosso valor na sociedade.

Com o tempo, internalizamos não só os rótulos que colocaram em nós como também a prática de ficar nos comparando com todo mundo a qualquer momento. Fazemos isso com marcadores externos de sucesso (corpo, dinheiro, vida social) e com assuntos muito mais íntimos e importantes (sonhos, relacionamentos, felicidade).

Em geral, usamos a comparação para nos sentirmos mal, como se isso nos motivasse a melhorar ou nos punisse por nossas falhas. Mas comparar as nossas mágoas mais íntimas com as alegrias expostas dos outros é uma punição descabida, uma atitude cruel com tudo que construímos com nossas próprias mãos. Não importa se erramos ou falhamos, se deixamos a desejar ou deixamos a oportunidade passar, não mudaremos o desfecho dos acontecimentos nos comparando com quem fez ou teria feito diferente.

Às vezes, sem nos darmos conta, esse hábito nos leva a uma espiral de negatividade e vamos parar num poço muito profundo. No fundo desse poço, vemos o reflexo de uma pessoa que não é suficientemente bonita / bem-sucedida / (preencha com o adjetivo da sua escolha), porque não é como Fulana ou como ela própria era num outro momento da vida. Como se não bastasse, além de nos compararmos com modelos, famosos, amigos e inimigos, também nos comparamos com o nosso “eu” do passado!

Ocasionalmente, também usamos a comparação para nos sentirmos melhor. Não sabemos por que uma pessoa é de tal jeito (que menosprezamos) ou agiu de tal forma (que consideramos errada), mas uma coisa é certa: julgá-la traz uma sensação reconfortante de superioridade. Falo daquele leve prazer que sentimos quando criticamos e julgamos alguém que consideramos, por qualquer motivo (moral, estético, social), inferior a nós. Mas, antes de se sentir culpado por essa atitude nada louvável, pense: se a maioria de nós faz isso em algum momento, é porque o ser humano não sabe se valorizar sem comparar.

A prática de medir nosso valor por meio de comparações é um hábito cultivado durante toda a vida. É natural, porém não se trata de algo positivo. Cada minuto passado numa comparação – boa ou ruim, para nos punir ou nos confortar – rouba uma energia que poderíamos direcionar para atividades mais importantes e interessantes. Por isso, vale a pena se precaver contra esse ladrão de felicidade e não permitir que ele leve o que você tem de maior valor: sua capacidade de (se) amar.