Chega um dia em nossas vidas que a gente cansa de beijar bocas que conversam somente com a nossa boca. Queremos uma boca, um beijo, que palavreie com o nosso corpo inteiro, com o nosso interior, mas, principalmente, com a nossa maneira de observar a vida. Queremos beijos que transcendam boas energias e pessoas em que o convívio tenha leveza o suficiente para dividirmos as notícias do mundo e do coração, sem antever um olhar crivo e cheio de ressentimentos. Queremos conviver com alguém alegre por perto, que reclame menos e elogie mais, que flerte com os traumas e com a vida, e que, por favor, distribua mais amor e menos opiniões.
A verdade é que hoje não consigo mais me relacionar com quem não me transmite boas e, sobretudo, sinceras energias. Nem por uma noite, nem por um encontro. Muitas vezes ao deitar a minha cabeça no travesseiro e brincar de reler as histórias em que morri ao final, me questionei como consegui deixar almas tão pesadas deitarem na minha cama. E não que seja culpa delas, até porque, provavelmente, elas nem devem sentir o peso que carregam. Mas quando nos falta sensibilidade ou paciência para ouvi-la, costumamos nos abrir, e nos entregar, a pessoas que depois nos perguntamos o porquê dessa escolha tão desconexa.
Acontece que uma pessoa sensível, não é necessariamente uma pessoa sentimental. Uma pessoa sensível carrega em suas qualidades um reino de compreensão, paciência e silêncio. No geral, são pessoas que valorizam seus momentos sozinhos, que tem consigo empatia e não acreditam em verdades absolutas; na verdade, morrem de medo delas. São pessoas, quando seguras de si, que não dividem suas intimidades com o mundo, guardam para si. A sensibilidade quando apurada antevê situações, seleciona melhor os amores, as entregas e não cobra perfeição de ninguém. Ela valoriza os momentos e as pessoas, tem consigo beijo na testa quando necessário, mas também está cheia de putaria na escada de incêndio do prédio. Ela é como um anjo da guarda, um sexto sentido, que nos faz crer em um mundo menos egoísta; no amor e no sexo.
Então, no profundo mar da idade, a gente aprende – nem todos, infelizmente – a querer pessoas mais sensíveis ao nosso lado, seja por uma noite ou por uma esperança de eternidade. E não se preocupem, com o tempo as trocas ficam cada vez mais raras mesmo. A gente se questiona mais, fica mais plural e aumenta os pré-requisitos para dividir o que somos. Mas não podemos nos nivelar por baixo e aceitar situações, amores, relações, amorosas ou não, que não exalam mais a sensibilidade que a gente precisa, até porque ela é única exigência de quem quer amar com paz e sinceridade.