Nasci com uma ansiedade crônica, uma sensação de que o mundo, a qualquer instante, pode me rejeitar. Como se as pessoas estivessem esperando uma oportunidade para me dizer que não sou bem-vindo. Eu me lembro de ocasiões em que tive uma enorme vontade de fazer convites sinceros a paixões avassaladoras, mas não fiz pois imaginava que nunca seria correspondido. Deixei de contar histórias bonitas por medo de não receber olhares atentos de volta. Não compartilhei ideias com receio de serem negadas, sem direito a defesa. Por medo de uma rejeição imaginária, sem justificativa, me coloquei em uma prisão que eu mesmo criei.
Demorei para perceber e aceitar que me aprisionei no meu silêncio para tentar me proteger das possíveis rejeições do mundo, mas, dentro daquela jaula ilusória e silenciosa, quem estava me rejeitando era eu mesmo. É como se, com medo de ser empurrado de um precipício diretamente para as profundezas do mar, eu me jogasse antes para me “proteger”. Mas quem disse que alguém realmente iria me jogar no mar? O meu medo disse, foi ele...
O que nos protege do exterior é também o que nos impossibilita acessá-lo. Se o medo da rejeição nos impede de enfiar os pés no mar para sentir a temperatura da água, como vamos nos recordar da delícia que é um mergulho que lava a alma? Talvez eu precise aceitar que o medo da rejeição é um algoz ainda pior do que a dor da rejeição. Já fui rejeitado algumas vezes, mas com muito mais frequência tive medo de ser.