Eu sou daquelas pessoas que amam com intensidade. Na verdade, sou daquelas pessoas que falam, torcem, riem, pulam, choram e, algumas vezes, bebem cerveja, ou, em casos mais extremos, doses de gin, com toda a intensidade do mundo. A sensação permanente de que o mundo poderia acabar amanhã nasceu comigo, faz parte de mim, e, honestamente, espero nunca ter que contar quantas vezes já ouvi a frase: “Calma, o mundo não vai acabar amanhã”. Eu tento controlar essa sensação, mas muitas vezes é ela quem me possui, ela é cheia de vontades próprias. Nunca consegui viver com moderação, talvez por isso fale tanto que a vida é uma eterna busca pelo meio-termo, para ver se aprendo.
Se há uma área da vida em que transbordo intensidade, é, sem dúvida, no amor. O pior é que eu sou fascinado por essa sensação de pré-morte que sinto ao amar. E, pasmem, nunca morri! Na verdade, eu não amo ou gosto de alguém apenas, eu mergulho nas profundezas do amor, me perco nas alturas e – preciso admitir – já até desenhei corações no vidro embaçado do carro.
Quando por alguma eventualidade o amor acaba, sofro, canto músicas tristes a plenos pulmões, sento no chuveiro e deixo os pingos d’água desenharem a saudade no meu corpo e fico pensando onde foi que nos perdemos. Carrego comigo todo o drama do mundo e, felizmente, sei sofrer com muita autenticidade.
Lembro-me muito bem do meu primeiro amor, principalmente da intensidade que depositei naquela relação. Era a primeira pessoa pela qual eu havia sentido algo diferente, singular, único. Éramos dois jovens vivendo uma entrega desmedida, uma experiência, para ambos, de primeira viagem. E o primeiro amor é sempre um cristalino tubo de ensaio. Protegidos atrás da nossa ingenuidade, rimos de muitas bobagens, nos beijamos em lugares que os adultos diziam ser proibido, nos descobrimos como homem e mulher, sexual e emocionalmente falando, e nos amamos de forma genuína. Por outro lado, por causa da nossa inocência, cometemos alguns desacertos com nós mesmos, mas somente anos depois percebemos que não erramos por falta de amor, mas sim por não termos amado antes. E eu nunca abriria mão dessa experiência, mesmo sabendo quanto eu sofreria depois.
Às vezes, o amor surge como uma possibilidade em mil, e eu nunca o deixaria passar, por mais breve ou incompreensível que ele pareça ser. Não importa quanto ele dure – um mês, um ano ou a eternidade –, eu nunca ousaria perder o frio na barriga pelo receio do possível apertar do coração. O tempo galga, e eu ainda não sei o que fazer com toda essa intensidade que carrego comigo. Sei que ela pode me matar ou me fazer sofrer profundamente, mas nunca, nunca me fará desacreditar no amor.