Por mais que eu não transpareça, carrego comigo todas as dúvidas do mundo. Não minto sobre as dúvidas que habitam em mim, mas evito demonstrá-las a quem tanto precisa do meu olhar firme. Você pode estar se perguntando: mas, então, a quem você demonstra as suas dúvidas? Compartilho-as com quem se dispõe a também ser a minha certeza; sempre temos alguém com quem podemos ser dúvida e alguém com quem precisamos ser certeza.
Percebo as minhas dúvidas como fontes coloridas, dançantes, por isso sinto alegria em tê-las, pois, para mim, são reflexos de amplidão e não de confusão. Elas flutuam em mim e mostram a pluralidade do mundo. Elas não precisam ser tristes, muito menos pairarem sobre um ar contraproducente. Elas podem ser um jardim de possibilidades, uma enorme vontade de florescer, não necessariamente um eterno receio de desabrochar. Por que alimentar nossas dúvidas de pensamentos ruins se podemos alimentá-las de sentimentos acolhedores?
Por um lado, as dúvidas podem ser um carrossel de indecisões; por outro, um mar de possibilidades. As dúvidas existem em mim, mas não me definem nem me paralizam. Eu as tenho comigo, no meu interno, pois talvez elas se sintam confortáveis em estar por aqui, porém não é porque carrego dúvidas no meu pensar que também preciso carregar dúvidas no meu agir.
Podemos ter dúvidas, mas elas não precisam ser um freio motor das nossas ações, mas um olhar desafogado da situação. Quando digo que amo, não tenho certeza da reciprocidade, mas sim do que sinto. As dúvidas sobre a resposta que terei me invadem, me torturam, mas a certeza do meu movimento faz as dúvidas serem paisagem de todo aquele sentir.
Elas nunca deixarão de vir, mas posso fazer com que sejam minhas livres companheiras. São insistentes, mas doces, caso observadas com carinho e paciência. E, nessa insistente companhia, deixarão pouco a pouco de serem dúvidas escandalosas para se tornaram certezas silenciosas.