Um olhar triste nunca me afastou de ninguém. Impulsionado por uma sensibilidade que incansavelmente sussurrava no meu ouvido, sempre me aproximei dos que contavam histórias pelos olhares. Todos têm uma história para contar, uma canção que têm vergonha de se identificar ou um choro que esconderam no banheiro. Por maior que seja o embarque do sofrimento, nunca deveriam ter medo de contá-las ou ouví-las, pois, não importa quem tenha sido o vilão ou o mocinho, as histórias são o que são.
As tristezas acontecem, porém, nós as vestimos de formas diferentes. Toda tristeza pode ser uma armadura impenetrável ou uma veste bonita, um muro alto ou uma ponte florida. Elas surgem, pingam em nossas mãos e cabe a nós definir o que faremos com elas. São partes nossas, mas que não podem ditar o nosso olhar sob a vida, até porque carregar tristezas consigo não faz de ninguém uma pessoa triste.
Se existem marcas na pele, por que também não haveriam marcas na alma? Se separamos tempo para celebrar as alegrias, precisamos também separar tempo para chorar. Se fugimos das lágrimas, também fugimos dos aprendizados. E um sofrimento nunca pode ser um aprendizado em vão.
Precisamos ter algo que chora dentro de nós. Uma parte disforme que também precisa sair, respirar, nadar em si. Se você deixa as suas alegrias passearem ao sol, desfilarem frente aos desconhecidos, onde as tuas tristezas se encontram? Não é porque você não as considera tão belas que não precisem do mesmo olhar admirado que você tem das alegrias. Focar no porquê da tristeza ou julgá-la como indesejável é não aceitá-la como ela é. E toda tristeza é um filho que devemos amar, seja como ele for.